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O negacionismo antivacina do governo Zema e de seus aliados

Na contramão das recomendações do Ministério da Saúde, das estatísticas sobre contágio e do próprio bom senso, o governador de Minas Gerais anunciou que estudantes da rede pública não precisam se vacinar para frequentar as aulas na rede estadual de ensino do estado. O anúncio foi feito por meio das redes sociais, no último domingo (04/02), pelo governador Romeu Zema, ao lado do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG). Não por acaso, os três políticos são alinhados ao bolsonarismo. E ao que parece, esse alinhamento inclui, até mesmo, o negacionismo científico.

No anúncio, não ficou especificado se a medida diz respeito à imunização contra a Covid-19 ou a todo o calendário básico de imunização infantil. Atualmente, este calendário é composto por 18 imunizantes. E a vacina contra a Covid-19 foi incluída no Programa Nacional de Imunizações, passando a ser obrigatória antes dos cinco anos de idade.

Em relação à Covid-19, o estado não está em uma situação confortável. De acordo com dados do próprio governo estadual, apenas em janeiro deste ano, 22 pessoas morreram em Minas Gerais por causa do vírus. Naquele mês, o estado teve 4.534 casos confirmados da doença. Para se ter noção da gravidade da situação, o número de óbitos por Covid-19 é quase quatro vezes maior do que as seis mortes em decorrência da dengue, que Minas Gerais registrou nesse mesmo período. Lembrando que, atualmente, o estado está em situação de emergência em saúde pública devido à alta incidência de casos de dengue e de chikungunya.

Contudo a publicação nas redes sociais do governador não passou despercebida. A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) apresentou uma denúncia ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e à Defensoria Pública de Minas Gerais. Já a deputada federal Dandara (PT/MG) acionou a Procuradoria Geral da República (PGR).

Além disso, o Conselheiro Municipal da Juventude em Belo Horizonte, Pedro Rousseff, já solicitou ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a abertura de inquérito para apurar a conduta do governador, assim como dos dois parlamentares. De acordo com o pedido, “os representados, ao defenderem a não-obrigatoriedade da vacinação, sabem que estimulam indiretamente que pais e responsáveis se omitam na efetivação do direito à saúde de seus filhos e procedam com o calendário vacinal. Se tornam, portanto, indiretamente, responsáveis pela diminuição da cobertura vacinal no Estado”.

Inclusive, não podemos perder de vista como a aversão a vacinas vem crescendo no Brasil. Como demonstrou a Fundação Oswaldo Cruz, em uma pesquisa de 2022, cerca de um quinto da população não considera os imunizantes necessários. E não é coincidência que esse crescimento tenha ocorrido em meio ao governo Bolsonaro. Em plena pandemia, o então presidente era abertamente contrário à vacina, além de ter contribuído para a disseminação de notícias falsas sobre o tema. Ademais as medidas daquela gestão para o sucateamento dos serviços públicos, assim como as difamações contra os trabalhadores que cumprem esse papel, também tiveram impactos nessa realidade.

Estamos diante, portanto, de pessoas que se valem dos cargos que ora ocupam para beneficiar os seus próprios interesses políticos, deixando de lado e, até mesmo, colocando em risco a vida dos estudantes da rede estadual, os seus familiares, as comunidades escolares e a população como um todo. Contra esse negacionismo antivacina, devemos reafirmar a Saúde Pública como um direito constitucional do povo brasileiro. É preciso valorizar o trabalho do SUS, cuja expertise na cobertura vacinal, hoje, é reconhecida em todo o mundo. Porém, continua a ser atacada por interesses político-partidários ideologizados dentro do nosso próprio país.