Comunidade universitária discute o retorno presencial com reitora da UFMG
APUBH, SINDIFES, APG, DCE e COLTEC participaram de reunião com a administração central e o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da universidade.
Na tarde de quarta-feira (19/01), entidades representativas dos setores da comunidade universitária se reuniram com a reitoria e o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da UFMG, para discutir o estágio atual do plano de retorno presencial. A etapa 3 do plano, adotada desde o dia 10/01, prevê o início do retorno da ocupação integral das instalações físicas da Universidade, a começar pela retomada das atividades administrativas.
O APUBH UFMG+ foi representado, na reunião, pela professora Maria Rosaria Barbato (presidenta), professora Maria Luiza Grossi Araújo (secretária-geral), professor Eliezer Raimundo da Costa (diretor financeiro), professora Solange Godoy (primeira suplente da diretoria executiva e integrante do APUBH/NADi), Marco Antônio Scarassatti (membro da Diretoria de Articulações e Mobilizações Políticas) e professora Flávia Pilecco (Conselho de Representantes / Faculdade de Medicina da UFMG).
A administração da UFMG foi representada pela reitora Sandra Regina de Almeida Goulart, pelo vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, pela pró-reitora de Graduação, professora Benigna Maria de Oliveira, pela pró-reitora de Recursos Humanos, professora Márcia Maria Magela, pró-reitora adjunta de Recursos Humanos, professora Leônor Gonçalves. Também estiveram presentes a professora Cristina Alvim, coordenadora do Comitê de Enfrentamento do Coronavírus, e a professora Flávia Pereira Lima, diretora do Centro de Comunicação (CEDECOM/UFMG).
A reunião também contou com a presença da servidora técnico administrativo, Cristina del Papa, coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (SINDIFES), de Carla Teixeira, da Associação de Pós-Graduandos (APG/UFMG), de Carol Leal e Caroline de Souza, do Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFMG), e Maria Beatriz Turci Cardoso, representante do Grêmio estudantil do COLTEC.
A reunião teve início com a fala da coordenação SINDIFES, Cristina del Papa, que informou a reitoria sobre as dificuldades vivenciadas pelos técnicos administrativos com a implantação da etapa 3 do plano de retorno às atividades presenciais na UFMG. Destacou as condições físicas de espaços de trabalho com pouca circulação de ar, a distribuição de apenas 2 máscaras pff2 aos funcionários técnicos administrativos. Indicou também a comunicação ainda pouco eficaz na tomada de decisão nas unidades em que se registraram casos de Covid-19, a exemplo do COLTEC e outras que se tem evidências, sem uma comunicação efetiva das direções. A Coordenação do SINDIFES registrou as angústias e o medo da categoria para enfrentar o retorno num cenário de alastramento dos casos da Ômicron e o congestionamento do sistema de saúde.
Em sua fala na reunião, a presidenta do APUBH UFMG+ destacou o diálogo sobre o tema, promovido pelo sindicato junto aos professores, através da realização primeiro de reunião com o Conselho de Representantes e sucessivamente de Assembleia de professores realizada no dia 13/01, cujas deliberações e encaminhamentos foram formalizados em ofício, encaminhado pelo sindicato à reitoria da UFMG, no dia 14/01. (https://apubh.org.br/atividades/oficio-no-01-apubh-2022/)
A professora Maria Rosaria Barbato apresentou o posicionamento da categoria docente, contra o retorno das atividades 100% presenciais nos campi da Universidade neste momento da pandemia. Reforçou a posição da categoria de professores da UFMG, que a ciência e a responsabilidade social da Universidade devem nortear esse processo.
Na ocasião da assembleia, as professoras e os professores debateram medidas fundamentais, para garantir a segurança sanitária no retorno às atividades presenciais programadas para o primeiro semestre letivo de 2022, no final do mês de março. A professora destacou a necessidade de que as normatizações da UFMG não deem margem a interpretações, como ocorreu no COLTEC, Centro Pedagógico e em Montes Claros, com o retorno presencial de docentes e estudantes, lembrando que a etapa 3 do plano de retorno às atividades presenciais na UFMG, não faz previsão para atividades com estudantes e professores no 2021/2º. Entre outras colocações, demonstrou também a preocupação em relação ao modo como será realizada a fiscalização das medidas de segurança sanitária, como o uso de máscaras e o distanciamento físico, especialmente nas salas de aula convencionais e laboratórios. Reforçou ainda a necessidade de se retroceder à etapa anterior do plano de retorno, diante das demandas apresentadas e da conjuntura atual da pandemia, bem como da exigência de adoção de passaporte vacinal.
A professora Solange Godoy expressou preocupação com a perspectiva de que será necessário aprender a conviver com o vírus. Partindo da experiência em sua unidade, a Escola de Enfermagem, em que está trabalhando presencialmente, ela destacou a importância de garantir condições adequadas de segurança sanitária para docentes, estudantes e técnicos administrativos para possibilitar o retorno seguro. “Precisamos de um mínimo de segurança: a máscara é muito importante, o distanciamento físico é igualmente importante; há ainda a questão das salas, muitas delas, não são bem ventiladas. No curso de Enfermagem há salas com 60 alunos, e nessa pandemia não podemos pensar em colocar tantos estudantes numa sala”, ponderou a professora. O professor Marco Antônio Scarassatti chamou a atenção que, até o momento, temos atentado para os dados da ciência. O professor argumentou que, o que está colocado é a interpretação dos dados científicos, que agora estão sendo mobilizados no sentido de se justificar o retorno presencial, mesmo em uma conjuntura de aumento da curva de infecções, o que não ocorreu no passado. Afirmou ainda que é importante nos voltarmos também para a perspectiva sensível sobre a realidade atual. Nesse sentido, observou que se afloram as dificuldades dos trabalhadores técnico administrativos na Universidade, pelos desafios impostos pela pandemia, uma vez convocados em 10/01 sem saber muito bem como se comporta essa nova cepa, e ainda, com o aumento das internações e o congestionamento nos atendimentos hospitalares.
O professor lembrou que o início do semestre letivo será no final de março/2022, e uma interpretação de demonstração de atenção ao trabalhador que está na ponta, com risco de adoecimento e das pessoas mais próximas deve ser considerada. Conclamou “que a discussão que se faz neste momento com a administração da UFMG é não só da solidariedade aos trabalhadores, mas também a atenção do que estamos vivendo de uma perspectiva sensível. A dinâmica da pandemia mostra que se deu um novo giro e precisamos dar atenção aos dispositivos do distanciamento social, o comprovante vacinal, todos imprescindíveis, e que fará a diferença dentro da Universidade”. Ao mesmo tempo, ainda segundo ele, há o cenário de ataques às universidades e à educação públicas.
Os estudantes também se manifestaram. Carol Leal e Caroline de Souza, que falaram em nome da UNE e do DCE-UFMG, afirmaram que o Conselho de Entidade de Base preparou uma carta com quatro eixos centrais, com demandas dos estudantes. Os eixos apontam para a importância de se aprovar o comprovante vacinal; a testagem em massa da comunidade acadêmica deve ser considerada para complementar o Monitora Covid; há ainda a necessidade da reformulação do regime escolar, e que neste novo regime nenhum estudante pode ficar para trás, o que inclui a busca ativa para a permanência dos estudantes e a luta pela educação e continuidade da qualidade da educação pública da nossa Universidade, uma vez que a Universidade não foi pensada e organizada para o ensino virtual. Os estudantes alertam que, a Universidade que vamos encontrar, não será a mesma que deixamos! É importante, conclamam os estudantes, que no processo de transição e readaptação da volta, implique em uma participação ampla e comprometida de toda comunidade acadêmica para a redução de danos.
Carla Teixeira, representando a APG-UFMG, chamou a atenção de que os estudantes da pós-graduação querem voltar, mas estão com medo. Afirmou ainda que as entidades precisam pensar o compromisso com a sociedade e que a maioria dos trabalhadores não teve a oportunidade do trabalho remoto. Afirmou que a cobrança de um passaporte vacinal é equivocada, e que se deve trabalhar com a ideia do comprovante vacinal. Queremos que as pessoas vacinem, nos tratando como comunidade, reforçou a representante da APG. Defendeu ainda, que o nosso inimigo comum é o governo federal e sua necropolítica.
A reitora da UFMG elencou as medidas institucionais que vêm sendo adotadas, a exemplo da constituição do Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus, a adequação de questões acadêmicas e especificidades das unidades, além da elaboração do plano de retorno, entre outras ações. A reitora, Sandra Regina de Almeida Goulart, expressou ainda a preocupação em se manter as atividades da Universidade, tendo em vista o compromisso da instituição com a sociedade. Destacou os esforços da Universidade para garantir a segurança no retorno presencial, contudo, reconheceu que a instituição não tem possibilidades de fornecer as condições estruturais ideais, podendo, porém, proceder com adaptações.
A reitora argumentou também sobre a dificuldade de retroceder à etapa 2 diante do atual cenário, que é diferente do anterior devido ao avanço da vacinação, sendo que o ensino em remoto tem mostrado suas limitações e os alunos tem reclamado, pedindo para voltar. Sobre a adoção de um comprovante vacinal, deixou entender que a administração neste momento prefere pensar em medidas mais acolhedoras, que não tenham caráter punitivo, mas de conscientização (demonstrar a importância da vacina e aumentar os postos de vacinação na Universidade, trabalhar para enfrentar o medo, buscar ativamente a população acadêmica que não vacinou, apoiar e orientar os terceirizados). Reforçou a necessidade de levar em consideração as discussões colocadas e os apontamentos realizados na reunião, como sugerido por Leônor Gonçalves (Pró-Reitora Adjunta de Recursos Humanos), e acenou para a possibilidade que, após a reflexão da administração da UFMG e seus colegiados superiores, seja feita uma nova reunião.
Maria Rosaria Barbato, manifestou a sua angústia ao final da reunião. Ela se mostrou preocupada com a manutenção da etapa 3 do plano de retorno e a ausência de disposição a adotar o passaporte/comprovante vacinal, do qual destacou a função de responsabilidade social em contraposição à leitura punitiva feita pela administração central. Também manifestou preocupação com a ausência de respostas aos docentes sobre as medidas de segurança e a responsabilidade acerca da fiscalização do uso da máscara e do distanciamento social, assim como sobre a ausência de um padrão interpretativo das normas da UFMG, que acaba onerando docentes de algumas unidades. “Há uma questão psicológica muito grande que deve ser levada em conta. Para todos nós, já se passaram dois anos de tensionamento, de sofrimento, de perdas de entes queridos e, as atividades de ensino presencial, por natureza, são atividades que aglomeram pessoas e nos preocupam”. Segundo a professora, “retroceder no plano de retorno da UFMG em um momento de ampla circulação do vírus e avanço da Ômicron, seria uma forma não apenas de preservar a saúde física da comunidade acadêmica, mas de dar atenção a uma demanda que vem dos diferentes setores da Universidade, mostrando também compreensão do momento difícil que cada um e cada uma está vivendo, trazendo um alivio numa já difícil situação”. De acordo com a Presidenta do APUBH, “a etapa 3, numa fase de alto número de contágios, ainda em ausência de exigência de passaporte vacinal, seria apenas razão de mais angustia, pois a comunidade conviveria com a preocupação legítima de se contagiar (com possíveis sequelas) e, sobretudo de contagiar pessoas não vacinadas, que podem sofrer com consequências muito graves”.
Os técnicos administrativos alertaram sobre a possibilidade de deflagração de uma greve sanitária, que já estava sendo discutida pela categoria, considerando as insatisfações manifestadas e a urgência de respostas para os servidores técnicos administrativos, possibilidade que será também avaliada em diálogo com a categoria docente.