Segundo encontro do ciclo de debates “Saúde nesta crise? – Progressão a que custo?
O APUBH UFMG+, por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo – NADi, realizou o segundo encontro do ciclo de debates “Saúde nesta crise?” nesta segunda, dia 05 de setembro. O tema do evento foi “Progressão a que custo?” e contou com a participação e contribuição do professor da Escola de Engenharia da UFMG, Francisco de Paula Antunes Lima. O professor, que também é integrante do NADi, abordou o tema no momento inicial do debate e posteriormente, os demais participantes trouxeram contribuições sobre o assunto. O evento aconteceu de forma híbrida e participaram cerca de 15 pessoas.
A condução do debate se deu em torno da temática de sistemas avaliativos, que de certa maneira são condição fundamental para a progressão de carreira de docentes. O professor Francisco de Paula abordou os impactos desse sistema de avaliação para a saúde mental de professores e professoras. Em sua fala, o professor esclareceu que o sistema avaliativo é fundamental para a progressão de carreiras, para o desenvolvimento de docentes, bem como para os avanços das próprias pesquisas de docentes e da ciência. Além disso, é fundamental que as avaliações sejam de fato feitas por pares, ou seja, quem tem expertise e competência para avaliar assuntos específicos, mas que isso deve ser feito de maneira ética e com isenção de interesses individuais. Para o professor deve-se evitar os riscos dos corporativismos e vícios tanto em avaliações, quanto em aprovações de projetos e mesmo de novos ingressantes.
O professor defende que um bom sistema avaliativo deve ser dinâmico, crítico e deve ser capaz de ser ele mesmo avaliado e modificado na medida em que falhas são identificadas, com participação efetiva de quem tem competência para tal que são os próprios docentes. Ele ressalta que, apesar do processo atual de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ser conduzida por professores e professoras, o sistema acabou tomando uma proporção que fugiu ao controle e capacidade de gestão da categoria, o que pode gerar anomalias e critérios parciais e incoerentes com as realidades de cada programa.
Durante o debate foi apontada a importância da adequação de critérios de avaliação que sejam condizentes com as particularidades com cada área de ensino e pesquisa, bem como com os programas: “uma pesquisa das ciências duras é diferente de uma pesquisa das ciências sociais”, destaca o professor. A uniformização de critérios, a lógica predominantemente quantitativa, a cobrança exacerbada por atingir metas, nem sempre claras ou pré-estabelecidas, acaba criando um clima de hostilidade entre pares, que prejudica não só a qualidade do trabalho, mas impacta negativamente os sentidos e a saúde mental de docentes.
Esse é um debate fundamental ao se considerar a promoção de saúde mental para docentes, afinal, as avaliações acabam por balizar as práticas acadêmicas e impactar na dinâmica de funcionamento de cada programa. Como o professor Francisco de Paula ressaltou, ter um sistema avaliativo forte, dinâmico e autocrítico é fundamental para o desenvolvimento de carreiras e da própria ciência, pois ele ajuda a garantir o lugar de excelência que as Universidades Públicas ocupam no país. É necessário que esse sistema comporte as particularidades e necessidades das diversas áreas do conhecimento de maneira a priorizar a qualidade e sentido de produções acadêmicas e “não limitar a vida criativa de cada professor e professora”, como ressaltou uma participante da roda de conversa. A defesa da Universidade Pública passa pela defesa de um sistema de avaliação efetivo, equânime e justo.