Saúde docente: uma pauta sindical
Por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo (NADi/APUBH UFMG+), o APUBH UFMG+ permanece em sua jornada de acolhimento às demandas de professoras e professores relativas às suas vivências laborais e aos impactos do trabalho na UFMG na nossa saúde. O principal objetivo do NADi é construir uma compreensão psicossocial, ampla e crítica desses impactos, de modo a produzir pautas coletivas e políticas para embasar as proposições, intervenções e ações do Sindicato em benefício da nossa categoria. O APUBH UFMG+ defende que condições dignas de trabalho são fundamentais à promoção de saúde, bem-estar e qualidade de vida dentro da Universidade, bem como que essas condições são essenciais ao pleno desenvolvimento das nossas atividades laborais.
A Universidade Pública não está isenta da intensificação e da precarização das condições de trabalho, que marcaram o avanço do neoliberalismo na nossa sociedade. A precarização das nossas condições de trabalho intensifica os riscos psicossociais presentes na atividade docente, como, por exemplo, o aumento do ritmo do trabalho, a ruptura das relações de solidariedade e o aumento da competitividade. É comum ouvir professores relatando que “não tem tempo suficiente para pensar”, “não conseguem descansar”, “tiram férias para produzir artigos e publicações”. Encontramos também aqueles que se frustram profundamente com a vida acadêmica, mesmo depois de anos construindo uma carreira iniciada com um sonho pessoal.
No fazer laboral-acadêmico orientado pelo neoliberalismo, as exigências às vezes excessivas de produtividade e as dificuldades de acesso a financiamentos para as pesquisas aumentam nossos níveis de estresse. A tendência neoliberal de responsabilização individual e não estrutural pelas dificuldades encontradas no trabalho costuma intensificar a autocobrança e a autovigilância. Essas, por sua vez, podem ter impactos nefastos na saúde mental, mais até do que as cobranças externas.
Nessa “armadilha neoliberal” da responsabilização individual por questões associadas a problemas estruturais, há uma naturalização da aceleração, do estresse, da ansiedade, da sensação de nunca se produzir o suficiente ou de se estar sempre em débito. Nesse processo de naturalização do sofrimento é comum ouvir de docentes dizerem que “ser professor universitário é isso mesmo”! Mas será mesmo? Será razoável ou necessário (re)existir assim?
A naturalização do sofrimento produz um outro efeito importante: se não reconheço que sofro, não falo sobre o que sinto. Há um silenciamento, tanto pela ausência do reconhecimento do sofrimento, quanto pelo medo ou pela vergonha de se expor ao questionar aquilo que, afinal, “é o normal”. Se em uma determinada fase específica da vida passamos a produzir menos ou questionamos a lógica de manter a produção, mesmo sob condições adversas, corremos o risco de sermos vistos como “alguém que prejudica o programa” ou “alguém que se tornou pouco produtivo”.
O trabalho meramente orientado por princípios neoliberais pode ser gerador de sofrimento psíquico. Porém, o trabalho também pode ser motor de desenvolvimento, prazer e saúde. Trabalho é transformação material, imaterial e subjetiva, é dedicação afetiva, é base de relações sociais e dos nossos processos identitários. Portanto, é preciso romper com o individualismo neoliberal. Para os que sofrem é preciso resgatar a empatia, as boas relações no trabalho, o desejo por estar na Universidade e o prazer em ser professor/professora.
O papel do coletivo e a função do Sindicato é promover a luta por melhores condições de trabalho e por dignidade. O APUBH UFMG+ reforça, então, a função do NADi e seu papel no acolhimento de docentes, bem como a importância da categoria juntar-se ao Sindicato, somar forças nas lutas por um trabalho digno e promotor de saúde!
O NADi permanece em atividade e está aberto às demandas da categoria nesse ano que se inicia para, coletivamente, promover debates, intervenções e ações em prol da classe de professoras e professores.
Fique atento para os nossos horários de funcionamento: segundas e quintas de 09:00h às 13:00h. Terças, quartas e sextas, de 13:30h às 17:30h.
Núcleo de Acolhimento e Diálogo – NADi/APUBH UFMG+
*Fontes e sugestões de leitura
ALENCAR, Anderson Fernandes de; GADOTTI, Moacir. A mercantilização do conhecimento como um movimento em curso na contemporaneidade. Eccos Revista Científica, n. 62, 2022.
JUNIOR, Ely Severiano et al. Produtivismo acadêmico e suas consequências para a produção científica na área de administração. REAd. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre), v. 27, n. 2, p. 343-374, 2021.
LIMA, Maria Elizabeth Antunes. Saúde mental e trabalho: limites, desafios, obstáculos e perspectivas. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 16, n. spe1, p. 91-98, 2013.
OLIVEIRA, Marcos Barbosa de. A avaliação neoliberal na universidade e a responsabilidade social dos pesquisadores. Scientiae Studia, v. 6, p. 379-387, 2008.
VASCONCELOS, Amanda de; FARIA, José Henrique de. Saúde mental no trabalho: contradições e limites. Psicologia & Sociedade, v. 20, p. 453-464, 2008.