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Em 2022, bancos tiveram lucros bilionários, enquanto a população ficou mais endividada

No mês passado, um levantamento do MoneYou e da Infinity Asset Management revelou que o Brasil está no topo do ranking global de juros reais. Não era para menos. Na contramão da análise de especialistas, da estagnação da economia e do próprio bom-senso, no início de maio, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) insistiu em manter, pela sexta vez consecutiva, a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano.

Os juros elevados têm sido um entrave para a geração de emprego e para o desenvolvimento da indústria no país, além de contribuir para o endividamento das famílias brasileiras. Ademais, a decisão do BC vai na contramão do que foi decidido pelo povo, uma vez que vai contra o projeto político  do governo eleito para o Brasil. Em reposta, movimentos sindicais e populares, em todo o país, protagonizam protestos públicos contra a alta da SELIC. Ainda assim, o COPOM teima em manter o mesmo índice. E para nós, fica a dúvida do motivo que sustenta essa decisão.

O estudo “Desempenho dos bancos 2022”, publicado essa semana pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), pode nos dar algumas pistas para entender essa situação. De acordo o levantamento, os cinco maiores bancos do país alcançaram um lucro líquido, no ano passado, de cerca de R$ 106,7 bilhões. Com isso, houve registro de aumento de 9,25% em relação ao ano anterior, mesmo com o crescimento acanhado da economia nacional.

Na verdade, como observou a economista Vivian Machado, o montante acumulado dos bancos foi, justamente, no período de manutenção da taxa SELIC. A economista integra a subseção do DIEESE na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT), que conduziu o estudo do DIEESE.

E enquanto banqueiros ficaram mais ricos, no entanto, a população brasileira enfrenta um cenário bem diferente. Como apontam números do próprio Banco Central, em abril deste ano, o percentual de famílias brasileiras com dívidas chegou a 78,3%. Índice esse que é superior aos 77,7%, registrados no mesmo período do ano passado. Inclusive, em 2022, o BC registrou o aumento de 20,7% no uso de crédito por pessoas físicas. Sendo que, desse montante, 85% dizem respeito ao uso de cartão de crédito, que possui taxas de juros de mais de 410% ao ano.

Dessa maneira, mais uma vez, fica evidenciada a desigualdade do país, onde certas parcelas da sociedade lucram com essa infame realidade. E a situação fica ainda mais alarmante ao perceber que o alto endividamento da população se deveu, em grande parte, à necessidade de arcar com contas do cotidiano e outros itens básicos, como a compra de alimentos.

É  muito contraditório  quando um órgão de Estado – ocupante estratégico da definição da política monetária do país, como é o caso do Banco Central – está mais interessado em garantir altos lucros e dividendos para rentistas do que em contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país. Não é de se espantar, portanto, o interesse do grupo neoliberal, que ocupou o Planalto até o ano passado, de promulgar uma lei para desvincular as decisões do BC das políticas de governo.

Diante desse cenário, seria um engano esperar que a atual administração do Banco Central agisse de outra forma. Os movimentos comprometidos com a Democracia e com os rumos do país devem manter a pressão sobre o Banco Central e o Poder Público, pois só através de nossa mobilização e luta coletivas podemos ter esperança de que sejam implementadas políticas econômicas que contemplem a população.