Exoneração do presidente da FAPERJ: interesses político-partidários afetam a Ciência no Brasil
A comunidade científica do Brasil acompanha, com indignação, a interferência político-partidária perpetrada em uma das maiores agências de pesquisa do país. Ontem (07/11), o cientista e professor Jerson Lima foi exonerado do cargo de presidente da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A decisão, assinada pelo governador Cláudio Castro, consta no Diário Oficial do estado.
O cargo passará a ser ocupado por Caroline Alves, que, até então, presidia a Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC). Por sua vez, a presidência da FAETEC passará para as mãos do ex-secretário de Educação e ex-deputado federal Alexandre Valle Cardoso. Inclusive, o nome de Cardoso chegou a ser cogitado para a presidência da FAPERJ, como revelado por reportagem do jornal Folha de São Paulo.
Ocorre que, recentemente, o político foi derrotado nas eleições para a prefeitura de Itaguaí. Assim, para que este não ficasse sem um cargo, o deputado estadual e secretário de Ciência, Anderson Moraes,pediu ao governador do RJ para que o ex-secretário de Educação e ex-deputado federal Cardoso fosse alocado na presidência da agência. Não por acaso, os dois políticos em questão, assim como o próprio governador, compartilham a mesma sigla: o PL, partido de extrema direita do inelegível Jair Bolsonaro.
As notícias sobre a intervenção na FAPERJ causaram revolta entre cientistas em todo o país. Entidades do setor, como a SBPC e a ABC, manifestaram-se duramente contra o aparelhamento político das agências de fomento. E não era para menos. O postulante ao cargo não possui qualificação para o cargo, ao passo que Jerson Lima acumula uma respeitada carreira na área científica, assim como teve um trabalho promissor à frente da agência desde 2019. Após a repercussão negativa, o nome para assumir a presidência foi revisto. Ainda assim, Cardoso foi indicado para uma vaga no governo. O uso político-partidário da máquina pública no estado do RJ, portanto, continua a ser flagrante.
Mais uma vez, assistimos a governantes autoritários que, em benefício próprio, tentam passar por cima dos conselhos consultivos das entidades de fomento à pesquisa, assim como deturpam a finalidade a que estas instituições se propõem. Algo, particularmente, recorrente entre governos ligados à extrema direita. Basta dar uma olhada no que ocorre em nosso próprio estado, em que seguimos lutando contra as tentativas de desmonte e de interferência na Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), por parte do governador Romeu Zema.
Diante desse cenário, ressaltamos que as instituições de pesquisa devem ser regidas por políticas de Estado e não de governo. Em outras palavras, a produção de conhecimento demanda políticas de médio e longo prazo, não devendo estar à mercê dos interesses político-partidários de quem ocupa o poder.
Aliado a isso, também devemos evidenciar a necessidade de ampliar o investimento público no setor, assim como a valorização das pessoas que se dedicam a esse trabalho. Como bem definiu Jerson Lima, em sua carta de despedida da presidência da agência: “o sucesso da FAPERJ não seria possível sem a maior riqueza deste estado: seus cientistas, inovadores, criadores e empreendedores de todas as áreas — das ciências exatas à cultura —, de todos os gêneros e cores”.