?Universidade precisa estar atenta aos efeitos do Golpe?, alerta deputada Margarida Salomão
Os efeitos do golpe de 2016 na Universidade foi o tema da palestra ministrada pela deputada Maria Margarida Martins Salomão, na manhã desta quarta-feira (04/07), no auditório do CAD II – Campus Pampulha. A palestra integra a programação do evento acadêmico, artístico e cultural “Foi Golpe!”, promovido pela APUBH em parceria com o SINDIFES. A mesa de abertura contou com a participação da professora Maria Stella Goulart, presidenta da APUBH, da presidenta licenciada do SINDIFES Cristina Del Papa, representando o sindicato, e dos idealizadores do evento, professores Vera Menezes, da FALE-UFMG, e pelo professor Luiz Carlos Villalta, da FAFICH-UFMG.
“Universidade precisa estar atenta aos efeitos do Golpe para conhecer todas as suas dimensões, todas as suas perversidades e desdobrar a resistência que a Universidade representa contra isso, que é tão negativo, tão nefasto para a sociedade brasileira”, frisou a deputada Margarida Salomão (PT-MG). Entre os efeitos gerados para as Universidades, a professora apontou a hipertrofia da atuação das organizações de controle e a criminalização prévia dos atos de gestão – como ocorreu na invasão da Polícia Federal na UFMG e no caso da UFSC, que levou ao suicídio do reitor Luis Carlos Cancellier.
Salomão apontou os reflexos do avanço de uma política econômica neoliberal para a Universidade, em curso com o golpe. Para ela, o processo de diminuição do financiamento das universidades e o aumento da dificuldade de acesso tem por objetivo o fim da educação superior gratuita oferecida pelo sistema público no Brasil. “Nós precisamos crescer e melhorar. Não há como ter uma Universidade no Brasil que não seja pública e acessível”, disse.
Segunda a deputada, é necessário recuperar o debate ideológico sobre o financiamento das universidades. Como alternativas para o financiamento, ela apontou o uso da riqueza gerada pelo Pré-Sal, como estava previamente definido, e a realização de uma reforma tributária, que taxe as grandes fortunas brasileiras. “A realização deste evento é importante, pois de fato, foi golpe. Um golpe dinâmico, um golpe que se desdobra, por isso a Universidade precisa estar atenta a ele”, reforçou.
Debate
O primeiro dia do evento contou ainda com a mesa “Os efeitos do golpe na Educação, Ciência e Tecnologia”, composta pelos professores da UFMG Paulo Sérgio Lacerda Beirão (Fapemig), Rogata Soares Del Gaudio (Coltec) e Luciano Mendes Faria Filho (FaE).
A mesa foi iniciada pelo professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), que explicou que o investimento em pesquisa e inovação contribui diretamente com o desenvolvimento econômico de um país. Por isso, não se justifica diminuir os gastos com esses setores, sob o pretexto de reverter os efeitos de uma crise econômica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é, segundo Beirão, um dos grandes exemplos de benefícios gerados para a população por meio do investimento público em Ciência. E a saúde pública, ainda segundo ele, está entre as áreas mais afetadas pelo corte de verbas do governo golpista. “O sistema tem seus problemas, mas atende milhares de pessoas que, de outra forma, estariam desassistidos”, observou.
“Não foi só uma mudança de nome, mas uma mudança de tudo que vinha sendo feito”, definiu a professora do Colégio Técnico – Coltec da UFMG, Rogata Soares Del Gaudio. Para ela, as mudanças na Universidade reproduzem uma gestão focada nos resultados, que tenciona a redefinição do trabalho docente com o suporte de um padrão mínimo de financiamento educacional. Com isso, ainda segundo Gaudio, reduz-se a educação ao seu mero valor instrumental para o mercado.
“Esse evento tem uma importância singular”, apontou o professor Luciano Mendes Faria Filho. Segundo o professor, esse evento retoma a resistência que as universidades brasileiras, especialmente a UFMG, têm feito ao golpe perpetrado contra a presidenta Dilma e contra toda a população brasileira. E por outro lado, ainda segundo Luciano, repõe a Universidade no centro dessa discussão dos processos políticos, culturais e educacionais, que estão em curso.
Após a fala dos membros da mesa, foi aberto um debate entre os participantes. A presidente licenciada do SINDIFES, Cristina Del Papa apontou a necessidade de diminuir o distanciamento entre os diversos representante dos movimentos ligados aos Ensinos Superior e Básico. Segundo ela, essa falta de sinergia prejudica a própria mobilização, pois a sociedade brasileira está sendo afetada em todos os segmentos. “É preciso defender a Educação como um todo. Não podemos olhar apenas os nossos próprios problemas”, afirmou.