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Emoção e reflexão marcam a abertura da II Semana Negra do APUBH

Cerimônia de abertura contou com homenagens póstumas ao Professor Tomaz Aroldo, primeiro e único reitor negro da UFMG

Abertura da II Semana Negra do APUBH, nesta terça-feira (03/11).

A 2ª edição da Semana Negra do APUBH marca a presença do sindicato nas celebrações do Novembro Negro.A programação começou nesta terça-feira (03/11) e segue até sexta-feira (06/11), contando com mesas redondas, exibição de vídeo e atividade cultural. As atividades são transmitidas ao vivo e continuarão disponíveis para serem acessadas posteriormente, no Canal do APUBH no Youtube.Nesta edição, o evento propõe a reflexão sobre a presença de negros e negras na universidade pública. A Semana Negra traz ainda uma homenagemao ex-reitor da UFMG Tomaz Aroldo Mota Santos, falecido no dia 18 de junho deste ano. O professor Tomaz foi o primeiro e único reitor negro da universidade e um dos fundadores do APUBH.

A abertura da II Segunda Semana Negra foi conduzida pela professora Analise de Jesus da Silva, 1ª vice-presidenta do APUBH. Sobre a programação, ela reforçou a importância desta construção coletiva do sindicato para abordar a questão racial no Brasil. “Não consideramos que discutir questões raciais seja uma cortina de fumaça, uma vez que a imensa maioria – e isso não é pleonasmo, é constatação – do povo trabalhador, do povo expropriado e explorado, do povo a quem é negado educação, saúde, moradia e lazer, neste país, é negro”, explicou a docente da FaE/UFMG.

A professora apontou ainda que a realização do evento torna-se ainda mais significativa, neste ano em que mais de 160 mil pessoas perderam as suas vidas, “em decorrência da irresponsabilidade com que nossos governantes negligenciaram o combate à Covid-19 e implantaram, intencionalmente, na nossa avaliação, uma necropolítica”. “Nesse ano, nós precisamos de alento, precisamos de presenças, de lembranças e de momentos, como os que pretendemos ter ao longo desta semana, para nos fortalecer, de maneira a que consigamos esperançar”, definiu.

Assista à cerimônia de abertura na íntegra: https://youtu.be/BiGPcvpEQps

“Tomaz teve uma vida plena, só não precisava ir tão cedo”

A palavra foi passada para Yara Maria Frizzera Santos, viúva do professor Tomaz, que representou a família do homenageado.  “Todos que conheceram o Tomaz, como amigo, companheiro, colega, professor, dirigente, universitário, cientista, lembram dele como uma pessoa doce, tranqüila e tolerante”, lembrou ela. “Eu quero ressaltar que esse jeito do Tomaz era ele em casa, um pai presente, amoroso, com os filhos e com os netos. Hoje, tenho certeza que foi e será um exemplo para a vida de todos eles”, afirmou. Ela concluiu, emocionada, afirmando que “Tomaz faz muita falta. Eu sinto a sua presença a toda hora e em todo lugar. O que preenche essa saudade que não passa são as lembranças e as certezas de que tive o privilégio de conviver com ele, durante mais de nossas vidas. Tomaz teve uma vida plena, só não precisava ir tão cedo”.

“Eu, particularmente, aprendi muito com ele [Professor Tomaz]”

O SINDIFES foi representado por Wellington Marçal de Carvalho, bibliotecário da Escola de Veterinária da UFMG.  Ele lembrou que o professor Tomaz teve participação em pautas importantes para a categoria dos técnico-administrativos. O ex-reitor integrou, por exemplo, ainda segundo o TAE, a comissão de interlocução entre o comando de greve e o reitorado, durante a greve da categoria pela jornada de 30 horas. O bibliotecário lembrou que o professor Tomaz “era simples, cordato, militante de esquerda, presente em movimentos sociais pela Democracia, luta em defesa da educação pública e, principalmente, da universidade.Eu, particularmente, aprendi muito com ele”.

“É necessário que discutamos o racismo cada vez mais e em todos os âmbitos”

O estudante Caique Belchior, integrante do DCE/UFMG, apontou a relevância da construção desta Semana Negra, em meio a uma pandemia. Ainda segundo ele, as inúmeras perdas de vidas no país, que em sua maioria são de negras e negros, refletema negligência do Estado, que é fruto de que um histórico racista. “É necessário que discutamos o racismo cada vez mais e em todos os âmbitos. E no âmbito dos estudantes e dos professores universitários não é diferente”, afirmou. O estudante do curso de Psicologia observouque a Universidade vem sendo transformada, com a maior presença de estudantes negros. Presença esta que para ele deve ser motivo de luta para ser ampliada também entre professores e pós-graduandos.  “A nossa luta continua. Nós avançamos muito, com os movimentos sociais, sindicais e estudantis, mas ainda temos muito a avançar”, pontuou.

“Neste momento de pandemia, ficou explícito o fato do racismo ser algo estrutural”

A presidenta do APUBH, professora Maria Rosaria Barbato, lembrou que a Semana Negra é o evento da atual gestão do Sindicato.  Um evento muito oportuno, ainda na opinião dela, pois abre espaço para temas que devem ser discutidos pela sociedade. A professora aproveitou a oportunidade para fazer a sua homenagem e agradecimento ao ex-reitor Tomaz Aroldo, que durante sua gestão criou a Rede Negritude. Ela recordou dele como um “grande defensor da inclusão, que induziu mudanças, fazendo um importante trabalho, com suas ideias, com seu próprio corpo e seu ser”. “Além de ser querido por todos, um homem generoso, compreensivo e, com certeza, muito inspirador”, completou.

A professora Marisa pontuou que “acontecimentos deste ano foram extremamente significativos em torno da questão racial”. Ela recordou, por exemplo, do movimento “Vidas Negras Importam”, que teve como estopim o caso de abuso policial nos EUA, que levou à morte de George Floyd.“Além disso, temos no Brasil um presidente abertamente racista, que ainda em campanha falava sobre dar ‘carta branca’ a polícia para ‘matar bandidos’. Em um país em que a população negra foi escravizada e depois marginalizada, isso significa um verdadeiro genocídio da juventude negra”, explicou.

Ela também apontou que os dados quanto às taxas de letalidade e de contágio da Covid-19, tanto nos EUA quanto aqui no Brasil, demonstram que as populações negras apresentam uma maior vulnerabilidade. “Neste momento de pandemia, ficou explícito o fato de o racismo ser algo estrutural”, definiu. “A população negra sofre mais com o vírus, pois a desigualdade salarial e falta de acesso a uma boa assistência médica, em conjunto com piores condições de trabalho e de vida, tornam os negros mais expostos ao contágio e ao risco de morte”, completou.

“Ele nos deixou uma memória muito importante sobre todas as lutas da universidade”

A reitora da UFMG, professora Sandra Regina Goulart, lembrou que o evento do APUBH acontece no âmbitoda terceira edição do Novembro Negro na universidade, que é uma construção conjunta da comunidade universitária. O professor Tomaz Aroldotambém foi o homenageado na comemoração de 93 anos da UFMG. “É um momento muito difícil, pelo contexto atual, mas não deixamos de comemorar e de marcar a memória do professor Tomaz”, disse.

A professora definiu o ex-reitor como “uma pessoa muito importante para a nossa instituição, uma das maiores lideranças da história da universidade e também do nosso país. Uma inspiração constante para todos nós”. “Ele era uma pessoa de posicionamentos muito firmes e um incansável defensor da universidade pública, gratuita e inclusiva e também do investimento público em educação e ciência”, completou. “Ele nos deixou uma memória muito importante sobre todas as lutas da universidade, por se tornar cada vez inclusiva, por se tornar uma instituição que respeita a diversidade. Isso está no DNA da nossa universidade, e muito pela inspiração que sempre tivemos pela luta do professor Tomaz Aroldo da Mota Santos”, comentou.

Finalizando a sua fala, a professora lembrou de ter conversado com o ex-reitor,no início da pandemia, sobre o momento difícil que estamos atravessando. A reitora lembrou, então, que “ele, da sua forma calma, tranqüila e acolhedora, disse: ‘mas vai passar’”.

 

II Semana Negra do APUBH | Saiba mais:

VÍDEOS: Assista às atividades na íntegra, no canal do APUBH

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