Acontece no APUBH

NADi entrevistou o prof. Luiz Brant: “não é apenas uma situação sanitária, mas também uma grave situação política”

O professor e co-coordenador do mestrado profissional em Gestão de Serviços de Saúde da UFMG foi o primeiro entrevistado do Programa do Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH em 2021

 

A segunda temporada de entrevistas do Programa do Núcleo de Acolhimento e Diálogo (NADi), do APUBH, começou nesta segunda-feira (11/01), com a participação do  professor Luiz Carlos Brant Carneiro, do Curso de Graduação em Gestão de Serviços de Saúde e co-coordenador do mestrado profissional em Gestão de Serviços de Saúde da UFMG. A professora Solange Cervinho Bicalho Godoy, integrante do NADi/APUBH e primeira suplente da diretoria executiva do sindicato, conduziu a entrevista, que teve como tema “Home office: entre a vida laboral e a vida privada”.

Assista à entrevista na íntegra, no canal do sindicato: https://youtu.be/4Np_VGbzKMc

No início da transmissão ao vivo, a professora Solange Godoy apontou que “nós vivemos uma intensificação e uma precarização do trabalho dos professores”, que estão diretamente relacionadas ao fenômeno do produtivismo acadêmico. E como resultado, ainda segundo a docente, “a vida pessoal e a familiar se tornaram reféns da vida universitária e da vida acadêmica”. Além disso, contextualiza a professora, “essas profundas transformações que estamos vivendo atualmente, com a pandemia e também com o capitalismo das últimas décadas, impuseram uma reestruturação produtiva e uma nova constituição do trabalhador”.

Relações políticas e institucionais

Em sua fala, o professor Luiz Brant ressaltou que, na atual conjuntura do país, a situação enfrentada pela categoria docente “não é apenas uma situação sanitária, mas também uma grave situação política”. Essa realidade pode ser sentida, ainda segundo ele, na precarização do trabalho das professoras e professores, bem como na precarização da própria universidade pública brasileira.

No dia 11/01, a professora Solange Cervinho Bicalho Godoy, da Escola de Enfermagem e integrante do NADi/APUBH, conversou com o professor Luiz Brant, do Curso de Graduação em Gestão de Serviços de Saúde.

O professor lembrou, como exemplo desta realidade, o caso recente da escolha do reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Assim como ocorreu em outras universidades e institutos federais de ensino, o governo federal não respeitou a autonomia da instituição. “A universidade encontra-se sob um duplo reitorado, um reitor eleito pela comunidade acadêmica, como estamos acostumados a fazer nos últimos tempos, e outra – que para lembrar um termo caro à ditadura – é uma ‘reitora biônica’”, definiu.

Em relação ao ensino remoto emergencial na universidade, o professor Brant ressaltou que é preciso tomar cuidado com “a ilusão que está se criando de que o Home Office seria algo muito vantajoso para o trabalhador”. “O que nós assistimos, cotidianamente, são professores reclamando de sobrecarga de trabalho e de situações de estresse no trabalho, professores que estão exercendo as suas funções com o mínimo para esse momento emergencial”, observou. Nesse sentido, ele ressalta o papel do sindicato “como uma instância de resistência, como uma instância capaz de construir meios para que estes trabalhadores possam exercer suas atividades, do ponto de vista técnico e ético”.

“O que nós assistimos, cotidianamente, são professores reclamando de sobrecarga de trabalho e de situações de estresse no trabalho, professores que estão exercendo as suas funções com o mínimo para esse momento emergencial”

Luiz Brant, professor da UFMG e integrante do NADi/APUBH

Sofrimento docente

O professor Brant observa que a já complexa situação do sofrimento docente na universidade tem sido agravada pelo Home Office. Entre as principais queixas apontadas pela categoria, o professor destacou a sobrecarga de trabalho e o aumento do controle organizacional. Este último, como apontou o professor, foi facilitado pelo monitoramento das atividades docentes por meio das plataformas digitais utilizadas no ERE.

O prof. Luiz Brant ressaltou o papel do sindicato “como uma instância de resistência, como uma instância capaz de construir meios para que estes trabalhadores possam exercer suas atividades, do ponto de vista técnico e ético”

Além das relações institucionais e laborais, ainda se destacam aquelas mantidas entre as próprias professoras e professores. “As relações estabelecida entre os pares, em decorrência das formas de organização do trabalho, são muito permeadas por uma competição. Não que a competição seja algo negativo, mas uma competitividade destrutiva, de um individualismo, de uma comparação, de um uso do poder e ausência de pertencimento, sim”, definiu.

O docente analisa que a postura de evitar expor os problemas contribui para a invibilização do sofrimento docente, que se reflete na baixa procura por ajuda e no agravamento da situação.  “É uma estratégia que eu considero extremante perigosa, que é o ocultamento do seu sofrimento. É apresentar-se fazendo como na Sociedade do Espetáculo, sempre bem-disposto, bem-humorado, pró-ativo”, analisou.

Assim como a busca por ajuda continua sendo um grave empecilho, o professor Brant também enxerga que existem deficiências nos próprios mecanismos utilizados pelas instituições para acolher essas pessoas. Ele apontou que os problemas começam com os “dispositivos linguísticos para o trabalhador se apresentar como um doente e não como alguém em sofrimento”.

O professor Brant explicou que o termo “sofrimento” indica “a percepção do trabalhador de uma ameaça à sua vida, uma ameaça ao seu trabalho, uma ameaça à sua existência”. “Considerar o sofrimento como uma categoria de investigação é importante porque o sujeito do sofrimento permanece como o sujeito da ação transformadora”, completou. A classificação como “doente”, no entanto, ainda segundo o professor, contribui para invisibilizar as características do entorno e do processo de trabalho que precisam ser repensadas e alteradas.

Programa do NADi/APUBH

Semanalmente, o Programa do NADi/APUBH recebe especialistas da UFMG para conversar sobre a saúde da mente e do corpo da comunidade acadêmica, durante o período de ensino remoto emergencial. A série de vídeos conta com um formato dinâmico, com duração média de 30 minutos. Acompanhe as transmissões ao vivo, às segundas-feiras, às 12h, através do canal do sindicato no Youtube: https://tinyurl.com/canaldoapubh

O APUBH UFMG+ está aberto à categoria para a construção de saídas coletivas. Contribua, compartilhando a sua experiência! Preencha o questionário sobre o trabalho docente no ERE, disponível no hotsite do Núcleo de Acolhimento e Diálogo (NADi/APUBH): https://apubh.org.br/acolhimento/

As denúncias e queixas também podem ser encaminhadas diretamente através do nosso e-mail acolhimento@apubh.org.br ou telefone/Whatsapp: 31 99949-9135