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Um novo ensino médio, mas um projeto antigo: sucatear a educação pública

Imagine que você é um estudante do ensino médio, prestes a cursar o 3º ano enquanto se prepara para o ENEM. De repente um novo formato de ensino é instaurado e todo o seu planejamento vai por água abaixo. Ou ainda, se imagine como um estante do 9º ano do ensino fundamental, que ainda não conhece o ensino médio, mas sonha em estudar numa Universidade Federal. Qual seria sua reação ao saber que deve escolher apenas um percurso curricular, que não abarca todas as áreas de conhecimento e não te prepara para o exame? Talvez o sonho da Universidade se torne cada vez mais distante, enquanto a busca por cursos profissionalizantes e/ou técnicos surgem como única opção de subsistência.

Essa pode ser a realidade de milhares de estudantes pelo Brasil. O “Novo Ensino Médio” foi aprovado como lei em 2017 e começa a ser implantado em 2022. Trazendo várias mudanças, o programa altera permanentemente o currículo escolar de todos os estudantes da rede pública e privada.

A carga horária atual do ensino médio é de 2,4 mil horas. Com o “Novo Ensino Médio” passará a ter 3 mil horas, sendo que 1,8 mil horas serão para aprendizagens consideradas  obrigatórias pela Base Nacional Comum Curricular e 1,2 mil horas restantes serão compostas por “itinerários formativos”. Estes itinerários serão flexíveis, cabendo a escola  oferecer ao menos dois dos cinco itinerários, sendo que um é de formação técnica profissional e quatro são de aprofundamento nas áreas de conhecimento de Linguagens, de Matemática, de Ciências da Natureza ou Ciências Humanas e Sociais.

A mudança que é anunciada como uma renovação positiva para o ensino médio, representa na verdade um retrocesso gigantesco. Imagine que sua escola não ofereça o “itinerário formativo” que você gostaria de seguir? Mais que isso, como exigir de um jovem de 15 anos que faça uma escolha consciente e segura que condicionará todo seu percurso durante o ensino médio, com impacto direto em sua escolha profissional? A forma que o ensino médio existe hoje, embora tenha problemas, permite uma formação mais universal para os estudantes , os preparando e dando o mínimo de base em todas as áreas do conhecimento que compõe o currículo escolar.

Além disso, o “Novo Ensino Médio” ameaça não só a formação dos alunos nesses três anos, mas coloca em xeque toda rede de ensino superior. Os percursos curriculares a serem implementados, aumentarão ainda mais a distância que existe entre o ensino público e privado, uma vez que privilegia as escolas elitizadas e com maior infraestrutura para oferecer todos os itinerários formativos. As escolas da periferia ou do interior que passam por ampla precarização, dado o criminoso desinvestimento em educação pública perpetrado pelo Estado brasileiro, dificilmente terão condições de oferecer o ensino médio nas mesmas bases que as escolas particulares. Com isso, os avanços que obtivemos com a entrada de jovens de escola pública e pertencentes as minorias sociológicas nas universidades na última década, irão por água abaixo. O “Novo Ensino Médio” é a tragédia anunciada pelo Ministro da Educação, Milton Ribeiro, quando afirmou que “a universidade não é para todos”.

É dever das e dos estudantes, professores e professoras, técnicos e demais profissionais da educação, se levantarem contra essa medida. O adiamento da implementação do Novo Ensino Médio pode garantir uma nova discussão e maior protagonismo dos professores e professoras, assim como juvenil nesse processo.  Nós do APUBH mais uma vez nos colocamos em defesa da Educação e ao lado dos milhares de estudantes do país. Educação não é mercadoria e não deve ser desmantelada ao bel-prazer desse Governo genocida e inimigo da educação!