A Universidade Pública e seu papel fundamental no desenvolvimento da Ciência no Brasil
Em 2018, o analista Bruno Drummond, então com 23 anos, sofreu um acidente de trânsito, em que fraturou a coluna cervical. O trauma deixou graves sequelas: o jovem perdeu o controle de braços e pernas por completo. Hoje, com 31 anos, porém, ele leva uma vida muito diferente. Drummond voltou a caminhar e recuperou quase todo o movimento dos braços.
Esse caso emocionante de recuperação demonstra, na prática, o papel fundamental que a Ciência brasileira, desenvolvida em instituições públicas, cumpre para a população. Afinal, essa melhora foi conquistada a partir do uso de um medicamento experimental brasileiro desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o laboratório Cristália. O tratamento experimental, ainda em fase de desenvolvimento, representa uma esperança para pessoas que ficaram paraplégicas ou tetraplégicas devido a lesões medulares.
A substância usada no procedimento é a proteína polilaminina, que vem sendo estudada na universidade há mais de 20 anos. Desenvolvida a partir da placenta humana, o composto é uma versão recomposta em laboratório da proteína laminina, que integra o desenvolvimento embrionário. Com esse tratamento, busca-se restabelecer a comunicação entre o cérebro e o corpo, em casos de lesões na medula que resultaram na perda dos movimentos dos membros.
O fármaco tem sido administrado, desde 2018, em seis pacientes com lesões medulares completas. Ou seja, essas pessoas tiveram perda total da função motora e da sensibilidade, sendo enquadrados no chamado nível A. Destes, cinco deles evoluíram do nível A para o nível C, marcado pela recuperação de parte da força e dos movimentos.
Bruno Drummond faz parte desse grupo de pacientes, em acompanhamento pela equipe de pesquisadores da UFRJ. “No caso dele, o diferencial foi que o medicamento foi aplicado muito rápido, nas primeiras 24 horas pós lesão. Além disso, ele iniciou a fisioterapia de modo imediato. Tempo e fisioterapia são importantíssimos para melhores desfechos”, explica a professora Tatiana Coelho de Sampaio, em fala publicada pela Veja. Há 25 anos, a servidora pública da UFRJ estuda a laminina, a base da pesquisa.
Apesar dos resultados promissores, é preciso agir com cautela. O tratamento ainda carece de validação e liberação por parte dos órgãos competentes. O composto somente surte efeito em casos específicos? Como se comporta em casos crônicos? Há efeitos colaterais? Essas e outras questões fundamentais ainda precisam ser respondidas.
Assim, o fármaco precisa passar por todas as etapas clássicas de validação, a começar pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para uso clínico. É preciso levar em conta também que os testes ocorreram em um grupo pequeno de voluntários. Procedimentos técnicos qualificados são necessários para assegurar a eficácia do medicamento, garantindo a segurança e os resultados almejados. Assim como no desenvolvimento do medicamento, o processo de checagem conta com o trabalho de servidores públicos capacitados e qualificados.
Após esse relato, cabe uma reflexão: mesmo com o subfinanciamento na área de pesquisa científica no Brasil, as pesquisadoras e os pesquisadores continuam desempenhando um papel fundamental para a população. Agora, imaginem o nível de avanço científico, se fosse destinado o orçamento devido para o setor – principalmente, para a Universidade Pública, a principal produtora de Ciência no Brasil!
Cabe ressaltar, ainda, que o cenário atual, que já não é dos melhores, corre o risco de piorar ainda mais. A coalizão do Centrão com a Extrema-direita ameaça a existência dos serviços públicos no país, por meio da proposta de “reforma” administrativa. As carreiras de trabalhadoras e trabalhadores do Setor Público responsáveis por funções de extrema relevância, como as envolvidas na pesquisa citada, estão correndo risco.
A situação é grave! É urgente a valorização da Ciência brasileira, assim como é urgente a valorização do funcionalismo público. O povo brasileiro precisa se unir contra a Reforma Administrativa!