Acontece no APUBH

Mulher e Representatividade: assista à participação do APUBHUFMG+ no Ciclo de Debates do SINDIFES

Ao longo de março, o mês de lutas das mulheres, o Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (SINDIFES) propôs a uma série de mulheres dialogar sobre a presença e a luta feminina em diferentes áreas da sociedade, como a educação e a política. Assim, a entidade que representa os técnico-administrativos em Educação da UFMG promoveu o Ciclo de Debates do SINDIFES: Mulheres e Representatividade, entre os dias 15 de março e 1º de abril.

O APUBHUFMG+ integrou a programação, sendo representado pela presidenta do sindicato, a professora Maria Rosaria Barbato, no debate sobre o tema “Mulheres em Espaço de Poder – Educação, Política e Eleições”. A atividade online foi ao ar na tarde de quinta-feira (31/03), transmitida ao vivo pelo canal do SINDIFES no Youtube. Assista ao vídeo: https://youtu.be/N9o59LgCaCc

A conversa contou, ainda, com as seguintes convidadas: Cristina del Papa, coordenadora geral do SINDIFES, diretora estadual da CUT-MG e ex-coordenadora de administração e finanças da FASUBRA Sindical; Sandra Goulart, professora da Faculdade de Letras (FALE) da UFMG e reitora da universidade; e Ana Lúcia Gazolla, professora e ex-reitora da UFMG, ex-secretária de estado de Desenvolvimento Social e de Educação de Minas Gerais.

“O tema nos atinge diretamente, nós que estamos em instituições públicas de ensino. Esse tema diz respeito à nossa ação cotidiana, enquanto mulheres trabalhadoras da educação”, definiu Neide da Silva Dantas Mendes, integrante da diretoria do SINDIFES. A TAE da UFMG, que foi a responsável pela mediação do debate, definiu que a conversa parte “desse olhar de mulheres sindicalistas, mulheres gestoras em educação, nas suas diferenças e nas suas similaridades”.

A luta diária das mulheres

Em sua fala no debate, a presidenta do APUBHUFMG+ traçou um panorama sobre as condições a que as mulheres estão expostas no Brasil, passando por suas raízes e a luta na atual conjuntura do país. Ela refletiu que a posição de desvantagem da mulher em relação ao homem, “seja na vida privada ou na vida pública, sob as interseções de classe, raça, nacionalidade e religião, é sempre uma posição atravessada pelas questões da desigualdade de gênero”. A docente chamou a atenção para o modo como o sistema patriarcal se revela na dominação e opressão masculina sobre as mulheres.

Nesse sentido, ainda de acordo com ela, a condição e o papel atribuído ao feminino, construídos na sociedade, corroboram com a sua segregação. “E é devido a essas construções que as mulheres são impelidas a abdicar de suas carreiras em prol da família ou empreender um esforço absurdo para conciliar – ou alguém diria harmonizar – cuidados domésticos e atividades profissionais”, observou. Esta realidade pode ser percebida na divisão desigual das funções domésticas, na qual cabe as mulheres, tradicionalmente, o cuidado com a casa ou com os membros da família.

“A degradação do gênero feminino é uma fundante do sistema capitalista”, explicou a professora. E completou: “as barreiras enfrentadas pelas mulheres, nos espaços de poder, são muitas e estão, diretamente, vinculadas aos papéis sociais que foram distribuídos de forma desigual entre homens e mulheres, por esta ideologia repressora do patriarcado”. Ela apontou que isso pode ser sentido, no ambiente de trabalho, na disparidade salarial e os impeditivos às condições femininas próprias. Maria Rosária ainda afirmou que as pressões nos espaços de poder, são sentidas das mais diversas formas possíveis, desde a busca por igualdade salarial entre homens e mulheres ate à adoção imposta de padrões de conduta masculinizados como o uso de vestimentas sóbrias e o abondo do convívio familiar, do desejo de casamento ou gravidez etc. Afirmou que “em um cenário assim, não é estranho que as mulheres tenham raras oportunidades de acessar postos de poder em qualquer contexto da vida social, mas principalmente, no campo da política”.

Do mesmo modo, existem barreiras que precisam ser superadas, inclusive, no campo do ensino e da pesquisa científica. “A luta das mulheres na educação é uma luta universal no sentido de defender o direito de todos, homens e mulheres, terem acesso à educação, mas também uma luta particular porque é sempre a luta de uma mulher pelo seu próprio direito de ocupar o seu lugar em uma sociedade machista, autoritária e misógina”, reforçou a sindicalista.

Sobre os desafios enfrentados por uma mulher na direção de um sindicato, a professora apontou existem especificidades que mudam de acordo com as características de cada categoria representada, contudo guardam em comum a função de luta social, e o incomodo gerado em certos segmentos da sociedade. E no caso das mulheres, ela percebe que há o constante questionamento sobre a competência e a forma de lidar com as situações, entre outras questões  enfrentadas. A professora afirmou que “a luta e a resistência caracterizam o sindicato. Então já se trata de exercer um papel que incomoda muitos na sociedade. Porque a atuação primordial de um sindicato na sua função de luta e resistência é através das paralisações, das reivindicações, das paralisações, das greves e da comunicação externa incisiva, que permita às pessoas compreender em pouco tempo a gravidade das situações. Isto já nos coloca em uma situação incômoda. Em uma situação de rejeição social. E quando nós falamos, já somos logo acusadas de histeria. […] Apesar de tudo isso, devemos nos manter sempre firmes, pois o papel do sindicato na defesa da educação é, muitas vezes, ultrapassar limites que somente tem o poder de ultrapassar”.

Em sua fala final, Maria Rosária lembrou aspectos de sua trajetória pessoal, rememorando que foi alvo de um inquérito policial instaurado com base no estatuto do estrangeiro, da época da ditadura militar, baseado numa denuncia anônima. A professora afirmou que “além da xenofobia que era explícita na própria lei, eu não consigo deixar de ver naquele ato uma boa dose de machismo”. Salientou que embora as  quatro palestrantes trabalhassem em espaços diferentes e com distintas ações, há elementos que as ligam, principalmente a força e a determinação.

A professora afirmou que “de qualquer forma nos tornamos modelos a ser seguidos ou rejeitados. De mulheres ativas e atuantes que querem se distanciar do papel historicamente atribuído as mulheres de subjugadas à lógica patriarcal”. Fez ainda o chamado: “ocupemos espaços de poder e façamos política, pois, se Platão disse que o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus, podemos dizer agora que o castigo das mulheres que não fazem política é serem governadas pelos homens”.

 

Mulheres sindicalistas e gestoras

A professora Ana Lúcia Gazolla refletiu, a partir de sua experiência pessoal e profissional, sobre o papel da mulher na educação e na política. Nesse sentido, ela relembrou a sua trajetória no magistério, em movimentos feministas, na gestão da universidade e à frente de políticas públicas. “Eu trabalhei muito contra todos os tipos de violência, contra todos os tipos de preconceito. E que lição me ficou? Sempre usar a ocupação de espaços de poder politicamente e defender os direitos da mulher e de todos aqueles que são vítimas de diferentes formas de preconceito de violência”, definiu a professora. Em relação ao movimento feminista, em especial, ela acredita que na necessidade de “reconhecer que, como pessoas da universidade, nós somos muito privilegiadas: nós já estamos num espaço de poder simbólico e temos de usar nossa voz”.

Já a professora Sandra Goulart chamou a atenção para o crescimento de mulheres ocupando cargos de liderança no ambiente acadêmico, que embora exista continua sendo incipiente. Ela avalia que essa situação reflete os impeditivos e a divisão social no ambiente de trabalho dos quais as mulheres ainda são vítimas no ambiente de trabalho, inclusive na universidade. Nesse ponto, a docente refletiu sobre o papel político que exerce, tanto como professora quanto como gestora. “Eu gosto de repetir o que eu disse no meu discurso de posse, em 2018: que a minha posição como reitora sirva de modelo e exemplo a tantas jovens e mulheres na necessária luta pela emancipação, liberdade e igualdade de condições e contra o preconceito e também a violência que ainda vitimam tantas de nós”, definiu a reitora da UFMG.

Finalizando este momento do debate, Cristina del Papa ressaltou o protagonismo feminino e das entidades da educação na construção, em Belo Horizonte, da luta contra o governo Bolsonaro. Como ela lembrou, a articulação das mobilizações de rua na capital mineira foi alavancada por sindicatos liderados por mulheres, a saber: SindUTE-MG, SinREDE-BH, Sinpro-MG, SINDIFES e APUBHUFMG+. Na opinião da coordenadora geral do SINDIFES, esse conjunto de entidades “trouxe uma luta completamente diferente para o movimento sindical da educação, que é 80% feminina”.

Além da atuação política por meio do movimento sindical, Cristina del Papa reforçou a importância de mulheres ocuparem cargos políticos. “A gente tem sim que ter mais mulheres na política, mais mulheres eleitas vereadoras, deputadas estaduais, deputadas federais e senadoras e presidente da república”, afirmou a TAE. E ponderou que “também temos que, entre nós, olhar quais são as mulheres que, realmente, vão nos representar. Porque têm muitas que continuam sob o jugo masculino e ainda querem retirar os poucos direitos que a gente alcançou”.