Por que a extrema direita é contra o corte de impostos sobre alimentos?
A população brasileira enfrenta, ultimamente, a alta dos preços dos alimentos. Trata-se de um problema grave, que afeta concretamente a vida das pessoas no país. E como tal, a classe trabalhadora precisa se mobilizar para exigir ações por parte do Estado para lidar com a situação.
A extrema direita, todavia, tem usado o drama da população para influenciar a opinião pública. Sob o pretexto de uma suposta preocupação, buscam fortalecer a oposição à presidência e angariar capital político. Porém, conforme o governo federal apresenta medidas para desacelerar o aumento dos custos com alimentação, a extrema direita acaba por se contradizer e demonstrar os seus verdadeiros interesses.
Vamos por partes. Recentemente, um grupo de deputados federais apresentou um pedido de moção de repúdio contra a isenção de impostos sobre a importação de produtos da cesta básica, umas das ações propostas para conter a carestia. Vinte e seis parlamentares, em sua maioria bolsonaristas, apoiam o pedido da moção. No entanto, até mesmo, integrantes da base governista assinaram o documento.
Ora, não faz muito tempo, parlamentares neoliberais protagonizaram uma cena ridícula no Congresso, em que empunhavam pacotes de café com imagens do inelegível e usavam bonés com a frase “comida barata novamente”. Então, agora, para onde foi essa suposta preocupação com a população? E podemos ir além: o que aconteceu com o discurso de redução de impostos, próprio da política neoliberal?
Para estes parlamentares, o corte de impostos seria um problema, pois poderia fragilizar o agronegócio. A justificativa não se sustenta, uma vez que o pacote de medidas também prevê o estímulo à produção de alimentos no Plano Safra. Quer dizer, uma ação que beneficia a produção rural no país.
Dessa maneira, percebemos como não se trata de preocupação com a sociedade, mas com o setor empresarial que garante sustentação econômica para a extrema direita no país. Ou seja, estão atuando em benefício próprio. Ademais, percebemos a contradição da ala neoliberal do Congresso, quando ferrenhos defensores da diminuição do Estado, estão confortáveis em serem financiados por um dos setores que mais se beneficia com o investimento e a implementação de políticas públicas.
Aliás, também devemos reparar na contradição presente nessa relação. O investimento de Estado no agronegócio contribui para o desenvolvimento do setor, mas não é revertido em benefícios para a população. Afinal, o empresariado do setor privilegia a produção de determinados produtos agrícolas, visando angariar altos lucros na exportação.
Enquanto isso, o país passa por desabastecimento, uma das causas do aumento dos preços dos alimentos. Por outro lado, não podemos perder de vista o papel do agronegócio para a devastação ambiental. Algo que afeta a produção rural e, por consequência, os custos são repassados para o consumidor final.
E a devastação vai além, se considerarmos a desapropriação de terras indígenas e a exploração de trabalhadores. Inclusive, não podemos esquecer que nomes proeminentes do agronegócio figuram, nas investigações dos órgãos competentes, como financiadores das tentativas bolsonaristas de golpe de Estado.
Por isso mesmo, ressaltamos a relevância do investimento público na agricultura familiar, assim como na ampliação da reforma agrária. Em contraposição a um sistema predatório de produção, é preciso investir em formas sustentáveis de produção agrária, que contribuam para o abastecimento alimentar no país e também para promoção de renda para a classe trabalhadora.
Em tempo, cabe destacar, ainda, o apelo do governo federal para a redução do ICMS, em âmbito estadual, sobre os itens da cesta básica. Não por acaso, essa medida tem sofrido resistência de certos governos alinhados à direita. Algo que podemos observar aqui mesmo em Minas Gerais, no governo Zema. Na contramão das medidas para baratear os alimentos, o governador manteve o imposto e, ainda por cima, publicou um decreto que pode causar o aumento do preço da carne no estado.
Uma postura muito diferente das isenções fiscais concedidas a locadoras de veículos no estado, que somaram cerca de R$ 1,2 bilhão. Não por acaso, a medida beneficiou os empresários que mais contribuíram financeiramente para a campanha de reeleição de Zema. Ou seja,outro representante da extrema direita atuando em benefício próprio, em detrimento das necessidades da população.
Não podemos nos enganar. O discurso de agentes do projeto político neoliberal e autoritário, com uma suposta preocupação em relação à alta dos preços dos alimentos no Brasil, não passa de uma estratégia política. Por baixo dessa fachada, percebemos a quais interesses, de fato, os setores da extrema direita buscam contemplar. A classe trabalhadora deve continuar, portanto, a reunir, organizar e mobilizar as suas forças em defesa das necessidades da população.