Pandemia compromete saúde mental das mães
Fonte: UFMG.
Acúmulo de tarefas e preocupação com o sustento e a saúde da família são fatores de estresse apontados por mulheres ouvidas pelo programa ‘Outra estação’, da Rádio UFMG Educativa
Vinte e oito de maio é o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são o grupo mais vulnerável a problemas de saúde mental durante a pandemia da Covid-19. Nesse grupo delicado, concentram-se mães, gestantes e puérperas – as alterações hormonais da gravidez e do pós-parto as deixam ainda mais suscetíveis a quadros como ansiedade e depressão.
O episódio desta semana do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, reúne depoimentos de mulheres que esperam o nascimento de seus filhos isoladas dos familiares ou que perderam a rede de apoio em um momento decisivo. Mães que trabalham em home office falam sobre o desafio de conciliar cuidados com as crianças em tempo integral, enquanto as escolas permanecem com atividades suspensas. Há quem perdeu o emprego e, agora, conta apenas com os auxílios do governo para sustentar os filhos. E também mulheres que se dispõem a ajudar outras, em meio a tudo isso.
“Algumas crianças, por exemplo, têm aulas on-line, e a mãe tem de acompanhar esse processo. Ela exerce suas funções no trabalho, é a professora do filho, é a agente que vai higienizar, produzir, muitas vezes, a alimentação da casa, além de gerir todos esses sentimentos de mal-estar diante de um quadro de pandemia mundial”, alerta a psiquiatra Maila Castro, professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG e integrante da Comissão de Saúde da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Divisão sexual do trabalho
E qual o papel dos parceiros para minimizar a sobrecarga feminina, agravada pela pandemia? Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), enquanto 91% das mulheres afirmam fazer tarefas domésticas, apenas 55% dos homens dizem que cuidam do lar. São atividades como arrumar ou limpar a casa, cozinhar ou preparar alimentos, passar roupa, lavar roupa ou louça, cuidar de filhos ou pessoas idosas, dentre outras.
O desequilíbrio é resultado de um comportamento social resumido no conceito de divisão sexual do trabalho, como analisa a professora do Departamento de Ciência Política da UFMG Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem).
“No capitalismo, uma grande massa de trabalho efetuada é considerada trabalho reprodutivo, não remunerado, gratuitamente realizado pelas mulheres. Recorrentemente, um trabalho que é invisível e cumprido em jornadas complementares dentro da casa. O que você tem como resultado disso é um segundo conceito muito importante, o de dupla jornada”.
Parto e amamentação
Ainda não há evidências científicas de que a infecção pelo novo coronavírus funcione de maneira diferente na gestação, mas grávidas e lactantes devem receber atenção especial. Especialistas dizem o que mudou no pré-natal, durante e após o parto para proteger as mães e também prevenir o contágio da nova doença para os recém-nascidos. Foram ouvidas a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG Ana Luiza Lunardi Rocha e a coordenadora da Linha de Cuidado Maternoinfantil do Hospital Risoleta Neves, Patrícia Magalhães.
A amamentação continua sendo incentivada, ainda nas maternidades, que passaram a instruir as pacientes a usarem máscaras e a redobrar o cuidado com a higienização das mãos. Segundo a OMS, as mães podem amamentar mesmo se estiverem com Covid-19. A mesma recomendação é feita em nota técnica do Ministério da Saúde, publicada em março. Entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia também recomendam o aleitamento, que pode inclusive proteger o bebê, por meio dos anticorpos presentes no leite materno.
Para saber mais
Protocolo de atendimento no parto, puerpério e abortamento durante a pandemia da Covid-19 – Febrasgo
Nota técnica do Ministério da Saúde sobre amamentação
O aleitamento materno nos tempos de Covid-19 – Sociedade Brasileira de Pediatria
OMS: O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante
Gênero e número: Maioria entre informais, mulheres têm lugar central na inédita renda emergencial
Produção
O episódio 43 do programa Outra estação é apresentado por Alessandra Ribeiro e Alicianne Gonçalves, que também assinam a produção, com participação de Beatriz Kalil. A coordenação de jornalismo é de Paula Alkmim, e os trabalhos técnicos, de Breno Rodrigues.
O Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.