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Pesquisadores renunciam coletivamente à medalha concedida por Bolsonaro

Presidente caçou honraria conferida a dois cientistas que comprovaram a ineficácia da cloroquina contra a Covid19

Um total de 21 pesquisadores e pesquisadoras de instituições públicas do país, inclusive a UFMG, condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico renunciaram coletivamente à honraria concedida, na última quarta-feira, 03 de novembro, pelo presidente Jair Messias Bolsonaro, através de decreto. A Ordem criada em 1993 é concedida a “personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação”, conforme redação do decreto nº 8556 de 2015.   Uma comissão formada por membros indicados pelo Academia Brasileira de Ciências, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é responsável pela lista dos nomes dos que recebem a homenagem por seu mérito científico.  Ressalta-se que a lista foi formulada em 2019, ano da última reunião da comissão responsável pela escolha.

Dois dias após a concessão do mérito, Bolsonaro publicou outro decreto revogando a condecoração de Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, respectivamente, diretora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia e pesquisador da Fundação de Medicina Tropical “Doutor Heitor Vieira Dourado”. Ambos os pesquisadores são publicamente conhecidos por posicionarem-se criticamente contra o governo Bolsonaro, suas fakenews e suas crenças. Além disso, Lacerda foi um dos autores do estudo que comprovou a ineficácia da aplicação da cloroquina no tratamento de pacientes graves com Covid 19 no Amazonas. Já Benzaken foi exonerada do cargo de diretoria do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde no início do governo Bolsonaro após elaborar uma cartilha para homens trans.

A solidariedade a Lacerda e Benzaken, além da renúncia coletiva dos 21 condecorados, também foi prestada pela  Articulação das Ciências Sociais – ABA, ABCP, ANPOCS e SBS, pela  presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela  Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), pela Academia de Ciências da Bahia (ACB), pelos professores Eméritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre outros cientistas e entidades que publicaram nota de repúdio à atitude do governo Bolsonaro, à sua perseguição política-ideológica e os sucessivos cortes de investimentos na ciência e tecnologia no país.

Em trecho da nota de renúncia, os pesquisadores afirmam que “Esse ato de renúncia, que nos entristece, expressa nossa indignação frente ao processo de destruição do sistema universitário e de Ciência e Tecnologia. Agimos conscientes no intuito de preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção do processo civilizatório no Brasil”.

E estão certos. É necessário não apenas preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, mas lutar para que elas ainda existam em um futuro próximo.  Haja visto que, pelo mesmo decreto, incrivelmente, o presidente condecorou a si mesmo, o ministro da Economia Paulo Guedes, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, para citar nominalmente os que receberam o mérito sem nunca ter contribuído para a ciência, tecnologia e inovação do país. Pelo contrário, esses três recorrentemente têm feito de tudo para desmontar a educação e a pesquisa brasileira, sendo o presidente um dos maiores negacionistas mundiais da contribuição da ciência para a mitigação da Covid 19. Precisamos nos manter indignados!