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Pobres e negros são os mais penalizados pela alta dos juros

A cada ponto percentual acrescido na taxa básica de juros do Brasil, a Selic, o desemprego entre homens brancos aumenta em 0,1%. Já entre homens negros, o aumento é de 0,32%. Os números foram levantados pelas pesquisadoras Clara Brenck e Patricia Couto, do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Faculdade de Economia da USP (FEA/USP), com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

A pesquisa demonstra, assim, uma das maneiras como a política econômica, mantida pelo Banco Central, impede a retomada do crescimento no país através da geração de trabalho. Com a alta dos juros, a indústria tem se retraído, aumentando as chances de dispensa dos funcionários. Além do que, a população também precisa lidar com o encarecimento do crédito, o que se reflete na diminuição da sua possibilidade de consumo.

A alta da taxa Selic tende ainda a agravar a desigualdade racial no país. Afinal, como demonstrou o estudo, as variações no mercado afetam, mais drasticamente, empregos ocupados por pessoas com menor nível de qualificação e escolaridade, oferendo salários mais baixos e condições de trabalho mais precarizados. Ocupações estas que, em decorrência do racismo estrutural, são ocupados principalmente por homens negros.

Em contrapartida, em 2022, os cinco maiores bancos do país tiveram um lucro líquido de cerca de R$ 106,7 bilhões, alcançando 9,25% de crescimento em relação ao ano anterior, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). O estudo também revelou que o montante foi acumulado, justamente, no período de manutenção da taxa SELIC.

Em outras palavras, o Mercado lucra, enquanto a população passa aperto. Por isso, não é difícil entender as razões para o bolsonarista Campos Neto, atual presidente do BC, insistir em manter os juros nas alturas, uma vez que, ao fazer isso, o órgão se valendo de sua “autonomia”, vai contra o projeto de Estado escolhido nas urnas.

Seria um ledo engano, portanto, esperar atitudes diferentes do grupo que ora ocupa a gestão do Banco Central. Assim, o caminho continua sendo intensificar a pressão sobre o B C, protagonizada por movimentos sindicais e populares. Os protestos, que estão sendo realizados ao logo desse ano, foram intensificados na última semana. A nossa luta continua para que a política econômica do país contribua para o desenvolvimento social e geração de empregos.

Juros baixos já!