Ex-reitor da UFBA discute os efeitos do financiamento das universidades através de emendas parlamentares
“O sequestro do Orçamento pelo Legislativo tem um efeito absolutamente danoso na Universidade”, denunciou o professor João Carlos Salles, filósofo e ex-reitor da UFBA, em sua participação no programa “Outra Manhã”, na última quarta-feira (05/02). Promovido pelo site Outras Palavras, a entrevista abordou o tema “Ensino superior submetido aos mercados?”. Assista ao programa no YouTube: https://bit.ly/3Q8JWvw
Não é de hoje que presenciamos a diminuição sistemática do investimento de Estado destinado às universidades públicas brasileiras, o que compromete o trabalho de excelência desenvolvido por estas instituições. Assim, temos visto dirigentes de universidades públicas recorrendo a formas de custeio externas às universidades, como é o caso de negociações para o acesso a emendas parlamentares.
Na avaliação do professor João Carlos Salles, no entanto, essa prática pode afetar negativamente o trabalho desenvolvido na Universidade Pública. Como ele explica, ao negociar com políticos pelas verbas das emendas, as universidades se comprometem com demandas que são externas ao meio acadêmico em si. Com isso, abrindo espaço para interferências externas, que comprometem a autonomia universitária e ameaçam o aspecto público da produção de conhecimento.
O ex-reitor explica, ainda, que devemos “pensar esse problema da voragem neoliberal na Universidade dentro de uma estratégia de diminuição do Estado e, com isso, uma diminuição também de desobrigação do Estado com o financiamento público da Educação Superior”. Ele pondera que esse processo não se restringe às instituições de Ensino Superior. “No caso da Universidade, isso pode comprometer a própria natureza da instituição, a própria ligação que esse equipamento tem com um projeto de longa duração. Um projeto de uma nação independente intelectualmente e radicalmente democrática”, definiu o professor.
Nesse sentido, o professor João Carlos Salles chama a atenção, para o fato de que, ao enxergarmos essa realidade mais de perto, podemos perceber como o avanço do neoliberalismo no meio acadêmico transcende a questão orçamentária, abrangendo também um aspecto cultural. E, além disso, com a conivência – e, até mesmo, o incentivo – de alguns setores acadêmicos. Dessa maneira, entendemos algumas das maneiras como o neoliberalismo opera para tentar se infiltrar na Universidade Pública no Brasil.
