Nota: Sobrecarga de trabalho, ineficiência do governo e propostas imprudentes de retorno ao ensino presencial
Nesta semana, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados, afirmou, em entrevista à CNN Brasil, que os professores “não querem trabalhar”. Em um discurso mentiroso, afirmou: “É absurdo a forma como estamos permitindo que os professores causem tantos danos às nossas crianças na continuidade da sua formação. O professor não que se modernizar, não quer se atualizar. Já passou no concurso, está esperando se aposentar, não quer aprender mais nada”. De apenas uma tacada, o deputado desprezou a sobrecarga de trabalho pela qual estão passando os docentes em todos os níveis, as medidas do governo que impedem abertamente o desenvolvimento do trabalho docente e que desvalorizam o serviço público.
É preciso que, à declaração do líder do governo, digamos: “Não, deputado. A realidade é outra. Os programas de ensino remoto, aplicados sem nenhuma discussão com a categoria por parte de governos federais, estaduais e municipais, estão significando que os professores estão trabalhando mais. Isso porque, sem o horário fixo de trabalho, é preciso preparar e corrigir atividades, impressas ou no computador, atender às mensagens dos alunos, muitas vezes fora do horário de trabalho, além de lidar com a instabilidade de servidores de vídeo-chamadas e de plataformas virtuais, tudo isso com recursos próprios. Foi o governo que o senhor representa, deputado, que vetou auxílio financeiro de R$ 3,5 bilhões para estados e municípios garantirem acesso à Internet para alunos e professores, neste momento de auxílio remoto emergencial.”
Nós, professores, não voltamos a dar aulas presenciais porque, no Brasil, diariamente, continuam morrendo milhares de pessoas por uma doença para a qual já existe vacina. Estamos longe de atingirmos o grau o suficiente de segurança sanitária para garantir condições de retorno às aulas presenciais. Ou será que a pesquisa desenvolvida por pesquisadores e professores dos departamentos de Sociologia e Estatística da Universidade Federal de Minas Gerais, divulgada no dia 18 de abril, não demonstrou que um só aluno infectado, numa sala com outros 20 alunos, tem potencial de infectar outras sessenta pessoas em um prazo de quinze dias? Isto utilizando máscara. Sem o equipamento de proteção individual, que, não é demais lembrar, foi menosprezado pelo governo Bolsonaro durante toda a pandemia, a projeção é de 90 infectados em dez dias.
Provavelmente, por ser base aliada do governo, o deputado ataca os professores e os servidores em geral, tratando-os como pessoas que não querem trabalhar e que estão simplesmente querendo aproveitar seu status como concursados.
Por tudo isso, é preciso dizer ao líder do governo: “Não deixe que seu negacionismo o cegue para os fatos, deputado”.
Podemos acrescentar que é na Universidade Federal de Minas Gerais que está sendo desenvolvida a primeira vacina nacional, única medida com respaldo científico para combater a pandemia, e que ela já se encontra em fase de convocação de voluntários para testes em humanos. É no ensino, pesquisa e extensão públicos, junto à saúde pública, que estão aqueles que estão lutando para manter algum grau de conhecimento de valor social, em meio ao obscurantismo imposto pelo governo federal. E é neste setor que estão sendo realizadas as pesquisas para nos tirar da calamidade em que nos encontramos. E ainda assim, o governo federal reduziu o orçamento global para a educação em 27% e cortou 29% dos investimentos em ciência e tecnologia, se comparados aos valores do ano passado.
Não se tem nenhum respaldo científico para a volta segura ao ensino presencial, como propõe o líder do governo, de forma irresponsável. Queremos trabalhar. Sentimos falta da sala de aula, do contato com os alunos, de nossa rotina. Foi o governo Bolsonaro que nos trouxe para a catástrofe que estamos vivendo. Para voltarmos ao nosso trabalho presencial, precisamos que o poder executivo cumpra, finalmente, seu papel: que ele nos propicie a imunização generalizada. Para isso, cumpra que se invista na educação. Que se invista em ciência e tecnologia. Que se invista nas vacinas nacionais.