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Bolsonaro quer decretar fim da pandemia

Após negligenciar todos os cuidados sanitários e humanitários durante a pandemia de Covid-19 no Brasil e ser responsável pela morte de milhares de pessoas, o presidente da república, Jair Bolsonaro deseja decretar o fim da pandemia do vírus que matou quase 700 mil pessoas no país até agora.

No meio de março, em passagem pela Bahia, Bolsonaro tinha afirmado que pretendia alterar até hoje, dia 31 de março, o status da Covid-19 no Brasil de pandemia para endemia. Em depoimento para o G1, revelou: “A tendência do Queiroga, que é autoridade nesta questão, tem conversado na Câmara de Deputados, parlamentares, também o Supremo, que é o órgão federal. A ideia é que até o dia 31, é a ideia dele, passar de pandemia para endemia e vocês vão ficar livres da máscara em definitivo”.

Em contrapartida, o Ministério da Saúde afirmou nesta quarta-feira (30) que não pretende decretar o “fim da pandemia” de Covid-19 no Brasil nos próximos dias. De acordo com o jornal G1, durante um evento em Brasília, representantes da pasta afirmaram que não está na competência do ministério decretar o “fim da pandemia”, mas sim estipular qual a validade do decreto que instituiu o estado de “emergência sanitária nacional” por causa da Covid-19, em fevereiro de 2020.

Especialistas apontam que o debate acontece de forma precoce e deveria envolver um olhar para as realidades sanitárias dentro e fora do Brasil. Outro argumento é que ainda temos um vírus muito poderoso circulando no mundo e de forma bastante impactante em diversos países, principalmente no Brasil, país das desigualdades sociais e o aprofundamento do empobrecimento da população, que encontra-se com um poder aquisitivo mais baixo desde os últimos anos, além de existir o risco de uma nova variante a qualquer momento e a vacinação com a dose de reforço caminhar a passos bem lentos, especialmente em cidades menores.

O quadro da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, segundo o Boletim 10 a 11 do Observatório Covid-19 da Fiocruz, indica que um total de 82% da população do Brasil conta com apenas a primeira dose da vacina; 74% com o esquema de vacinação completo e 34% com a dose de reforço.  Além disso, os dados registrados nas duas últimas semanas epidemiológicas (6 a 19 de março) confirmam a tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19. De fato, a taxa de letalidade por Covid-19, isto é, a proporção de casos notificados no país que evoluíram para óbito reduziram para 0,2% no início de 2022 e, ao longo do mês de março, voltaram a aumentar para 1%. Para a Fiocruz, este aumento deve servir de alerta para a possível ocorrência de um menor número de casos, porém com maior gravidade, principalmente entre grupos populacionais mais vulneráveis, os não vacinados ou com esquema de vacinação incompleta. Este aumento no número de casos, pode ser resultado de festas, da flexibilização do uso de máscaras e realização de eventos de massa que têm ocorrido em algumas cidades, segundo a Fiocruz.

De acordo com o infectologista Roberto Medronho, professor titular de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “Graças à vacina, nós temos realmente uma situação bem mais confortável em relação à doença, especialmente em suas formas graves. Porém, muitas cidades do Brasil ainda têm uma cobertura vacinal que não é tão alta e, mesmo nas capitais, a dose de reforço não atingiu nem 50% em muitos locais — afirma Medronho”.

De acordo com o jornal Correio Braziliense, caso a decisão fosse aplicada, a Covid-19 deixaria de ser emergência de saúde e o uso de máscaras, por exemplo, poderia deixar de ser aplicado. Porém o número de mortos pelo vírus no Brasil coloca o país na segunda posição do ranking de nações com mais mortes registradas pelo novo coronavírus. Fica atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com o levantamento da Universidade Johns Hopkins. Ocupamos ainda no ranking mundial, a 32ª posição mundial (dados de 26/03) em que segmentos da população tenham alcançado imunidade.

Seria de extrema irresponsabilidade a aprovação do status da Covid-19 de pandemia para endemia neste momento. Mais uma fake no governo de fakes! Ainda estamos tendo mortes diárias e a vacinação continua em passos lentos. Precisamos continuar nos protegendo, cotidianamente, do vírus que destruiu tantos sonhos e famílias.

Com informações dos jornais G1, O Globo, Correio Braziliense e o Boletim 10 a 11 do Observatório Covid-19 da Fiocruz