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Em parceria com o NEPEM, o APUBHUFMG+ constroi ações preparatórias e participação no 8M

Há décadas, o Dia Internacional de Luta das Mulheres é marcado, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, pela ocupação dos espaços públicos para celebrar as conquistas, assim como para reafirmar as lutas históricas dos movimentos feministas. Longe de ser uma simples data comemorativa, o 8 de março é, na verdade, um marco no enfrentamento às estruturas patriarcais, misóginas, sexistas e coloniais que fomentam as desigualdades sociais.

O APUBHUFMG+ mantém a tradição de somar forças à construção coletiva dos atos públicos referentes à data na capital mineira. Contudo, neste ano, em 2025, o sindicato dá um novo e importante passo ao trabalhar em conjunto com o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPEM), vinculado à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da UFMG. O NEPEM, que completou 40 anos de atividades na promoção da equidade de gênero em perspectiva interseccional, é referência internacional na articulação de projetos de ensino, pesquisa e extensão.

Por meio da iniciativa conjunta entre APUBHUFMG+ e NEPEM, neste Dia Internacional da Luta das Mulheres, buscamos conciliar a produção acadêmica de conhecimento com a práxis do movimento sindical para potencializar a mobilização em torno das pautas de luta das mulheres. Além disso, estamos edificando ações preparatórias, que visam envolver a comunidade acadêmica e a população em geral nas discussões sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na sociedade.

De acordo com a coordenadora do NEPEM e integrante da Diretora Setorial Saúde, Acolhimento e Diversidade do APUBHUFMG+, professora Marlise Matos (UFMG): “Vivemos momentos de alerta e preocupação em relação a regressos nos direitos das mulheres no Brasil. Mais do que nunca é preciso se mobilizar, se articular coletivamente, para buscar, juntas/os/es refrear os retrocessos que estão no horizonte. Há muitas ameaças, há todo tipo de violência que insiste em regredir os nossos direitos direitos de cidadania e as nossas agendas de promoção interseccional da igualdade. Os nossos direitos, com justiça, estão no centro da disputa democrática contemporânea e as nossas formas de ativismos e de inovação democrático-participativas ja são entendidos como antídotos e respostas possíveis aos processos crescentes de fabricação massiva da ignorância, que tanto ameaçam a democracia na contemporaneidade. Somos a linha de frente da defesa das democracias hoje e a nossa responsabilidade é imensa. É a hora de assumi-la e radicalizar as nossas lutas.”

Os desafios são graves e não são poucos. As diversas formas de violência contra as mulheres são recorrentes na sociedade, até mesmo no meio acadêmico. Segundo o Instituto Avon e o Data Popular, 46% das cientistas já sofreram assédio sexual na carreira. 67% das estudantes já sofreram violência sexual, psicológica, moral ou física de um homem no ensino superior. Além disso, segundo uma reportagem da CNN, de 279 denúncias de assédio contra professores de universidades públicas, 100 foram arquivadas e só 17 levaram a demissões.

A misoginia interfere também na participação e representação das mulheres na política e nos espaços de decisão. Nesse sentido, percebemos tentativas de silenciamento, justamente, em espaço em que as mulheres trabalham por mudanças concretas na sociedade. De acordo com levantamento do portal AZMINA, nas eleições de 2024, as mulheres políticas representam apenas 15% das Câmaras Municipais e 8% das Prefeituras. Outro dado que chama atenção é o fato de que no 2º turno das eleições de 2024, apenas 15% das candidaturas às prefeituras foram de mulheres e mesmo assim, desse percentual,  elas foram alvo de 68% de ofensas durante os debates eleitorais. 

Cabe ressaltar, ainda, outros crimes que afetam essa parcela da população, como os casos de feminicídio, assédio no transporte público, violência física, psicológica e sexual contra crianças e mulheres (cis e trans). Ademais, também precisamos chamar a atenção para sobrecarga de trabalho de mulheres resultado da divisão sexual do trabalho no espaço doméstico.

Essas questões são apenas um retrato de como o fato de ser mulher influencia na experiência de vida dessa parcela da população, Por essa razão, ressaltamos a importância da promoção de ações na luta por igualdade, bem como a mobilização social e a participação de todo mundo no simbólico dia 8 de março, como forma de fortalecer nosso trabalho de base.

Mobilização popular segue relevante e efetiva

Estamos acompanhando, com apreensão, as movimentações de interesses partidários e empresariais alinhados à extrema direita. Um cenário particularmente visível nos países no centro do capitalismo, seja na Europa ou nos Estados Unidos, e também na gestão de países periféricos, como ocorre na nossa vizinha Argentina. E nem mesmo o Brasil foge a essa realidade. Embora a extrema direita tenha sido derrotada democraticamente na disputa presidencial, o Congresso segue, política e economicamente, cumprindo esse projeto político. 

Os efeitos da implementação da agenda conservadora, neoliberal e radical já podem ser sentidos nos ataques aos direitos da classe trabalhadora, assim como no agravamento da crise ambiental e no aumento da perseguição a segmentos já marginalizados da sociedade – como a população LGBTQIA+, além da população negra, quilombola e periférica. Para fazer frente a essa conjuntura, o APUBHUFMG+ acredita na relevância de fortalecer os movimentos sindicais e populares.

O fortalecimento dessas iniciativas deve contemplar, necessariamente, os movimentos feministas em suas diversas formas de organização e manifestação. Até porque, o avanço do neoliberalismo traz a reboque o adensamento das características coloniais e patriarcais, que retrocedem nos direitos políticos e individuais de mulheres. Ao passo que a histórica luta de mulheres mantém a sua relevância por levantar agendas de conquistas por direitos mas também, no combate a políticas de retrocesso para que não haja nenhum passo atrás.

Basta lembrar das recentes mobilizações contra o Projeto de Lei (PL) 1904/2024, mais conhecido como “PL do estupro” ou “PL da gravidez infantil”. A medida, proposta pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), estipulava a criminalização do aborto após 22 semanas de gestação até mesmo em casos permitidos por lei, como o estupro de crianças, adolescentes e mulheres. O projeto chegou a ser assinado por mais de trinta parlamentares da base bolsonarista. Com isso, parlamentares antifeministas e de extrema direita buscaram aumentar o seu capital político junto às alas fundamentalistas da sociedade, usando os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas que gestam como moeda de troca. 

A sociedade, contudo, não se calou diante do flagrante risco de retrocesso, em que os corpos e as próprias vidas das mulheres são usadas como campo de disputa. Em todo o país, a população saiu às ruas para se manifestar e diante da reação popular, a discussão sobre a proposta perdeu força entre os/as parlamentares. Dessa maneira, acompanhamos, na prática, como a mobilização  popular pode influenciar diretamente nas discussões realizadas no Congresso Nacional.

Cabe ressaltar o papel desempenhado por movimentos feministas para a conscientização e mobilização da sociedade em torno de agendas sensíveis a pautas de gênero, raça e sexualidade. Até porque, estamos falando de bandeiras de luta históricas dessas organizações. Na verdade, os feminismos – entendidos como movimentos plurais – possuem papel decisivo na luta por pautas progressistas, assim como para barrar o avanço de pautas reacionárias e neoliberais. Não por acaso, os feminismos e os movimentos políticos populares e sindicais são alvos recorrentes da extrema direita.

A nossa mobilização incomoda as camadas mais reacionárias da sociedade porque possuímos um comprometimento real  com o combate às injustiças e na tentativa de operar uma transformação social. Por isso, devemos prosseguir juntas e intensificar a nossa luta para uma sociedade mais igualitária.