Diálogo entre lutas antirracista e antimanicomial marca a presença do APUBH no Novembro Negro da UFMG

Assim como nos anos anteriores, o APUBHUFMG+ fez parte da construção coletiva do Novembro Negro da UFMG | Foto: Acervo do APUBHUFMG+.
Em 2025, o Novembro Negro da UFMG chega à sua oitava edição, colocando em debate o tema “Epistemes, estéticas e subjetividades negras”. Assim como nos anos anteriores, o APUBHUFMG+ fez parte da construção coletiva do evento. A iniciativa envolve órgãos institucionais da universidade, entidades representativas dos setores da comunidade acadêmica e do movimento negro.
Nesta edição, o APUBHUFMG+ propôs, por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo e em sintonia com a luta antimanicomial brasileira, duas atividades que dialogam com a celebração do centenário de Frantz Fanon, um notório ativista da luta antirracista e anticolonialista em todo o mundo.
Fanon foi um psiquiatra oriundo da Martinica que revelou, teórica e revolucionariamente, os atravessamentos subjetivos e epistêmicos que operam nos processos de dominação entre povos e gentes. Assim, é mais que oportuno discuti-lo, revelando a complexidade de seu pensamento e sua atualidade.
Franca, Franco e Fanon
Em sua primeira atividade na programação do Novembro Negro deste ano, o APUBHUFMG+ ocupou a Arena FAFICH-UFMG, no dia 06/11, com a roda de conversa “Franca, Franco e Fanon: 3 forças antimanicoloniais”. Para aprofundar esse debate que articula saúde mental e luta antirracista, recebemos Rachel Gouveia Passos, professora da UFRJ. Profícua pesquisadora e ativista negra, a convidada lançou, recentemente, o livro “Ecos da liberdade – um encontro entre Frantz Fanon e Franco Basaglia”, pela Editora Hucitec.

Roda de conversa “Franca, Franco e Fanon: 3 forças antimanicoloniais”, com: Rachel Gouveia Passos, professora da UFRJ; Maria Stella Brandão Goulart, professora aposentada da UFMG; e José Carlos Souza, coordenador do Movimento Negro Unificado | Foto: Acervo do APUBHUFMG+.
A roda de conversa também contou com a presença de Maria Stella Brandão Goulart, professora aposentada do Departamento de Psicologia da UFMG e integrante do Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH (NADi/APUBH). A convidada é uma referência nacional e internacional sobre a temática da Reforma Psiquiátrica Brasileira e na Luta Antimanicomial. Também esteve presente José Carlos Souza, ex-assessor político do Sindieletro e atual coordenador do Movimento Negro Unificado, por indicação da jornalista, cientista política e escritora Diva Moreira, que não pôde estar presente.
As falas ressaltaram a necessidade de compreender a saúde mental com base em uma perspectiva interseccional, considerando os atravessamentos sociais que determinam as formas de sofrimentos e adoecimento das pessoas. A partir disso refutar o apagamento de subjetividades negras, “pardas” e oprimidas (mulheres, doentes mentais, toxicômanos, LGBTQIAPN+, etc.), imposto pelo modelo de tratamento branco, imperialista e discriminatório.

A roda de conversa contou as falas de docentes, TAEs e estudantes, assim como de profissionais de saúde mental e outras pessoas envolvidas nas áreas de saúde mental e luta antirracista | Foto: Acervo do APUBHUFMG+.
Além disso, foram abordadas as contribuições da obra prática (participação na luta armada e um dos líderes da Frente de Libertação Nacional (FLN) argelina) e teórica de Frantz Fanon para os ideais de reforma psiquiátrica de Franca e Franco Basaglia. E, ainda, foi enfatizada a necessidade do tratamento à saúde mental sob a perspectiva do aquilombamento, com a retomada dos valores, das tradições, das práticas de cuidado em saúde, dos afetos construídos in loco e em liberdade, que culmina em outra perspectiva de cuidado conhecida como Clínica da Delicadeza, que segundo Rachel Golveia: “é um apostar na vida, na produção do cuidado em liberdade que nega o silenciamento e o apagamento das experiências”.
Após as exposições iniciais, a palavra foi passada para o público presente. Esse espaço contou, dessa maneira, com as contribuições de docentes, TAEs e estudantes, assim como de profissionais de saúde mental e outras pessoas envolvidas nas áreas de saúde mental e luta antirracista.
“É um apostar na vida, na produção do cuidado em liberdade que nega o silenciamento e o apagamento das experiências”
Rachel Gouveia Passos (professora da UFRJ, pesquisadora e ativista negra) sobre a perspectiva de cuidado conhecida como Clínica da Delicadeza
Ritmo, corpo e palavra
Já na tarde desta sexta-feira (07/11), o APUBHUFMG+ promoveu o “Laboratório de linguagem: ritmo, corpo e palavra”, conduzido pelo artista do ruído, poeta e arte-educador Babilak Ba. Realizada na sede do sindicato, a atividade construiu um espaço para a explorar a corporeidade e a criativamente, as diferentes formas de linguagem, o movimento sonoro e corporal e o ritmo e a integração entre o corpo e a palavra, utilizando-se de materiais e textos que remetem ao antirracismo e ancestralidade.
O “Laboratório de linguagem” contou com a presença de estudantes e docentes da universidade. Houve, ainda, a participação de trabalhadoras e outros envolvidos com a rede de saúde mental. Em consonância com a celebração do centenário de Frantz Fanon, a atividade foi uma experiência decolonial, que conciliou as lutas antirracista e antimanicolonial.

“Laboratório de linguagem: ritmo, corpo e palavra”, conduzido pelo artista do ruído, poeta e arte-educador Babilak Ba | Foto: Acervo do APUBHUFMG+.