Acontece no APUBH

O Brasil em lugar de destaque entre as principais Universidades do mundo! A que custo?

Ricardo Augusto de Souza (FALE/UFMG) e
Julie Amaral (Psicóloga Social e do Trabalho) –
Núcleo de Acolhimento e Diálogo (NADi) do APUBHUFMG+

 

 A revista Nature, de acordo com notícia recente[1], publicou um estudo sobre a onda de desistências de docentes da carreira acadêmica. De acordo com a pesquisa, as desistências se devem à crescente pressão para ganhar subsídios no contexto pandêmico. Essa pressão acaba por desencadear ou exacerbar um cenário de competitividade intensa dentro dos programas das Universidades.

Ainda de acordo com a notícia, no Brasil, essa realidade não é diferente, uma vez que, nos últimos 10 anos, houve redução de 84% dos recursos destinados ao desenvolvimento de pesquisas no país, ou seja, de R$ 11,5 bilhões para R$ 1,8 bilhão. No governo Bolsonaro, aproveitando-se do contexto pandêmico, houve um agravamento dessa situação, sendo que os ataques aos orçamentos públicos por meio de cortes nos recursos discricionários, levam à preocupação dos docentes, além de exacerbar, obviamente, a precariedade das condições de trabalho.

Carreiras na docência e na pesquisa em Universidades são posições laborais que capturam intrinsecamente as subjetividades de seus ocupantes. Tais carreiras dependem inexoravelmente de trajetórias formativas de longuíssima duração, permeadas por rituais de avaliação de competências penosos e que podem exigir a procrastinação da conquista de maior poder aquisitivo, por tempo significativamente maior que outras possibilidades de inserção profissional de nível superior. Assim, para um diagnóstico completo do mal-estar subjetivo que notoriamente afeta docentes universitários e pesquisadores no Brasil, não há possibilidade de negligenciarmos as insistentes campanhas de insulto e difamação encampadas pelo próprio presidente da república e por seus ministros, em especial por ocupantes do próprio Ministério da Educação. Tais campanhas, é claro, alinham-se perfeitamente ao negacionismo e à irracionalidade que compõem as estratégias fascistas da ultradireita. Infelizmente, não só no Brasil, tal como sugere o relato da Nature, que os insultos e a difamação propagados pela extrema direita impactam negativamente o grau de satisfação e bem-estar de docentes e pesquisadores com suas escolhas de vida.

Em recente publicação do ranking de Universidades, o Brasil conserva a marca de 35 universidades entre as melhores do mundo. Mas a que custo? Diante do avanço da precarização das condições de trabalho, de recursos cada vez mais escassos, da pressão por produtividade que não acompanha ou considera a redução das condições ideais de produção de pesquisas de qualidade e de um discurso político de insistente difamação, professores e professoras mantém o alto nível suas pesquisas. Tem sido comum ouvir docentes relatando que têm lançado mão de recursos financeiros pessoais para manutenção de suas pesquisas, de laboratórios e até mesmo despesas com estagiários, alunos de graduação ou pós-graduação.

Além do custeio financeiro, o desgaste psíquico e emocional, a sensação de abandono do ensino público de qualidade, a desesperança e desamparo tem afetado toda comunidade acadêmica, que assiste às insistentes e intensas tentativas do seu desmantelamento. A insegurança atinge alunos de pós-graduação que não conseguem bolsas de estudos para manter-se nos programas e, claro, docentes que, por vezes veem pesquisas serem interrompidas por falta de recursos. Trabalhadores e alunos das Universidades Públicas brasileiras têm garantido o país em lugar de destaque entre a intelectualidade mundial a duras penas.

Desamparados(as), desesperançados(as) e sem condições adequadas de trabalho, as e os docentes acabam por naturalizar a competitividade interna e o consequente sofrimento. A precariedade impele a dificuldade de criação de laços solidários, por isso, o APUBH UFMG+ vem constantemente denunciando, a luta pela reposição dos investimentos na universidade pública, gratuita e de qualidade social é de primeira ordem para a categoria, para possibilitar saídas coletivas e para promoção de qualidade, sentido e saúde no trabalho.

 

Veja a matéria completa sobre a onda de desistências das Universidade no link: https://diplomatique.org.br/uma-onda-de-desistencias-o-desgosto-generalizado-nas-universidades/

 

[1] https://diplomatique.org.br/uma-onda-de-desistencias-o-desgosto-generalizado-nas-universidades/