A luta em defesa da Democracia precisa ser permanente
A classe trabalhadora demonstra a sua força para conter o avanço do fascismo no Brasil. Em todos os espaços possíveis – movimentos sindicais, estudantis, sociais e políticos – temos visto a defesa da Democracia. Por isso mesmo, é tão expressivo que os representantes eleitos pelo povo brasileiro para governar o país nos próximos quatro anos tenham subido a rampa do Palácio do Planalto, acompanhados por pessoas que representam segmentos marginalizados da sociedade, como os portadores de deficiência, os indígenas, as pessoas negras e os pobres, além do cão Resistência, adotado pela atual primeira dama. O gesto na cerimônia de posse simbolizou que o neoliberalismo, derrotado democraticamente, deu lugar a um projeto de reconstrução nacional, comprometido com a diminuição das desigualdades sociais.
A luta, no entanto, não acabou. As imagens do povo subindo a rampa do Planalto em Brasília (DF) contrastam com as cenas dos atos de terrorismo, cometidos por apoiadores extremistas do bolsonarismo, na mesma cidade, no último domingo (08/01). As sedes dos três Poderes da República – Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal – foram invadidas e depredadas por criminosos, que não se conformam com o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Cabe ressaltar que este não foi um caso isolado. Há menos de um mês, no dia 12 de dezembro, a cidade de Brasília já havia sido alvo de terrorismo, quando bolsonaristas extremistas atearam fogo em ônibus e carros, depredaram bens e vias públicas, dispararam tiros e atacaram uma delegacia e a sede da Polícia Federal, entre outros crimes. Poucos dias depois, em 24 de dezembro, um caminhão-tanque foi preparado para explodir nas proximidades do aeroporto de Brasília. Nos últimos quatro anos, acompanhamos a escalada de ações abertamente antidemocráticas e criminosas executadas por apoiadores do governo Bolsonaro. Diversos crimes foram cometidos por pessoas que se declaram patriotas, mas que atentam contra as instituições democráticas, a vida dos cidadãos e vandalizam os bens públicos.
Enquanto isso, o ex-presidente Bolsonaro tenta se esquivar das acusações de ter incentivado os movimentos golpistas. Contudo, após quatro anos de uma gestão marcada por um discurso profundamente violento e antidemocrático, fica evidente a impressão digital de seu projeto de governo nos atentados. Inclusive, a aversão à Democracia se tornou ainda mais explícito no ano passado, com a proximidade do pleito para presidente da República. O então chefe do Executivo, assim como os demais membros do governo e seus apoiadores, espalharam mentiras sobre as urnas eletrônicas, numa tentativa fracassada de colocar o sistema eleitoral em descrédito. Do mesmo modo, o Poder Judiciário também foi alvo de hostilidades.
Na verdade, nem mesmo o caos provocado pelo extremismo serviu para que o ex-presidente recuasse em sua retórica golpista. Na noite de terça-feira (10/01), ele postou em suas redes sociais (e logo depois, apagou) um vídeo que sustenta a mensagem mentirosa de que Lula não teria sido eleito pelo povo, mas escolhido por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A mensagem causa revolta, mas não espanto. Afinal, trata-se de uma tática que vem sendo amplamente utilizada pelo ex-presidente e pelo bolsonarismo, para insuflar o ódio nas parcelas mais crédulas e acríticas de seus apoiadores.
Além do mais, causa indignação a conivência de certos agentes do Estado para com as tentativas de golpe e as ações terroristas. Por meio das filmagens amplamente divulgadas pela imprensa nos atos criminosos praticados no dia 08/01, podem ser identificados policiais dando suporte aos terroristas e até mesmo a presença de políticos eleitos. Outro ponto a ser levantado são as obrigações constitucionais em relação à omissão no cumprimento das funções de membros de órgãos públicos, o que contribuiu para a realização dos atos criminosos. Por tudo isso, a sociedade brasileira deve cobrar dos órgãos competentes que procedam com a apuração dos fatos e o cumprimento da Lei. É preciso assegurar que a vontade soberana da população expressa nas ruas seja cumprida, assim como garantir que todas as pessoas envolvidas e responsáveis, incluindo participantes, incentivadores, financiadores e facilitadores, sejam exemplarmente identificadas, julgadas e punidas pelos seus atos criminosos. É preciso que o Estado brasileiro dê a devida resposta ao terrorismo bolsonarista, para garantir a sua própria existência. Não pode haver anistia para quem atenta contra o Estado Democrático de Direito.
O APUBHUFMG+ jamais recuou nessa luta e continua contando com a presença atuante de todas, todos e todes que compõem a nossa categoria para dar um basta ao movimento fascista no Brasil. E, neste momento, é ainda mais decisivo que estejamos em sintonia com as mobilizações democráticas, que ocorrem em âmbito nacional e regional. Não podemos nos deixar enganar. A derrota do bolsonarismo nas urnas foi fundamental, porém não foi o suficiente. Ainda não foram extirpadas de nossa sociedade as raízes da ideologia fascista, responsáveis por levar a extrema-direita ao poder e que, agora, tenta corroer os pilares republicanos. Se, de fato, queremos construir uma Democracia plena, forte e inclusiva, a nossa luta e mobilização devem ser permanentes.
Democracia sempre! Fascistas não passarão!
APUBHUFMG+ – Sindicato dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais e Campus Ouro Branco/UFSJ – Gestão Travessias na Luta – 2022/2024