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Jovens sem interesse no magistério e o risco de crise na educação básica por falta de docentes

Uma preocupação ronda a área de ensino no país: em menos de duas décadas, a falta de docentes pode levar a educação básica brasileira a uma crise. Um cenário que reflete a atual diminuição do interesse de estudantes por cursos superiores de licenciatura. Ou seja, com menos pessoas se formando na área, faltam profissionais para repor os atuais quadros de professores – que tende a diminuir, à medida que os trabalhadores envelhecem ou abandonam a carreira.

Apesar de preocupante, contudo, esse cenário não é de hoje. Em outubro do ano passado, o APUBHUFMG+ já havia repercutido o alerta de risco de déficit de 235 mil docentes no Brasil, até 2040. A projeção foi elaborada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), com base nos dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que faz parte do Ministério da Educação (MEC).

O levantamento revelou, ainda, uma das principais causas para esse quadro: a falta de interesse em seguir a carreira docente – sobretudo, entre os mais jovens. De acordo com a pesquisa, o número de novos estudantes com até 29 anos de idade, nos cursos de licenciatura, reduziu de 62,8%, em 2010, para 53%, em 2020. E por outro lado, o número de professoras e professores de ensino básico com 50 anos de idade ou mais subiu 109%, entre 2009 e 2021. Já entre aquelas e aqueles com até 24 anos, no mesmo período, houve uma queda de 42,4%.

O problema foi colocado em debate pela Comissão de Educação e Cultura do Senado, na semana passada, em audiência pública com a presença de entidades representativas de docentes, estudantes e de pesquisadores, assim como de gestores de instituições de ensino. Para lidar com a falta de interesse pelo ingresso em cursos superiores de licenciatura, a audiência apresentou uma proposta de alteração na legislação que regulamenta a área no Brasil. A proposta é autorizar a oferta do ingresso único, permitindo que apenas, posteriormente, os estudantes tenham que escolher entre as modalidades de bacharelado e licenciatura. Com isso, ao longo do curso, os jovens teriam mais tempo para desenvolver interesse pelo magistério.

Ainda assim, gerar interesse por esta área nos mais jovens continua a ser um desafio. Até porque, como a pesquisa citada acima demonstrou, o abandono da carreira também contribui para o aumento da carência de profissionais. Algo que reflete as condições desfavoráveis que a categoria docente tem de enfrentar. Por isso, realmente temos motivos para preocupação. Afinal, menos estudantes querem seguir a carreira docente, enquanto há profissionais que já estão na ativa deixando a área. Algo que pode afetar todo o ensino no país, tendo em vista que o básico é o alicerce dos demais níveis da educação.

Não há dúvidas sobre o papel da Educação para o desenvolvimento de um país, em todos seus âmbitos. Assim como, não há dúvidas sobre o papel desempenhado por professoras e professores para a população ter acesso a um ensino de qualidade, um direito previsto na Constituição. No entanto, o reconhecimento por este papel ainda não é uma realidade concreta. Precisamos de muita luta pela valorização da categoria, a começar pela garantia de condições adequadas de trabalho, remuneração justa e investimento necessário, assim como pelo fim dos ataques ao exercício de nossa profissão. Apenas dessa maneira, as futuras gerações terão motivação para ingressar na carreira, e as atuais para permanecer.