Acontece no APUBH

A volta ao presencial e suas implicações

Autoria: Comissão do Núcleo de Acolhimento e Diálogo – APUBH UFMG+

 

Durante os anos de 2020 e 2021, com o necessário afastamento social decorrente da pandemia do novo Coronavírus, a categoria docente presenciou grandes mudanças e desafios no seu fazer laboral. Professores e professoras precisaram adaptar seus instrumentos pedagógicos e suas metodologias de trabalho. Foram atropelados(as) com sobrecarga de trabalho, decorrente da implementação do ensino remoto emergencial, que foi feita de forma unilateral e sem a devida participação da categoria. Além, é claro, de estar lidando com os cenários sanitário, social, econômico e político caóticos.

Toda essa conjuntura fez emergir a necessidade de reflexões sobre o trabalho, de acolhimento e debates coletivos. O Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH UFMG+ (NADi) foi criado, inclusive, visando dialogar e dar visibilidade às questões relacionadas ao fazer laboral docente. Ao longo desses dois anos foram realizados vários eventos, entre lives e rodas de conversa, além dos acolhimentos individuais da categoria docente. No dia 19/11, por meio do NADi, o APUBH realizou mais um debate sobre a temática da volta ao presencial, que é a nova questão que se impõe. O evento contou com a participação da experiente professora e sindicalista Valéria Morato, presidenta da CTB Minas e SINPRO Minas. A partir desse encontro coletivo, várias foram as questões debatidas.

Começando pelo retrospecto do impacto da pandemia na categoria docente, seja no setor público ou privado. Durante a pandemia, professores e professoras passaram a trabalhar mais, ficaram isolados, tiveram suas vidas privadas invadidas pelo trabalho, tiveram seus laços com seus coletivos de trabalho fragilizados e tudo isso sob o imperativo do produtivismo. Esse cenário ainda perdura. É preciso ressaltar que, desde o início da pandemia, a ingerência do atual governo impôs um dramático abandono da esfera pública, a situação dada como emergência colocou os trabalhadores com a responsabilidade total em assumir as readaptações dos seus fazeres laborais sem qualquer tipo de apoio. Ao contrário disso, havia e ainda há a prevalência de discurso e práticas negacionistas.

Na UFMG dois cenários se sobrepõem: o Ensino Remoto Emergencial (ERE) e o Ensino Hibrido Emergencial (EHE). Novamente esse cenário recoloca aos docentes a necessidade de adaptação dos seus fazeres laborais. Em cenário de exaustão instalada, nomeado como “Zoom Fatigué”, professores e professoras precisam ainda deslocar-se e adaptar suas aulas para aqueles que não podem estar presentes, convivendo com mais uma faceta da sobrecarga de trabalho, além do risco sanitário ainda presente. Professores(as), que são a linha de frente da lida com alunos, já tiveram que se haver com as vulnerabilidades sociais que acabaram por ser deflagradas diante do cenário da virtualização do ensino e estão convivendo agora com uma nova faceta: alunos que precisaram procurar empregos para conseguir manter-se ou ajudar na manutenção das rendas familiares que foram profundamente afetadas pela crise econômica que devasta o país.

As práticas de gestão do trabalho foram alteradas no contexto de virtualização. Novas formas de assédio moral foram instauradas, com cobranças contínuas exacerbadas. Além disso, docentes sentem-se culpados e constrangidos ao negar alguma atividade ou resposta a colegas, alunos ou superiores hierárquicos. Nesse sentido, é de suma importância discutir o “direito a desconexão”. O trabalho acabou por invadir os computadores pessoais e celulares de professores e professoras, que acabam ficando conectados em tempo integral às demandas de trabalho. Docentes precisam ter de volta seu direito ao descanso, ao ócio e ao seu espaço pessoal.

É preciso discutir ainda a conservação da autonomia da categoria docente. Nesse novo cenário, a imposição de gravação de aulas, por exemplo, traz sobrecarga. Além disso, em uma época política extremamente conservadora e de descredibilização da educação pública e acusações absurdas de práticas ideológicas dentro das salas de aula, há o receio do uso inapropriado do material gravado.

É preciso considerar, ainda, que as ferramentas virtuais são utilizadas pela atual gestão do país visando a redução de custos, a precarização e o sucateamento da educação pública no país. Portanto, quais são os efeitos disso na qualidade do ensino, pesquisa e extensão? É preciso estarmos atentos e atentas às intenções de preservação desses formatos em um contexto pós-pandêmico.

Em um cenário político de desesperança e desalento é preciso fortalecer os espaços de debate. O APUBH convida a categoria docente a participar dos debates do sindicato, bem como procurar e acionar o NADi seja para ser acolhido, seja para colocar novas questões e apresentar propostas.