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A quem interessa manter os juros nas alturas?

No dia 19 deste mês, o jornal Folha de S. Paulo publicou o seguinte editorial: “Autonomia financeira do BC é passo à frente”. Além de elogiar a desvinculação das decisões do órgão do Poder Executivo, a publicação também exalta a condução do bolsonarista Campos Neto, que está à frente do Banco Central. A defesa à atual condução da política monetária pelo BC é tão enfática que o jornal chega, até mesmo, a reclamar das críticas que Campos Netos sofreu, por parte do governo federal.

Apesar dessa análise, a suposta competência da atual gestão do Banco Central é atualmente questionável, pelo menos do ponto de vista da classe trabalhadora. Isso pode ser observado na decisão, defendida por Campos Neto, de manter a taxa básica de juros da economia nacional, a Selic, nas alturas. Diferentes estudos comprovam como a alta dos juros continua a frear o desenvolvimento da indústria nacional, assim como a geração de empregos.

A situação é tão grave a ponto de poder comprometer, até mesmo, o prato do povo brasileiro. Algo que foi muito bem explicado pela diretora-técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Adriana Marcolino, em entrevista ao Jornal de Rádio da CUT. Como explicou a especialista, a alta dos juros seria um mecanismo para controlar a inflação, uma vez que serviria para conter o consumo. No entanto, ainda de acordo com ela, a inflação vem sendo pressionada, nos últimos meses, pelo grupo da alimentação.

Ou seja, nas palavras diretora-técnica do DIEESE: “É um absurdo pensar que o que se quer é conter os preços que pressionam a inflação com a redução do consumo de alimentos pelos trabalhadores e trabalhadoras, que eles deixam de comer”.

Diante desse cenário, fica a pergunta: a quem, de fato, atende a política econômica da atual gestão do Banco Central? Não é difícil, porém, chegar a uma conclusão. Basta lembrar que o veículo que publicou o editorial, citado acima, faz parte dos empreendimentos da família Frias. A mesma que, atualmente, lucra com o sistema financeiro, por meio do PagBank. Apenas no ano passado, o banco registrou lucro líquido de R$ 1,8 bilhão. Seria um ledo engano, contudo, imaginar que a conivência do projeto neoliberal se limita a este veículo. Na verdade, a conivência com os interesses do mercado financeiro são uma constante na mídia burguesa.

E os juros continuam altos. Vide a decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do BC, na última quarta-feira (31/07), de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano –  a mesma definida na última reunião do órgão, realizada em junho. Lembrando que, apenas naquele mês, o Estado gastou cerca de R$ 94,9 bilhões com os serviços financeiros da dívida. Um dado relevante, considerando que os valores se relacionam, diretamente, com a taxa básica de juros.

Dessa maneira, vemos o atual presidente do órgão se utilizar da “autonomia”, conquistada na gestão do Estado pela extrema direita, para atuar contra a política econômica escolhida nas urnas. Afinal, o dinheiro público está sendo injetado em rentistas e investidores estrangeiros, através do pagamento de uma despesa comprovadamente superfaturada e fraudulenta, como comprovado pela Auditoria Cidadã da Dívida Pública. O órgão segue, assim, fiel ao projeto econômico neoliberal. Em outras palavras, rentistas lucram, enquanto a população paga a conta.