A censura do governo Trump a livros sobre diversidade, equidade e inclusão
A censura prossegue na “terra da liberdade”. Por ordem do governo Trump, 381 livros foram retirados da biblioteca da Academia Naval dos Estados Unidos. Longe de ser um caso isolado, a medida dá sequência à perseguição, em curso naquele país, a obras voltadas a temas referentes a diversidade, equidade e inclusão. Uma política de Estado que já atingia escolas públicas, plataformas institucionais e iniciativas educativas.
A lista de livros censurados inclui obras que analisam o Holocausto e a Ku Klux Klan, assim como que promovem reflexões sobre violência racial, racismo estrutural, equidade de gênero e sexualidade. Para citar um exemplo, o livro “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” foi retirado das prateleiras. Considerada um clássico na literatura afro-americana, a obra autobiografia da escritora e ativista Maya Angelou, referência na luta estadunidense por direitos civis.
Além do que, cabe lembrar que a censura do governo Trump não se restringe a obras literárias, também afetando universidades e agências de fomento à pesquisa. Algo que chegou a afetar, até mesmo, a UFMG. Como o APUBHUFMG+ repercutiu em fevereiro deste ano, os professores Marco Antônio Sousa Alves e Lorena Martoni, da Faculdade de Direito, contemplados em 2024 com uma bolsa da Fulbright Specialist Program, tiveram um projeto censurado, por conter termos que se contrapõem às diretrizes impostas pelo governo norte-americano.
E quais seriam esses termos? Direitos humanos, perseguições por gênero, classe ou raça, emancipação social, promoção da justiça social, sistemas de opressão, crise dos princípios democráticos, crise ecológica, violação de direitos humanos e civis, entre outros. Ou seja, a mesma perseguição a livros, como forma de tentar limitar a construção do pensamento crítico.
Essa política estadunidense escancara a tendência, desta ala política, ao autoritarismo. Algo muito diferente do discurso, alardeado pela extrema direita, de defesa da “liberdade de expressão” e de combate à “censura”. Na verdade, como é próprio da extrema direita, o governo Trump está calcado no pensamento reacionário. Por isso mesmo, não causa espanto a perseguição a obras que ajudam a construção do pensamento crítico, uma vez que este contribui para desnudar e combater o reacionarismo.
Em escala global, temos acompanhado a disseminação da extrema direita. Algo que podemos perceber no centro do capitalismo, seja na Europa ou nos Estados Unidos, assim como na nossa vizinha Argentina. E, como bem sabemos, o alinhamento com este viés político também persiste aqui no Brasil. Dessa maneira, as ações do governo Trump não ocorrem de modo isolado. O que vemos é um movimento global, que também afeta o país, no sentido de desmobilizar e enfraquecer a participação popular nas esferas do poder. E a perseguição ao pensamento crítico faz parte desse processo.