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Os Custos da Eadização da Educação

Pesquisa realizada pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), evidenciou que, pela primeira vez na história, a maior parte dos alunos matriculados no Ensino Superior no Brasil estão matriculados em seus cursos na modalidade da Educação à Distância (EaD). São 52% dos discentes matriculados nesta modalidade de ensino.

Ao mesmo tempo, a pesquisa divulgou também os resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2021, teste realizado desde 2004. Neste ano, todos os cursos de licenciatura foram avaliados, bem como outros cursos com formação em bacharelados e tecnológicos. O resultado foi que os cursos presenciais tiveram notas superiores aos cursos EaD.

O ENADE possui um critério de notas que vai de 1 a 5. Um total de 48% dos estudantes EaD obtiveram notas entre 1 e 2 e apenas 2% dos cursos à distância oferecidos obtiveram nota máxima e 12% obtiveram nota 4. Dentre os cursos presenciais, 31% obtiveram notas 1 e 2 e 29% obtiveram notas entre 4 e 5. Conforme explicitado no relatório do INEP, divulgado pelo portal de notícias G1, “os cursos presenciais obtiveram melhores resultados nos dois indicadores que os cursos à distância, com diferenças superiores a 12 pontos percentuais no número de cursos com faixas 4 e 5 no Conceito ENADE e no Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD)”.

Os números explicitam uma diferença de qualidade na formação dos estudantes entre os cursos presenciais e à distância. Dentre os vários motivos que podem levar a este cenário, um que salta aos olhos é a mercantilização da educação. O EaD é uma modalidade de ensino oferecida, sobretudo, nas universidades privadas, que vêm nesta modalidade uma oportunidade de diminuir custos com pessoal, uma vez que aulas de professores podem ser gravadas; além de diminuir custos com infraestrutura, ao não ter que manter um espaço físico para o oferecimento das aulas, de maneira a maximizar seus lucros. Assim, na disputa mercadológica entre as diversas universidades particulares, luta-se por baixar o preço das mensalidades, em detrimento da qualidade do ensino oferecido e do pagamento aos docentes contratados.

Além disso, como foi evidenciado ao longo da pandemia, o ensino virtual, especialmente nas Universidades Públicas, significou uma expressiva sobrecarga de trabalho para a categoria docente. Professores, tiveram que se ocupar em preparar suas aulas para um outro formato – o virtual –, além de terem sido demandados com o ,acúmulo de serviço técnico-administrativo, necessitando aprender a lidar com múltiplas plataformas com distintos desenhos operacionais a trabalhar e editar vídeos, além de realizar serviços que eram eminentemente delegados aos técnicos-administrativos. O adoecimento docente, físico e mental, devido ao ensino virtual foi uma realidade de nossa experiência docente coletiva ao longo dos últimos dois anos.

O ensino virtual  foi uma necessidade imposta pelo período de pandemia da Covid-19, que matou 700 mil pessoas no Brasil graças a inépcia do governo Bolsonaro. Não podemos tratar com normalidade, o fato de que a maior parte dos discentes universitários do Brasil estejam matriculados na modalidade de ensino EaD, uma vez que ela acaba por retirar a importante seara presencial da vivência universitária, tão cara nos processos de formação, tanto no  sentido político e social, quanto no sentido educacional. O estudo do INEP confirma  a qualidade superior dos cursos presenciais no Brasil. Precisamos lutar para que a Universidade Pública tenha mais vaga, e, portanto, mais concursos para repor seus quadros de pessoal e que a educação presencial continue a ser a principal modalidade oferecida aos nossos discentes nesta instituição.

APUBHUFMG+ – Sindicato dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais e Campus Ouro Branco/UFSJ – Gestão Travessias na Luta – 2020/2022