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Docentes em férias (?)

As férias são uma importante conquista da classe trabalhadora que significam o direito ao descanso remunerado. A pausa no trabalho, os momentos de descanso são estratégias fundamentais para conservação da saúde de trabalhadores. Esses momentos podem proporcionar uma espécie de dissociação da rotina cansativa e o afastamento dessas atividades atuam na recuperação das forças físicas e mentais. 

Nos moldes capitalistas de exploração é preciso estabelecer limites éticos e um certo equilíbrio. Certo modo, as férias são também uma ferramenta importante para a manutenção do próprio status quo. O descanso proporciona a conservação da capacidade produtiva. A desconexão com o trabalho, o distanciamento das obrigações e a quebra de rotina proporcionam uma sensação da “liberdade”, nem que seja por um breve período. As férias funcionam quase como um antagonismo ao trabalho, não fosse pelo fato delas serem fundamentais para a conservação deste.

A intensificação do trabalho acadêmico, pode interromper ou impactar o gozo efetivo dos períodos de descanso. Os calendários de prazos das agências de fomento, os prazos de preenchimento de relatórios, de defesas dos programas de pós graduação, entre outros, impedem que docentes se desliguem por completo de suas atividades acadêmicas (mesmo por curtos períodos). Nesse último ano, por exemplo, em decorrência da greve e consequente alteração do calendário acadêmico, os prazos de preenchimento de relatórios, da plataforma Sucupira e de defesas de pós graduação coincidiram com o período de férias acadêmicas. O que faz com que professores e professoras, mesmo aqueles que estão solicitaram gozo férias nesse período, fiquem impedidos de se afastar das atividades, uma vez que essas obrigações precisam ser sanadas obedecendo os prazos externos.

Além disso, relatos de docentes que tiram férias para poder se envolver com projetos externos, ou “poder trabalhar com calma” são comuns. Alguns tiram férias e “aproveitam” esse período para retomar alguns projetos, para compensar atrasos em função da rotina atribulada durante o período letivo ou para iniciar projetos novos. Dessa maneira, o descanso pode não acontecer efetivamente. Para alguns, a retomada de projetos acadêmicos “pessoais” ou o uso do tempo como “ócio produtivo” podem significar descanso, que acaba sendo um uso para desafogar prazos e replanejar a vida acadêmica. A sensação de “descanso” estaria, então, entremeada à sensação de certo alívio das pressões cotidianas?

A intensificação do trabalho, a constante pressão de prazos e produções gera ainda, valores subjetivos de aceleração no modo de produzir e a ideia da ausência de direito a pausas, resultando na naturalização do cansaço. O que, ao tirar férias, pode originar sentimentos de culpa, sensação de improdutividade ou de estar deixando a desejar e, ainda, estar prejudicando alunos ou os programas acadêmicos. 

O descanso efetivo é fundamental à desaceleração, à reconexão com desejos que a rotina acaba por fazer ofuscar-se. É, ainda, importante para a manutenção da capacidade criativa, tão fundamental à atividade intelectual docente. Não há, portanto, como falar em trabalho digno sem incluir nessa esfera o necessário tempo para o trabalhador repor suas energias físicas e mentais.

 

Núcleo de Acolhimento e Diálogo – NADi/APUBH UFMG+

 

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Os atendimentos podem ser agendados pelo telefone (31) 9925-0730 ou pelo e-mail: acolhimento@apubh.org.br

 


Textos e sugestões de leituras:

DHARLLE OLIVEIRA SANTANA, Martin et al. Conhecimentos e práticas de lazer: uma perspectiva de trabalho e saúde. Linhas Críticas, v. 27, 2021.

CARDOSO, Jair Aparecido. O direito ao descanso como direito fundamental e como elemento de proteção ao direito existencial e ao meio ambiente do trabalho. Revista de informação legislativa, v. 52, n. 207, p. 7-26, 2015.