APUBHUFMG+ promoveu debate sobre a docência na Universidade Pública, com o professor João Carlos Salles, ex-reitor da UFBA
O APUBHUFMG+ realizou, na tarde de ontem (24/04), a abertura do Ciclo de Debates “A Universidade que o Brasil precisa”. No evento de estreia, recebemos o professor João Carlos Salles, ex-reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e ex-presidente da ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), para discutir o tema “Ser docente em uma Universidade Pública”. A atividade ocorreu no Auditório B106 do CAD 3, sendo transmitido simultaneamente pelo canal do sindicato no YouTube. Clique aqui para assistir ao vídeo.
A mediação do debate ficou a cargo do professor Helder de Paula, presidente do APUBHUFMG+. Além disso, a mesa do evento contou com a presença da professora Sandra Goulart e do professor Alessandro Moreira, reitora e vice-reitor da UFMG, respectivamente. Após as exposições iniciais, a palavra foi passada para a manifestação das pessoas que acompanharam o debate presencialmente, assim como foram lidos os comentários e as perguntas registradas no chat da transmissão online.

No dia 24 de abril, recebemos o professor João Carlos Salles, ex-reitor da UFBA e ex-presidente da ANDIFES, para discutir o tema “Ser docente em uma Universidade Pública” | Foto: Acervo do APUBHUFMG+.
A construção de um projeto de Universidade Pública e de um projeto de nação
O professor Helder de Paula compartilhou com as pessoas presentes a discussão da diretoria do APUBHUFMG+, da qual se originou a proposta para este ciclo de debates. Como ponderou o sindicalista, na atual conjuntura de nosso país, o movimento organizado da classe trabalhadora, em sua luta por direitos e transformação social, carece de uma perspectiva estratégica. Algo que podemos notar nas atuais crises nas esquerdas, que sofrem com a falta de um projeto para o Brasil.
Em resposta a este cenário, a diretoria do sindicato organizou este conjunto de discussões como forma de ampliar e qualificar o tema em torno desse tema, contribuindo dessa maneira para a construção desse projeto. “No nosso caso, o nosso espaço de experiência e luta é a Universidade. Este é o nosso espaço para a discussão de um projeto de Universidade e de um projeto de país”, definiu o presidente do APUBHUFMG+
Já a professora Sandra Goulart parabenizou o sindicato pela realização dessa atividade, ressaltando relevância dessa discussão, no momento em meio aos preparativos para o centenário da UFMG. “É importante que toda a comunidade se envolva nessa reflexão, que é relevante para todos nós: pensar na Universidade que nós queremos e precisamos, e o Brasil também que queremos construir juntos”, definiu a reitora da UFMG.
João Carlos Salles, ex-reitor da UFBA: “Os ventos não são muito favoráveis para as universidades no mundo”
O professor João Carlos Salles ponderou sobre como, no cenário atual, a Universidade Pública conta com uma certa tranquilidade em muitos aspectos, ao compararmos com o que passamos em um passado recente. No entanto, ainda segundo ele, “isso não significa que nós estamos desobrigados de uma luta simbólica, de tal sorte que a Universidade Pública, o centro da pesquisa, da reflexão e do ensino, tenha o lugar que merece. E a situação é delicada porque os ventos não são muito favoráveis para as universidades do mundo”.
Nesse sentido, podemos destacar a diminuição sistemática do investimento de Estado nas universidades públicas, que compromete o desenvolvimento do trabalho nessas instituições. Situação que tem levado, como observou Salles, dirigentes de universidades públicas a recorrerem a formas externas de custeio às universidades, como é o caso de negociações para o acesso a emendas parlamentares. Algo compreensível, porém problemático, na medida em que as universidades se comprometem com demandas externas ao meio acadêmico em si, ao negociar com políticos pelas verbas das emendas. Dessa maneira, abre-se espaço para interferências externas, que comprometem a autonomia universitária e ameaçam o aspecto público da produção de conhecimento.
Ademais, ainda de acordo com ele, a busca por recursos ocorre de modo individualizado, tentando suprir necessidades próprias por recursos e valendo-se de relações próprias com parlamentares. Assim, na concorrência por valores limitados, a disputa por recursos, explica Salles, “cria uma competição entre as universidades e não uma colaboração para ter recursos o suficiente”.
O professor percebe, assim, uma situação de ambiguidade na condição docente na Universidade Pública, em que “na sua própria tentativa de sobreviver e se afirmar, acaba, às vezes, favorecendo o que pode destruir a Universidade como projeto de longa duração”. Nesse contexto, o professor chama a atenção para o fato de que, além dos fatores externos, também existe a atuação de agentes internos, que agem como cumplicies desse processo.
Diante desse cenário, percebemos como a lógica neoliberal vem se entranhando no meio acadêmico. Algo que afeta, concretamente, a função social da Universidade Pública, assim como o seu papel para a consolidação da Democracia no país.
Próximos eventos do Ciclo de Debates “A Universidade que o Brasil precisa”
Fique por dentro dos meios de comunicação do sindicato para saber quais serão os próximos convidados e temas a serem abordados nesse ciclo de debates, e participe ativamente das discussões. Também nos envie temas que gostariam que fossem discutidos. A categoria docente da UFMG tem muito a contribuir para a transformação estrutural da sociedade, partindo da construção de um projeto de universidade que contribua para esse processo.