Pela terceira vez uma mulher cientista ganha Nobel de Física
Marie Curie ganhou o prêmio Nobel de Física, em 1903. Depois dela, 60 anos se passaram até que Maria Goeppert-Mayer foi premiada, em 1963. E mais 55 anos decorreram até que em 2018 uma terceira mulher ganhou um Nobel de Física: a canadense Donna Strickland compartilhou com dois homens o prêmio, por avanços na tecnologia de laser que transformaram feixes de luz em ferramentas de precisão.
De acordo com a diretora da ABC e física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Márcia Barbosa, o Nobel de física deste ano traz algumas mensagens muito interessantes. “Em primeiro lugar celebra a luz como um instrumento, sob dois aspectos complementares.” Isso porque metade do prêmio vai para a invenção da pinça óptica, desenvolvida por Arthur Ashkin, que atuou no começo da década de 70 no Bell Laboratories, em Nova Jersey.
Márcia explica que desde os tempos de Newton era sabido que a luz exerce uma pressão de radiação. “Para objetos macroscópicos esta força é pequena. Arthur se deu conta que se focalizasse os fótons que compõem a luz, geraria uma interação forte com objetos dielétricos (polarizáveis), podendo arrastá-los.” Assim, tornou-se possível com estas pinças mover colóides, organelas, bactérias e mesmo átomos. No caso dos organismos vivos, de acordo com Barbosa, é possível manipulá-los sem destruí-los, o que abriu as fronteiras para o estudo de sistemas biológicos simples.
A segunda metade do prêmio Nobel foi para Gérard Mourou e Donna Strickland, pelo trabalho que seria a tese.de doutorado de Donna. Eles criaram o “Chirped Pulse Amplification”. A ideia, de acordo com Barbosa, era criar um laser muito intenso, mas que não destruísse o local onde estivesse agindo. Para combinar intensidade com operacionalidade, os pulsos de laser de alta intensidade foram gerados com duração muito curta.
“Para atingir este objetivo usa-se um pulso curto de laser, expande-se para a ordem de nano segundos, amplia-se a intensidade e depois comprime-se o pulso até pico segundos”, relata a pesquisadora. Márcia Barbosa explica que a ideia de trazer uma grande quantidade de energia em um curto espaço de tempo permite o uso deste tipo de laser para manipulações biológicas.
Ao premiar duas invenções que hoje são usadas em aplicações nas áreas da medicina, o Nobel mostra ao mundo que ciência gera desenvolvimento e melhoria de vida. “O aspecto mais interessante desta premiação é a presença de Donna. Em física somente duas outras mulheres haviam sido premiadas, Marie Curie e Maria Goeppert-Mayer, ambas em física nuclear. Donna, com sua premiação em f?sica da matéria condensada, com uma componente interdisciplinar importante, quebra o jejum de 55 anos sem mulheres no Nobel. Ela surge como um sinal de novos tempos. Mulheres agora podem ser protagonistas em todos os espaços, inclusive em física”, conclui.
Fonte: Ascom ABC.