60 anos depois do golpe de 1964, Brasil enfrenta formas requentadas de golpismo
O Brasil segue atento aos desdobramentos da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, envolvendo integrantes e apoiadores do então governo Bolsonaro. E considerando o histórico de autoritarismo no país, o Estado democrático de Direito precisa continuar atuando para identificar e punir os envolvidos nessa trama antidemocrática, até mesmo para assegurar a sua própria existência.
Na semana passada, tivemos a revelação de que o ex-presidente teria se encontrado com a cúpula das Forças Armadas para discutir a trama golpista. A informação foi dada pelo general Freire Gomes, ex-chefe do Exército, que confirmou que Bolsonaro teria apresentado um documento com ações para seguir no poder, a chamada “minuta golpista”. Em outras palavras, de acordo com o militar, o inelegível não só teria conhecimento do plano de abolição violenta do Estado, como seria um de seus principais articuladores.
Essa e outras revelações foram trazidas à tona no último dia 15 de março, quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, liberou a íntegra dos depoimentos sobre o caso. A lista de testemunhos é extensa, incluindo ex-chefes dos militares, ex-ministros bolsonaristas, o presidente do PL e o próprio ex-presidente.
Já nessa semana, na segunda-feira (18/03), Polícia Federal indiciou Bolsonaro e mais 16 pessoas, no âmbito das investigações sobre o esquema de falsificação de vacinas. Em falas à imprensa, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reforçaram a ligação entre a fraude do cartão de vacina da Covid e os planos golpistas para manter o inelegível no poder.
E os infames já começam a abandonar o navio! O político Valdemar Costa Neto, presidente do partido do inelegível, fez declarações em tom de desaprovação e incriminação contra o ex-presidente. Ainda assim, seria um erro subestimar a força que o bolsonarismo continua a ter no país, entre políticos, empresários e eleitores. Ademais a rede de fake news desenvolvida por esta corrente ideológica se mantém ativa para perpetrar o imaginário golpista junto a seus adeptos.
Até porque, 60 anos depois do golpe militar de 1964, o país ainda não passou o seu passado a limpo. De fato, às vésperas da data que marca o início da ditadura militar no Brasil, estamos enfrentando formas contemporâneas de golpismo. Para falar a verdade, a extrema direita atual está requentando ideias autoritárias e reacionárias, que nortearam aquele regime ditatorial.
E as semelhanças com a política neoliberal e reacionária do bolsonarismo não são uma coincidência, mas um projeto. Assim como em outros momentos de crise do capitalismo, o fascismo está sendo requisitado como forma de resguardar esse sistema econômico. Basta lembrar do golpe que tirou a presidenta eleita Dilma Rousseff do poder. Contrariando abertamente a política econômica escolhida nas urnas, seguiu-se a implementação de uma forma agressiva de neoliberalismo no país.
Dessa maneira, lutar pelos direitos trabalhistas e sociais, em contraposição ao projeto neoliberal, continua sendo uma forma de resistência democrática. E se estamos dispostos a construir uma Democracia que seja, de fato, plena e inclusiva, a nossa luta e mobilização devem ser permanentes. Sem anistia!