Manifesto #MeninasDecidem dar voz para garotas de todo o país que clamam por melhorias na educação
Lançado no dia 16 de agosto pela Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala Brasil, o manifesto Meninas Decidem propõe mudanças para tornar o ensino mais inclusivo e questiona sobre quem, historicamente, tem direito à educação no Brasil. O texto foi elaborado por 20 adolescentes, incluindo meninas negras, periféricas, indígenas, quilombolas, trans, travestis e com deficiência, e recebeu o apoio da ativista e vencedora do Prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai. Como principal exigência, o documento destaca o direito das mulheres de ter uma boa educação que seja antirracista, anticapitalista, feminista e contrária a todas as formas de opressão e preconceito.
Em um governo cujo investimento na educação é o mais baixo da década, além da intensa e atípica rotatividade de incompetentes ministros na área – ponto esse tratado com descaso pelo presidente Jair Bolsonaro – o #MeninasDecidem aparece como um grito de uma geração de garotas em favor da valorização da educação, que está sendo destruída neste governo. O manifesto ganha ainda mais sentido nesse contexto devido ao fato de que são as meninas as que mais sofrem com a falta de investimento em políticas públicas no país, segundo a pesquisa “Infância, gênero e orçamento público no Brasil” do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA). A necessidade de cumprimento do trabalho doméstico, associado à figura feminina de forma histórica, e a vulnerabilidade em casos de gravidez na adolescência tornam-se principais motivos para a evasão escolar desse gênero ser maior que entre meninos. Assim, além da falta de recursos destinados a elas, garotas de todo o país têm de enfrentar batalhas diárias contra todas as formas de violências, sem poder contar com o amparo institucional para facilitar suas lutas.
“A educação que eu quero é uma educação de qualidade, em que as mães na adolescência não tenham que largar a escola para cuidar da casa ou dos filhos porque na escola não tem apoio para elas”, afirma a jovem indígena Shayres Pataxó, 18 anos, em trecho do manifesto
Denunciando a ausência de políticas públicas que tentem a resolver a questão da desigualdade social, um dos principais problemas do país e que está intrinsecamente ligado ao ensino, o documento reforça a tendência histórica de direcionamento do dinheiro público para as elites. A drenagem de verba para alguns setores da sociedade em detrimento de outros é arquitetada para privilegiar determinadas camadas sociais, aprofundando o fosso da desigualdade social no Brasil, afetando ainda mais mães jovens, sem direitos sobre o próprio corpo, e que se veem obrigadas a abrir mão do ensino em prol de uma vida que não escolheram. A falta de acessibilidade afeta a integração de pessoas com deficiência, meninas trans, lésbicas e travestis, as afastando da vida comum. Garotas negras, indígenas e periféricas são vítimas todos os dias de formas de discriminação que constantemente as desumanizam e impedem a presença delas em espaços públicos.
O #MeninasDecidem foi uma das respostas do povo a um governo inimigo da educação e das mulheres e mostra a necessidade de, cada vez mais, gritarmos em defesa dos direitos que são negados a todos que não sejam homens brancos, héteros, cis e ricos que compõem a esmagadora maioria dos cargos políticos e de tomada de decisões no país. A educação é pública e deve ser reestruturada para se apresentar como tal, sendo inclusiva, conscientizadora, libertadora e livre de preconceitos, agindo na direção contrária daqueles que tentam nos calar.
Como afirma o manifesto, “A luta é por uma educação para todas, todes e todos! A educação que conscientiza, que liberta e fortalece todos dentro das suas especificidades!”