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Ascensão da extrema direita, um sinal de alerta para o campo progressista e democrático

Os olhos do mundo estão voltados, nos últimos dias, para o velho continente. No último domingo (09/06), ocorreram eleições para o Parlamento da União Europeia, o poder legislativo do principal bloco econômico mundial. E o resultado do pleito causou preocupação: o avanço da extrema direita no continente. A representação dos partidos dessa ala, chefiados pela francesa Marine Le Pen e pela italiana Giorgia Meloni, aumentou de 16,7% para 18,1%. Ainda assim, o parlamento continua a ser ocupado, em sua maioria, por integrantes da direita e da centro-direita.

Embora preocupante, a guinada à direita do parlamento europeu não chega a ser uma surpresa. Antes do resultado, analistas políticos já apontavam para essa situação. Contudo observam que o número absoluto de cadeiras ocupadas pela extrema direita é menor do que o esperado.  Ainda assim, um sinal de alerta foi ligado para o campo progressista e democrático. E não apenas na Europa. Diante da conjuntura geopolítica atual, os rumos da União Europeia tendem a ter efeitos em todo o cenário político e econômico internacional. Inclusive, aqui no Brasil.

Em resposta, o presidente da França, Emmanuel Macron, informou, ainda no domingo, que dissolveria o parlamento e anteciparia as eleições legislativas do país. As medidas são previstas na Constituição francesa, além de já terem ocorrido anteriormente. Entretanto, não deixa de ser uma jogada arriscada. Nesse sentido, Macron busca alianças, em ambos os lados do espectro político, para a formação de uma aliança contra extrema-direita na França.

Um cenário já conhecido pelo eleitorado brasileiro. Em 2022, vimos a formação de uma frente ampla, envolvendo diferentes segmentos do espectro político, para barrar o avanço do bolsonarismo, a versão contemporânea da extrema direita no país. Essa aliança, contudo, tem cobrado o seu preço. Atualmente, o governo se equilibra em uma corda bamba, dividido entre as pautas da classe trabalhadora e os interesses do mercado financeiro. Isso fica evidente na política de austeridade do atual governo, que engessa as condições de investimento do Estado, especialmente nos setores sociais.

Para piorar, ainda lidamos com o sequestro do orçamento por parte do Congresso, majoritariamente conservador e reacionário. Na verdade, a maior parte da atual composição do Congresso se posiciona à direita. Nesta semana, isso ficou evidente na aprovação da tramitação em regime de urgência do Projeto de Lei para equipar o aborto ao crime de homicídio. Em um retrocesso estarrecedor, a vítima de estupro que abortar pode receber uma condenação maior do que a pena aplicada ao estuprador.

E esse é apenas um caso em uma lista enorme de projetos de lei que retrocedem no campo socioambiental. De fato, a Europa pode aprender com o exemplo brasileiro do que ocorre quando a população percebe a deterioração em sua qualidade vida. Conforme há o avanço do neoliberalismo no Brasil, percebe-se a piora no poder de compra e nos direitos trabalhistas e sociais. Nesse cenário,  a extrema direita tem sabido estimular o sentimento antidemocrático no povo. O campo progressista e democrático nos últimos anos perdeu espaço junto à população, enquanto o autoritarismo ganhava terreno. E o caminho como vivenciamos, se abriu para o fascismo.

O governo federal, no entanto, parece não ter aprendido a lição. Segmentos que contribuíram para as tentativas bolsonaristas de golpe de Estado, como o empresariado do agronegócio e as polícias federal e rodoviária federal, têm recebido mais atenção do que setores estratégicos para a sociedade. Basta ver como as negociações com o professorado da educação federal caminharam a passos lentos no ano de 2023 e somente tiveram algum atendimento às justas reivindicações em função da greve nacional do setor da educação.

Diante desse cenário, a ascensão da extrema direita na Europa, assim como a sua persistência em solo brasileiro, deve servir de alerta para o campo progressista e democrático. E o enfrentamento à extrema direita começa pelo trabalho de base. A mesma base social que se articulou contra o fascismo precisa, agora, agir concretamente para pautar o governo e o Congresso. E o nosso principal instrumento para isso continua a ser a nossa capacidade de organização coletiva.