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Disseminação de fake news e desconfiança na ciência são tema de mesa redonda

Professores Yurij Castelfranchi, Ernesto Santos e Virgílio Almeida na mesa redonda.

 

Em tempos de pandemia de coronavírus, é necessário estar atento às inúmeras informações que são difundidas, a todo instante, nos mais diferentes canais de mídia. Nesse momento de pânico social, cientistas e especialistas de todo o mundo são convocados para identificar, explicar e solucionar a problemática. A questão é, e quando a própria ciência é vítima desse fluxo deliberado de desinformações?

Essas questões foram discutidas na mesa redonda “Ciência e fake news”, que contou com a participação dos professores da UFMG Ernesto Perini Santos (Filosofia), Virgílio Almeida (Ciência da Computação) e Yurij Castelfranchi (Sociologia). O evento transdisciplinar aconteceu no dia 13 de março e foi uma promoção do APUBH e a SBPC – Secretaria Regional de Minas Gerais. Assista na íntegra aqui.

Questões transdisciplinares: epistemologia, computação e sociologia do conhecimento

Iniciando a mesa redonda, o professor Ernesto atribui a proliferação de fake news e o descrédito à ciência a um desequilíbrio de confiança nas instituições causado pela internet. Segundo ele, a possibilidade de uma comunicação sem intermediação fez proliferar informações, cuja checagem é difícil, desestabilizando um “terreno comum epistêmico”. Apesar disso, explicou que o fenômeno não é novo, e tem como base o sistema de crenças individuais e sociais. O que um indivíduo ou uma sociedade aceita como crível se relaciona diretamente às suas visões de mundo e crenças compartilhadas. A questão da distribuição social da ciência também interfere em quais instituições – sejam governos, ciência ou religião – são dignas de confiança e quais não são. “No entanto, mesmo os não especialistas precisam ter confiança nas instituições. E todos precisam confiar, pois ninguém é especialista em tudo”, pontuou.

Em seguida, o professor Virgílio apresentou alguns resultados de seus projetos de pesquisa que envolvem a disseminação de fake news na internet, que já foram publicados no New York Times. Segundo ele, as plataformas digitais e seus algoritmos coletam dados e tomam decisões a todo momento, sem nenhuma transparência para os usuários. Após a análise de cerca de 20 mil vídeos e 6 milhões de comentários no YouTube, o pesquisador notou uma tendência de direcionamento para vídeos de extrema-direita e com conteúdos extremistas.

Último  convidado a  se apresentar, o professor Yurij tratou da divulgação científica como uma possível solução para contra-atacar as fake news. Ele explicou que, nesse, o produto é o pânico gerado pela desinformação, e é fruto de um processo construído deliberadamente por agentes que desejam desestabilizar a opinião pública. Apesar disso, pesquisas realizadas no Brasil e mundo mostram que a ciência ainda é uma forte instituição nos dias atuais, com altos índices de confiança da população. Com esses dados, Yurij propôs que a chave para combater os danos causados pelas fake news seja a construção contínua da confiança em instituições como as universidades de pesquisa, não só através da comunicação da ciência, mas também através de estratégias que impactam diretamente a população, como ações de extensão. “É necessário um trabalho social e político para reparar o tecido democrático”, completou.