Acontece no APUBH

As vivências de docentes na volta ao presencial

Após dois anos lidando com as consequências de uma pandemia, que ainda não acabou, a Universidade retomou suas atividades presenciais      em abril deste      ano. O Ensino Remoto Emergencial e mesmo o Ensino Híbrido exigiu adaptações e, da mesma maneira, a volta ao presencial também exigiu e está exigindo de professores e professoras novos ajustes e impôs novos desafios. Diante dessa realidade, o APUBH UFMG+, por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo propôs à categoria, no mês de maio, uma pesquisa[1] para compreender como os docentes estavam vivenciando essa volta ao presencial. A pesquisa foi realizada por meio de um questionário digital divulgado pelo Sindicato e contou com cerca de 90 participações.

O questionário buscou contemplar questões sobre a preparação emocional para volta ao presencial, as principais preocupações em relação à essa volta, como professores e professoras estavam se sentindo, situações de acúmulo de atividades presenciais e virtuais e, por fim, atividades específicas e/ou características do trabalho sem condições de retorno ao regime presencial.

Em relação à preparação emocional para o retorno, cerca de 79% dos respondentes afirmaram se sentir preparados para voltar. Dentre os 21% que não se sentem preparados, os principais motivos são: salas sem condições de distanciamento entre as pessoas, danos à voz devido ao esforço de falar com máscaras, especialmente máscaras PFF2 e ausência de amparo institucional em relação à preparação do semestre, com calendário “apertado”.

Em relação às preocupações apontadas pelos docentes na volta ao presencial, lembrando que os respondentes poderiam apontar mais de uma opção, 47% das respostas apontam dificuldades em relação aos alunos, além disso, 39% das respostas relatam problemas com a adequação das salas e outros 30% apontam dificuldades com o cumprimento do planejamento do semestre. Há ainda, 28% de respostas sinalizando dificuldades com disponibilidade de materiais de higienização e prevenção à COVID-19. Em relatos livres, as pessoas apontaram fadiga, acúmulo de atividades e problemas decorrentes de déficit de docentes em função de afastamentos por COVID-19.

Quando solicitados a relatar seus sentimentos em relação à volta ao presencial, sendo que os respondentes poderiam apontar mais de uma opção, 38% das respostas indicaram que as pessoas têm se sentido esgotadas físico e emocionalmente, 34% dos retornos mostram preocupação e 28% dos relatos mostram ansiedade. Por outro lado, 61% das respostas apontaram que as pessoas se sentem também entusiasmadas e satisfeitas com o retorno ao presencial.

Cerca de 61% das pessoas têm realizado atividades online e, dessas, 53% afirmam que isso tem ocasionado sensação de sobrecarga de trabalho. Docentes relatam que, apesar das atividades online economizarem tempo com deslocamento, por exemplo, o número de atividades, como reuniões, aumentou substancialmente e isso traz a sensação de sobrecarga. Além disso, há sensação de que essa mescla entre o remoto e o presencial, por vezes, impede que professores e professoras estabeleçam rotinas de trabalho. Ademais, docentes percebem que o calendário ainda alterado em função da pandemia, faz com que as atividades se acumulem em espaços de tempo menores, trazendo sensação de urgência ainda maior e necessidade de cumprimento rápido das atividades, gerando também efeito de sobrecarga.

Sobre o questionamento se há alguma atividade específica e/ou característica do trabalho pré-pandemia ainda sem condições de ser presencial, 20% dos respondentes apontam essa ausência de condições. Dentre as atividades ainda impedidas de serem realizadas plenamente estão: visitas técnicas (transporte sem condições de levar número elevado de pessoas), práticas em laboratórios sem condições de ventilação adequada, aulas teóricas ou oficinas com turmas muito grandes (mais de 70 alunos), trabalhos práticos de campo e, docentes relatam, ainda, dificuldade com alunos com deficiência auditiva, que dependem de leitura labial que o uso de máscaras impede.

Por fim, perguntados sobre realização de reuniões/momentos para tratar as experiências de volta ao presencial entre docentes, 71% dos respondentes responderam que esses momentos não acontecem. Professores lidam com      as demandas da volta ao presencial, majoritariamente, de maneira individual, quando na verdade são questões coletivas, que afligem departamentos, unidades e a comunidade acadêmica como um todo, afinal a realidade pandêmica ainda está      presente      e continuará colocando      desafios.

Apesar das situações desafiadoras e, por vezes, causadoras de sofrimento, nos relatos livres      há, ainda, indicação de satisfação com o retorno ao presencial, uma vez que o contato com alunos, com colegas e a presença na Universidade são vistos como marcadores de uma rotina de trabalho e qualidade das atividades, especialmente de ensino.  Nesse sentido, a pesquisa possibilitou conhecer melhor a realidade e a percepção da categoria docente, o que é fundamental para que o Sindicato se aproxime de sua categoria.

Como se percebe, para além do acúmulo de atividades causadas pelo binômio entre atividades presenciais e virtuais, está colocada em questão a dificuldade de adequação dos espaços físicos da universidade em contexto pandêmico, bem como necessidade de maior investimento em pessoal para executar assepsia e conservação destes espaços. Os cortes promovidos pelo governo Bolsonaro, ao longo de todo seu mandato, se concentram no orçamento discricionário, que é justamente fonte do recurso utilizado nestas áreas que levam a preocupação dos docentes. Conforme o APUBH UFMG+ vem constantemente denunciando, a luta pela reposição dos investimentos na universidade pública, gratuita e de qualidade social é de primeira ordem para a categoria, inclusive para resolução dos problemas aqui citados. O APUBH mantem-se atento e aberto às demandas e apontamentos da categoria.

[1] Pesquisa sem fins e critérios acadêmicos.