Acontece no APUBH

Colegas, por que férias?

O NADI APUBHUFMG+ por meio da campanha “Docente em férias: viva!”, tem alertado a categoria docente sobre um dos seus direitos fundamentais: as férias! O objetivo da campanha é fortalecer e mobilizar a categoria para o período de descanso como um direito elementar e fundamental para a saúde. No entanto, há vários fatores sociais e da organização do trabalho que estão na base desse tema. Acompanhe o texto da professora Lívia Borges*, feito especialmente para esse movimento.

 

O capitalismo avança engendrando variadas contradições na vida cotidiana dos trabalhadores. Assim, nós docentes estamos historicamente envolvidos nas lutas dos trabalhadores produzindo, inclusive, reflexões que servem de apoio, estimulam e desvelam prioridades e caminhos de luta. Após um período de jornadas de trabalho e muitas realizações, ter direito ao descanso remunerado no formato de férias é uma luta secular do trabalhador. Por isso, temos o direito garantido por lei. No entanto, nós docentes, contradizendo nossas próprias contribuições, costumamos trabalhar durante o período em que deveríamos gozar de férias. Por isso, aos poucos cunhamos termos como “férias oficiais” (período que se registra como férias, mas aonde seguimos trabalhando e, geralmente, realizando as atividades complexas, demandantes de dedicação temporal contínua, em tese, difíceis de realizar durante os períodos letivos).

Por trás, de tal contradição seguramente está nossa profunda identificação e compromisso com a docência que nos fazem priorizar, por exemplo: o atendimento ao aluno, a realização da indispensável pesquisa, o aperfeiçoamento de cada detalhe do que fazemos, o atendimento de exigências de editais e editoras, a atividade de campo que só pode ocorrer naquele momento e assim por diante, o relatório super importante que temos que dar conta e a prestação de serviço urgente que só nós podemos realizar. São várias as demandas que sempre avaliamos valer a pena sacrificar nossas férias. Questionamentos devemos fazer acerca: da quantidade de atribuições que assumimos; da extensa burocracia para levarmos projetos acadêmicos a cabo; das condições materiais e sociogerenciais para realizarmos nossas atribuições; do estabelecimento de metas frente à realidade; dos impactos sobre a saúde do docente e sobre a qualidade de sua produção; do pensamento a longo prazo, etc. Há pesquisas científicas publicadas sobre tais questionamentos o que não é caso de resgatá-las aqui, pois todos nós (docentes) temos franco acesso a elas, mas muito continua sendo necessário aprofundar.

No presente momento, o que queremos é nos aliar a uma ação política que transforme essa realidade. Estamos convencidas que o primeiro ato para renovar os sentidos dos questionamentos mencionado é mudar nossa atitude. As férias são nossas e precisamos gozá-las. Usemos os nossos direitos e nossa rebeldia para fazê-los valer. Vamos desfrutar cada férias. De presente para cada um de nós, enumero algumas vantagens para a adoção do nosso ato:

  • Repor nossas energias e ampliar o vigor de nossas reflexões;
  • Enfrentar os adoecimentos que já são coletivos e endêmicos, seja numa perspectiva preventiva, seja buscando minimizar danos já causados;
  • Conquistar um espaço temporal de estímulo cultural à nossa criatividade;
  • Valorizar espaços de convivência com familiares, parentes e amigos, ampliando nosso bem-estar (pré-requisito de saúde e de competência) e fortalecendo relacionamentos interpessoais de sustentação da vida e de formação da família;
  • Combater o estabelecimento de prazos pelas IFES, pelo MEC e/ou pelos órgãos de fomento (de pesquisa, de ensino e extensão) supondo trabalharmos nas férias;
  • Contribuir para reorganização de atividades de modo que possam ser realizadas no período de atividade docente;
  • Levantarmos condutas nossas, docentes e alunos, que cristalizam a tendência de trabalhar nas férias;
  • Ampliar a colaboração mútua entre docentes;
  • Posicionar em perspectiva um trabalho competente a longo prazo.

Entendemos, portanto, que a campanha valorizando o docente em férias é um ato político de defesa da saúde coletiva, mas de defesa da universidade pública gratuita e de qualidade.

 

*Lívia de Oliveira Borges – Professora titular aposentada, atuando no Programa de Pós-graduação em Psicologia (FAFICH/UFMG)