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Pior que decisão mal tomada é uma indecisão, diz Bolsonaro após demitir Mandetta

Por Cláudia Motta | RBA | Fonte: Rede Brasil Atual.

Novo ministro, o oncologista Nelson Teich disse ter pouca informação: o que é fundamental é que a gente consiga decidir qual a melhor ação, entender o momento e definir a forma de isolamento

São Paulo – Em meio à confirmação de mais de 30 mil casos de adoecidos pela covid-19 e quase duas mil mortes, conforme balanço divulgado na tarde de hoje (16), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a falar em histeria ao anunciar a demissão de Luiz Henrique Mandetta e a nomeação do oncologista Nelson Teich como novo ministro da Saúde.

“Dada minha formação militar, pior que decisão mal tomada é uma indecisão, jamais pecarei por omissão”, afirmou Bolsonaro em pronunciamento no Palácio do Planalto. A demissão, segundo ele, foi em comum acordo. “Foi um divórcio consensual, porque acima de mim, presidente, e ele como ministro, está a saúde do povo brasileiro”, disse. “Entender a questão do emprego não foi da forma como eu achava que deveria ser tratado (sic). Não condeno, não recrimino o ministro Mandetta. Fez o que, como médico, achava que deveria fazer. A separação se tornava uma realidade.”

Momentos antes, no auditório do Ministério da Saúde, Mandetta se despedia da equipe que o acompanhou desde 1º de janeiro de 2019. Agradeceu o trabalho de todos e declarou. “Trabalhem para a nova equipe como trabalharam para mim. Não deixem de me ligar e me escutar quando acharem que posso estar prestando um bom serviço a vocês.”

Duas doenças

O presidente da República voltou a manifestar que sua preocupação maior é com a economia. “A questão se abate sobre todo mundo e cada país tem sua especificidade”, disse, voltando a citar de forma contraditória a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Quando se fala em saúde, se fala em vida e não se pode deixar de falar em emprego. A pessoa desempregada estará mais propensa a sofrer problemas que uma pessoa empregada. É como um paciente que tem duas doenças: não podemos abandonar uma e tratar outro porque no final da linha essa paciente pode perder a vida.”

Sem falar no número cada vez maior de mortos e nos leitos de UTIs já lotados, o capitão disse que sempre tentou levar uma “mensagem de tranquilidade” e que um “clima de quase terror” se instalou sobre a sociedade. “Pessoas em clima de histeria podem agravar a doença”, disse, afirmando que gostaria que ninguém perdesse a vida.

Bilhões para vidas, trilhão para bancos

O presidente, cuja administração tem como marca medidas que reforçaram a informalidade, elevaram o desemprego e retiraram direitos dos trabalhadores, afirmou ter como preocupação justamente o emprego. “Conversei com o oncologista doutor Nelson que entendesse a situação como um todo, sem abandonar o maior interesse, que é a vida, mas sem abandonar a questão do desemprego que está cada vez mais claro no nosso país.”

E falou nos 38 milhões de trabalhadores informais cuja condição de precariedade seu governo ajudou a multiplicar. “Nós não poderíamos prejudicar os mais necessitados. Eles não têm como ficar em casa sem buscar seus alimentos”, disse. “Se a volta da normalidade demorar muito, outros problemas surgirão.”

Mencionando o auxílio emergencial criado por força da oposição ao governo, Bolsonaro disse que não tem como manter por muito tempo. “Conversei com doutor Nelson que gradativamente temos de abrir os empregos no Brasil” – como se isso fosse obra do Ministério da Saúde. “A grande massa de humildes não tem como ficar em casa. E o governo não tem como manter o auxílio que já gastou R$ 600 bilhões de reais.”

Em março, esse mesmo governo liberou R$ 1,2 trilhão de ajuda aos bancos.

“Vida não tem preço, mas a economia e o emprego têm de voltar à normalidade. Não o mais rápido possível, mas tem de ser flexibilizado. Governo não é fonte de socorro eterna.”

Nas costas do corona

Bolsonaro fez questão de frisar que não foi consultado sobre as medidas adotadas por governadores e prefeitos. “O preço vai ser alto. Tinham de fazer alguma coisa, claro, mas se exageraram, não bote mais essa conta nas costas do sofrido povo brasileiro. Não queremos criar polêmica com outros poderes, mas não furtarei minha responsabilidade.”

Para o presidente da República, a economia do Brasil estava “voando” no final do último trimestre. Apesar dos 12 milhões de desempregados e do pibinho (PIB) com previsão de menos 1%, segundo Bolsonaro “tudo estava indo muito bem, o Brasil tinha tudo para dar certo num curto espaço de tempo”.

O chefe do Executivo nacional fez um “apelo” aos outros poderes. “A responsabilidade não é só minha, é de todos nós. Os excessos que alguns cometeram, que se responsabilizem por eles. Jamais mandaria Forças Armadas prender, jamais vou retirar o direito de ir e vir. Devemos tomar medidas para evitar proliferação ou expansão do vírus, mas pelo convencimento não como medida de restrição da liberdade do cidadão”, afirmou o presidente que apesar das recomendações de isolamento, não se furta a visitar padarias e participar de aglomerações.

“Quem tem poder de decretar estado de sítio é o presidente da República. O excesso vai agravar o problema”, avisou. “O remédio para cuidar do paciente não pode ter efeito mais danoso que a própria doença”, afirmou o defensor da cloroquina.

Ao final, Bolsonaro agradeceu Mandetta pela cordialidade e Nelson Teich por ter aceitado seu convite. “Já começa hoje mesmo uma transição que gradualmente vai servir para redirecionar a posição dos 22 ministros que integram nosso governo. Todos na mesma causa, sem exceção.”

Técnica e ciência

O novo ministro afirmou que não haverá decisão brusca em relação ao distanciamento e isolamento social. “Temos pouca informação (sobre a doença), tudo confuso. O que é fundamental é que a gente consiga decidir qual a melhor ação, entender o momento e definir a forma de isolamento. Cada vez mais baseado em informação sólida.”

Nelson Teich faz coro a Bolsonaro no que se refere à discussão entre saúde e economia. “Elas não competem entre si, são complementares. Temos discussão sobre determinantes sociais em saúde: estabilidade econômica, educação entre outros. Quanto mais desenvolvido é um país, mais tem recursos para ajudar a sociedade.”

O oncologista, que não tem histórico de atuação no Sistema Única de Saúde (SUS), disse que tudo vai ser tratado de forma técnica e científica.

“As pessoas têm muita dificuldade de se isolar. Vamos ter de entender. Fazer uma avaliação do que é essa doença hoje. A hora que a gente entender isso, a gente estará conduzindo a solução do problema.”

Será que haverá tempo?