Notícias

O assassinato do dirigente do PT e o discurso de ódio do governo Bolsonaro

No último sábado (09/07), o guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda foi morto a tiros, na cidade de Foz do Iguaçu (PR). O crime ocorreu durante a festa de 50 anos da vítima, cuja decoração fazia alusão ao ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) de Foz do Iguaçu e membro da diretoria do Sindicato dos Servidores do município, o militante deixa quatro filhos. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido por intolerância política, como informou Marcos Antonio Jahnke, secretário de Segurança Pública de Foz do Iguaçu, em fala concedida à RPC, rede de televisão afiliada da Rede Globo no Paraná.

O assassinato foi cometido pelo policial penal federal, Jorge José da Rocha Guaranho, um apoiador declarado do governo Bolsonaro. Em suas redes sociais, o policial se definia como cristão e conservador, além de defender medidas armamentistas. “Aqui é Bolsonaro” gritou Guaranho ao invadir a festa, conforme o boletim de ocorrência do caso. De acordo com testemunhas, antes de realizar o crime, o autor dos disparos esteve na frente do local da comemoração, realizando diversas ofensas aos participantes e a petistas.

E mal começaram as investigações sobre o caso, e já foi preciso alterar quem a conduziria. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná confirmou, na segunda-feira (11/07), que a delegada Iane Cardoso foi afastada do caso. O motivo não foi explicado, sendo o mais o provável o fato da delegada ter propagado nas redes sociais, pelo menos até 2017, mensagens de ódio contra Lula e o PT. O partido, inclusive, requereu, junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), que a investigação fosse conduzida em âmbito federal. A PGR, no entanto, rejeitou o pedido.

Ainda na segunda-feira, o presidente Bolsonaro tentou se esquivar do caso, menosprezando o fato do atirador ser apoiador de seu governo. Ele até mesmo citou a facada de que foi vítima em 2018, mencionando que Adélio Bispo, o autor da agressão, seria filiado ao PSOL. Cabe lembrar, contudo, que a suposta relação entre o partido e o autor da facada já foi desmentida. Inclusive, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio Filho foi condenado a indenizar o PSOL, por ter feito essa associação infundada, o que no entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná,  se configurou como um crime de difamação.

A morte do petista causou ampla comoção e revolta, no Brasil e no exterior. Em comum, muitas falas levantaram as correlações entre as aparentes motivações para o crime e as falas do governo Bolsonaro, incluindo aliados e o próprio presidente. Afinal, trata-se de um governo que tem o ódio como discurso oficial. E o próprio presidente nem tenta esconder isso. Mesmo com o crime, o presidente convocou seus apoiadores a defenderem o direito ao uso de armas. Na mesma fala do dia 11 de julho, citada acima, Bolsonaro atribuiu a diminuição das taxas de homicídios no país à política armamentista de seu governo. Embora especialistas já tenham demonstrado cientificamente, que a disseminação de armas são um dos fatores do aumento de homicídios e/ou tentativas de homicídios no Brasil, e, portanto, desmentido esse argumento.

No governo Bolsonaro , o Brasil tem acompanhado reiterados discursos e medidas que apoiam o armamento da polulação, enaltecem a violência, o autoritarismo da ditadura militar e estimulam as agressões contra opositores e camadas marginalizadas da sociedade, como mulheres, pobres, afrodescendentes e LGBTQIAP+. Estas parcelas da sociedade, inclusive, vêm sendo vítimas de um aumento preocupante de casos de violência. E a apologia à violência se fez presente desde a campanha eleitoral que levou este grupo ao poder. Basta que lembremos do discurso de “metralhar a pretalhada” e do gesto imitando armas durante campanha eleitoral de Jair Bolsonaro – até hoje, feito por aliados.

Ademais, é possível constatar paralelos entre o ocorrido em Foz do Iguaçu e outro crime cometido, no último período das eleições presidenciais. Em 2018, o país ficou estarrecido com o assassinato, na cidade de Salvador (BA), do mestre de capoeira Angola Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Ketendê. Ele foi morto com 12 facadas por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, um apoiador da chapa 17 que então concorria à Presidência da República. Santana teria apelado para a violência, de acordo com relatos da época, por não concordar com as manifestações políticas de Mestre Moa, que se opunha ao candidato de extrema-direita.

O APUBHUFMG+ se compadece com os familiares, amigos e companheiros de luta de Marcelo Aloizio de Arruda. Os motivos do crime carecem de ser expostos, bem como que o seu autor seja devida e exemplarmente julgado e punido. Há muito tempo, temos denunciado a necropolítica do governo Bolsonaro. Ao que parece, além das atitudes tomadas pelo próprio governo, esta política de morte também se estende na influência angariada junto aos apoiadores do bolsonarismo. E com a proximidades das eleições, o risco de uma escalada violência é preocupante. Assim, a população brasileira não deve se conformar com discursos e crimes de ódio, que arrastam o país para a barbárie. É preciso se opor.

Justiça por Marcelo Arruda! Fora governo Bolsonaro!