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Setembro amarelo: marketing ou real preocupação com a saúde mental?

O dia 10 de setembro foi escolhido como dia mundial de prevenção ao suicídio e, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em conjunto com o Conselho Federal de Medicina, promove no país a campanha do mês de prevenção ao suicídio: o Setembro Amarelo. Desde sua inauguração, a campanha foi incorporada por instituições públicas e privadas. Na maioria das vezes, especialmente em instituições privadas, a campanha é usada como estratégia de endomarketing, sob o subterfúgio da promoção de saúde mental dentro das corporações. No entanto, o que se percebe é que a abordagem do tema ocorre de maneira extremamente psicologizante, individualista e culpabilizante. O viés moralista, ao contrário do que a campanha propõe, traz ainda mais sofrimento às pessoas que, afinal, são considerada(o)s como um fracasso por não conseguirem alcançar os padrões de “uma boa saúde mental”, por não suportarem as pressões do cotidiano precarizado d e trabalho e vida, como se isso fosse quantificável e possível, diante de tantos atravessamentos sociais.

Os contextos históricos, econômicos e sociais são condições fundamentais para compreendermos as formas de viver, adoecer e morrer de dada sociedade. O avanço dos valores neoliberais nos contextos de trabalho, seja no âmbito privado ou mesmo público, como nas Universidades Públicas, assume um papel no incentivo ao individualismo, à competitividade e, consequentemente, o rompimento de laços solidários e coletivos. Esse sujeito, cada vez mais pressionado, isolado e “responsável único” pelos próprios resultados e pela própria saúde mental e física, precisa, a cada dia, lançar mão de estratégias individuais para sobreviver às investidas capitalistas.

A lógica de uma campanha específica por si só também é bastante problemática quando na verdade é preciso debater o tema de forma perene, séria e crítica, assim como tantos outros, além, é claro, de fortalecer políticas públicas para a efetiva promoção de saúde mental. Esse é um tema da saúde pública, de políticas públicas e não pode transformar-se em ferramenta limitada e mercadológica de marketing em empresas e instituições.

As estratégias individuais podem ser legítimas, no entanto, muitas vezes insuficientes. É preciso considerar que “o sofrimento psíquico está associado a fatores sociais, como a falta de condições objetivas de reprodução material da vida; a desigualdade de acessos e condições de vida; as opressões de cunho racista, machista, lgbtfóbico, capacitista, classista, entre outras violências estruturais de nossas relações[1]. Por isso, medidas coletivas que visam a revogação de emendas de cortes de financiamento público da saúde e da educação, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e sua Rede de Atenção Psicossocial, pautada na lógica antimanicomial, e a revogação da precarização das condições de trabalho imposta pelas reformas trabalhistas são fundamentais para a efetiva prevenção de adoecimentos mentais e suicídios. Além disso, a luta constante por compromissos políticos que visem condições de trabalho, cuidado e vida equânimes, traçadas na proteção social e dignidade devem permanecer nos nossos objetivos cotidianos, enquanto sindicato, categoria docente e classe trabalhadora deste país.

 

Referências do texto

Setembro Amarelo: por que precisamos de uma postura crítica e reflexiva para não provocarmos mais sofrimentos?

https://psicologianosuas.com/2020/09/11/setembro-amarelo-o-que-cabe-ao-suas/

 

[1] https://crppr.org.br/e-preciso-falar-sobre-o-setembro-amarelo/