NOTA DE CONJUNTURA DO APUBH:defender a soberania nacional é tarefa dos movimentos sindicais e populares
Um dos fatos mais importantes da conjuntura atual é o anúncio do presidente Donald Trump de que taxará, em 50%, todas as exportações brasileiras para os EUA. Apesar da justificativa dada no anúncio de que a sobretaxa seria uma resposta a uma suposta perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro, está claro que o objetivo estratégico da iniciativa da Casa Branca é a destruição do BRICS. Esse objetivo pode ser percebido, claramente, na manifestação do secretário-geral da OTAN Mark Rutte que, no dia 15/07/2025, reverberou outro anúncio de Trump de que realizaria um tarifaço secundário contra países que compram produtos russos. Em sua declaração, Mark Rutte mencionou nominalmente o Brasil, a China e a Índia como prováveis alvos de taxações secundárias de até 100%, por negociarem com a Rússia.
A ameaça representada pelo BRICS para o império norte-americano se deve, principalmente, à expansão do bloco e ao aumento das transações comerciais desdolarizadas entre os países que o compõem. Esses fatos enfraquecem o dólar como o principal vetor da hegemonia norte-americana, que permite a realização de sanções econômicas a países não alinhados a Washington, bem como o financiamento do poderio militar dos EUA. O ataque feroz de Donald Trump à economia do Brasil, deve-se ao fato de que nosso país é o elo economicamente mais fraco da espinha dorsal original do BRICS e, por isso, pode ser usado como exemplo para desencorajar outros países que pretendem entrar no BRICS ou aprofundar relações com o bloco.
A mobilização antipatriótica da extrema direita para impedir a prisão de Bolsonaro a qualquer custo, reforçando de forma inaceitável e absurda a intervenção do presidente estadunidense em nosso país, cumpre um papel importante para pressionar o governo Lula 3. Mesmo sem alinhamento com a extrema-direita, e com críticas severas à movimentação anti-patriótica do grupo, a burguesia brasileira explora o momento politicamente tumultuado para reforçar a narrativa de que a política externa adotada pelo presidente do Brasil é responsável pela crise, por ser orientada por um enfrentamento supostamente desnecessário com os EUA. Outra hipótese reverberada pela mídia burguesa é de que o governo Lula não estaria se empenhando na solução do conflito por ter conseguido um aumento na aprovação do governo sustentado por um sentimento patriótico. Assim, a reação negativa da burguesia brasileira à taxação vem junto da defesa de que o Brasil capitule às exigências do império norte-americano e sinalize sua saída do BRICS.
A ação da Casa Branca contra o Brasil acontece, justamente, no momento em que o governo Lula 3 “sai das cordas” e enfrenta a Máfia do Centrão no Congresso Nacional na batalha sobre a ampliação da abrangência de aplicação da taxa máxima do IOF, que foi vencida com a ajuda do STF. É também o momento em que o executivo alcança nova posição na correlação de forças dentro da batalha da taxação dos super ricos, que é o caminho para uma política fiscal que não implique, por exemplo, na desconstitucionalização dos pisos orçamentários da saúde e da educação, dentro das margens estreitas do Arcabouço Fiscal. O cenário que aponta uma mudança na correlação de forças entre o executivo e o Centrão se mostra ainda mais arriscado para a burguesia que percebeu a retomada das ruas pelo movimento popular e a possibilidade de reversão da conjunturalmente limitada capacidade de mobilização e organização da classe trabalhadora.
O que as forças sociais progressistas esperam do governo é que ele não ceda às pressões pela saída dos BRICS, mantenha a posição necessária de soberania em relação aos EUA, bem como que reforce as pautas que beneficiam a classe trabalhadora no Congresso Nacional, tais como as que ganharam as ruas do Brasil por meio do Plebiscito Popular por um Brasil mais justo: a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, o que abrange o fim da escala 6×1, e ampliação do imposto de renda de quem ganha acima de 50 mil reais por mês, combinada com a isenção de quem ganha até 5 mil reais mensais e com a redução da alíquota do IR para quem ganha até 7 mil.
O APUBHUFMG+ tem participado intensamente do Plebiscito Popular por entendê-lo como uma iniciativa que inaugura uma necessária unidade dos movimentos sindical e popular no enfrentamento ao cerco que a burguesia brasileira tem imposto ao governo Lula 3, impedindo-o de realizar o plano de governo que venceu as eleições. A luta a que somos chamados a participar intensamente neste momento é a da defesa intransigente da soberania do nosso país e contra o imperialismo norte-americano, que quer nos manter em um alinhamento neo-colonial e de completa subordinação aos EUA.
Que os movimentos popular e sindical, com a participação decidida do APUBH, caminhem juntos na defesa de um projeto popular e soberano para o Brasil!