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Desafios educacionais em tempos de pandemia: questões levantadas no Simpósio Intersindical

O caos gerado pela pandemia da Covid-19 e agravado pelo atual governo do país impõe uma série de novos desafiospara o país, bem como expõe e agrava problemas que já existiam. A crise afeta diretamente a Educação, criando a necessidade de diálogo e intervenção da sociedade civil organizada. Com este intuito, sindicatos e outras entidades que representam a área em Minas Gerais, incluindo os ensinos básico, tecnológico e superior, realizaram o Simpósio Intersindical – Desafios Educacionais em Tempos de Pandemia: Conflitos e contradições do trabalho educacional.

O Simpósio foi promovido,entre os dias 10 e 14 de agosto, pelo APUBH UFMG+, em parceria com APG/UFMG, DCE/UFMG, Sindifes, SindRede, SindCefet, Sind-UTE/MG e SinproMinas.Ao todo, o evento contou com mais de mil inscrições. Além disso, centenas de pessoas acompanharam as transmissões simultâneas por meio do Youtube e da plataforma Zoom. Os vídeos das palestras continuam disponíveis no canal do APUBH UFMG+ no Youtube: https://tinyurl.com/canaldoapubh

O secretário-geral do APUBH professor Sebastião de Pádua declarou que o Simpósio Intersindical foi um evento que surpreendeu positivamente a todos pelo alcance e impacto. “Ficamos muito felizes com o resultado do Simpósio Intersindical, em primeiro lugar porque essa discussão era necessária neste momento. A iniciativa foi muito elogiada pelos palestrantes e participantes. Em segundo, porque conseguimos juntar um grupo de 20 palestrantes, com grande experiência em seus campos, que de forma generosa compartilharam muitos dados que vão nortear as nossas ações. E em terceiro, porque conseguimos realizar uma proposta que nasceu da base docente em uma assembleia, foi criado um Grupo de trabalho e conseguimos dialogar com oito entidades e Sindicatos em uma forma muito positiva”, analisou o professor.

“Não posso deixar de mencionar a intensa participação dos inscritos, com mais de 400 participantes em média todos os dias e em torno de mil visualizações em média por dia de Encontro, no Canal do Youtube. Nossos próximos passos serão a transcrição do Simpósio, e o encaminhamento das várias ideias e propostas aos Sindicatos e entidades promotoras”, comentou o secretário-geral do APUBH.

A seguir, realizamos um apanhado das principais questões levantadas ao longo do Simpósio, nas palestras e debates.

Questões pedagógico-educacionais

Em todo o estado, as aulas presenciais foram interrompidas, atendendo às recomendações das autoridades sanitárias. Para dar continuidade ao ano letivo, foi aventada a realização de aulas por meio remoto.Essa nova realidade, no entanto, escancarou desigualdades sociais, que já existiam antes da pandemia. As condições de professores e estudantes diferem radicalmente entre as diferentes regiões e camadas da população, sendo agravada entre os cidadãos e nas regiões de maior vulnerabilidade social.

O acesso de banda larga à internetnão é uma realidade para grande parte de estudantes, professores e outros profissionais da Educação. Além disso, há a falta de equipamentos apropriados para essa forma de interação mediada. Na categoria docente, por exemplo, há a carência de condições adequadas de trabalho e formação para ministrar aulas através de recursos digitais.

Questões psicológicas, sanitárias e raciais

Estamos vivenciando uma situação atípica que pode provocar sérias conseqüências físicas e emocionais nas pessoas, assim como agravar condições preexistentes. A saúde da mente e do corpo pode ser afetada, por exemplo, pelo stress acarretado pela nova modalidade de trabalho ou pela preocupação com a própria saúde e com a de amigos e parentes. Esses efeitos podem desencadear casos de ansiedade, pânico e depressão, entre outros.

Por outro lado, o distanciamento social também tem agravado a falta de trabalho e de acesso às condições básicas de vida, entre as pessoas historicamente vulnerabilizadas. É o caso da população negra e periférica, de membros da comunidade LGBTQIA+, dos indígenas, dos quilombolas e dos camponeses.

Do ponto de vista epidemiológico, experiências recentes em outros países como Israel e França mostraram o erro do retorno da educação presencial durante a pandemia, mesmo na situação de abaixamento da curva, provocando um aumento do contágio de professores, alunos e familiares. Isso obrigou os governos destes países a recuar em suas decisões.

Questões político-tecnológicas

O ensino remoto coloca em pauta, ainda, questões relacionadas ao uso de plataformas digitais, que foram desenvolvidas e são geridas pelas gigantes da tecnologia, como a Google e a Microsoft. Ao fazer uso destas ferramentas, os usuários possibilitam que grandes corporações multinacionais tenham acesso a informações pessoais – bem como dados da universidade, no caso da comunidade acadêmica.

Esse compartilhamento de dados atende aos interesses neoliberais, que mapeiam e monetizam as informações dos usuários. Essa modalidade de ensino contribui, assim, para a consolidação do Capitalismo de Vigilância. Iniciativas para o uso de plataformas livres no ensino remoto das Universidades Públicas foram discutidas.

Questões jurídico-legais

O país tem vivido uma crescente vigilância ideológica do trabalho docente, que cerceia o desenvolvimento do pensamento crítico e promove a censura da liberdadedeensinar e aprender. Por isso, é preocupante que o formato adotado nas aulas digitais possa contribuir para o agravamento desse cenário. Há o receio de que esses professores sejam alvos de vigilância ou do uso inadequado do conteúdo de suas aulas. Essa situação incorre na necessidade de que sejam resguardados o direito de imagem e voz e os direitos autorais, sobre as aulas e a propriedade intelectual.

Mesmo que estejam realizando as suas funções por meio de teletrabalho, os direitos dos trabalhadores devem sempre ser assegurados. O desenvolvimento do trabalho, inclusive, tem sido prejudicado pela falta de acesso a recursos e infraestrutura adequadas. Além disso, é importante notar a invasão de privacidade daqueles que precisarão transmitir as aulas de dentro de suas residências.  Importante salientar que é direito do Professor exigir que os meios e ferramentas para o ensino remoto sejam disponibilizados para o docente sem custos para o mesmo.

Questões político-sindicais

As contradições próprias do sistema capitalista vêm sendo expostas e agravadas pela pandemia da Covid-19. O governo Bolsonaro se prova inapto para lidar com a crise, que superou a marca de 110milmortos e se aproxima de 3,5 milhões de casos confirmados oficialmente. Mais do que isso, a desigualdade social está se acentuando, com os atuais governantesseaproveitando da tragédia para aprofundar a implementação no país do projeto ultraliberal.A população brasileira paga pelas decisões subservientesaos interesses do mercado financeiro, em detrimento das necessidades da maior parte da população. Ogoverno se demonstra reiteradamente pouco afeito às liberdades democráticas e aos direitos sociais e trabalhistas.

Diante desta conjuntura, as palestras e debates entre os participantes, ao longo dos cinco dias de Simpósio,reforçaram o papel da atuação política da sociedade civil organizada. Aatuação política de movimentos populares e sindicatos é fundamental para que possamos superar a crise política e sanitária que se abateu sobre o país.

Assistam, comentem e compartilhem os vídeos do Simpósiojunto a seus contatos. É fundamental que possamos dar sequência ao debate entre os pares. E assim, a partir dessa análise de conjuntura, buscar formas de intervenção, por meio da mobilização e da organização sindical, popular e política.