Educação básica: atrasos, descaso e fome. Analfabetismo infantil em níveis alarmantes.
Os níveis registrados de analfabetismo infantil no país são alarmantes e têm deixado especialistas e educadores preocupados com o futuro escolar, acadêmico ou de um futuro de existência atrofiada dessas crianças. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais de 40% das crianças entre 6 e 7 anos não sabem ler nem escrever.
Os índices já vinham apresentando resultados preocupantes nos últimos anos, porém a pandemia de COVID-19, que assolou o Brasil e já matou mais de 680 mil pessoas, elevou o número de crianças que não conseguiram concluir o ciclo de alfabetização. A precariedade do Ensino a Distância, a má gestão do governo e a “dança das cadeiras” que atingiu o Ministério da Educação, deixaram o ensino público infantil, que já era frágil, em frangalhos nos últimos anos.
No Brasil, cerca de 80% dos alunos de ensino fundamental e médio estudam na rede pública, de acordo com dados apontados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD). Em média, a União investe cerca de R$ 90 mil por estudante ao longo dos 14 anos da educação básica (pré-escola, ensino fundamental I e II e ensino médio), aponta um levantamento da Fundação Roberto Marinho e do INSPER – Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia. Porém, como sabemos, EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA e esse valor não deve ser considerado um gasto para o Estado. O investimento na Educação é primordial para o desenvolvimento da sociedade. Devemos nos manter na luta contra a concepção de que gastos em educação comprometem o orçamento do Estado. Este falso pressuposto é a base do projeto de sucateamento da educação pública brasileira!
Para a ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação Ilona Becskehazy, doutora em política educacional pela Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Revista Oeste, os dados reais da alfabetização brasileira são piores que os que o IBGE aponta. “Quando os pesquisadores vão à casa das pessoas, muitas delas consideram saber ler quando a criança lê somente um nome”, explicou. “Um aluno do 3° ano do ensino fundamental sabe ler palavras, não livros maiores”, completou.
Devemos também considerar os impactos que as diferenças de renda têm na alfabetização infantil. Uma pesquisa do “Todos pela Educação”, de 2017, mostrou que entre as crianças pertencentes a uma família que recebe até um salário mínimo, apenas 45% têm o nível adequado de alfabetização. Em contrapartida, aquelas que são de famílias com renda familiar de até sete salários mínimos possuem 98% do nível adequado de leitura e escrita.
A fome também tem sido indicada como um dos grandes fatores que ameaçam a educação infantil. O número de relatos de professores da rede pública de ensino, seja no fundamental ou médio, que presenciaram algum caso de alunos passando mal na Escola por estarem com fome cresce nesta atual conjuntura. Em muitas escolas, as campanhas de doações de alimentos e cestas básicas têm sido a alternativa para muitas famílias carentes.
A fome atinge diretamente a formação das crianças. Desnutrição e doenças oportunistas que afetam o desenvolvimento cognitivo, motor ou outro são alguns exemplos do efeito da fome no organismo humano. Segundo inquérito realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em 2022, 33,1 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil; mais da metade da população brasileira (58,7%) está em insegurança alimentar em algum nível; e de 10 famílias apenas 4 possuem acesso total à alimentação. Na educação a fome prejudica a concentração, a disposição e a alegria de aprender, o que impacta negativamente as condições de aprendizado. Nesse sentido, os desafios são maiores num país como o Brasil, com agudas diferenças socioeconômicas que se acentuaram na péssima gestão do atual governo e que confluem para as violações aos direitos das crianças e adolescentes. Entre eles, o direito humano a uma infância saudável, com acesso a escolas públicas bem estruturadas e alimentação saudável – caminho para minorar esta dura realidade.