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O retorno às salas de aula no contexto atual da pandemia de Covid-19

Entidades da Educação promoveram debate online com a participação de Lucas Ferrante, pesquisador do INPA e um dos autores de nota técnica sobre o acompanhamento da pandemia em MG.

Na noite de segunda-feira (07/02), entidades representativas do setor de Educação de Minas Gerais promoveram uma transmissão online para discutir o processo de retorno das atividades presenciais em escolas e universidades, em meio à realidade atual da pandemia de Covid-19. A iniciativa foi construída, coletivamente, pelas seguintes entidades: APUBHUFMG+, Sind-REDE/BH, ANDES-SN, CSP-Conlutas, CTB, SINASEFE, SINDIFES, SINDCEFET, SINPRO Minas, UBES e UNE.

A live contou com a exposição do biólogo Lucas Ferrante, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que vem desenvolvendo pesquisas sobre a Covid-19, desde o início da pandemia, tendo publicado artigos sobre o tema em periódicos científicos no Brasil e no exterior. O biólogo integrou uma equipe multidisciplinar, com a participação de professores e pesquisadores da UFMG, que publicou uma nota técnica sobre o acompanhamento da pandemia em Minas Gerais. Com base nesse estudo, o pesquisador abordou o cenário epidemiológico no início deste ano e pontuou as medidas necessárias para a segurança sanitária no retorno presencial.

A conversa foi conduzida por Flávia Silvestre, integrante da coordenação do SindREDE-BH, que ressaltou a necessidade da mobilização do setor.  Silvestre destacou a relevância da luta que vem sendo promovida, em unidade, pelas entidades, por meio da realização de atos públicos e de campanhas em defesa da educação de qualidade no Brasil. Ela ainda falou sobre a importância da construção de espaços como o da live que possibilitam o debate e a articulação, a partir do aprofundamento científico sobre o tema.

Assista ao registro da  live “Pandemia e retorno presencial às aulas”, na página do APUBHUFMG+, no Facebook: https://fb.watch/b27ogOSTdG/,  ou no canal das Entidades da Educação de MG, no Youtube: https://youtu.be/dQqIVymaapc

Mobilização das entidades do setor da Educação                                            

A professora Maria Rosaria Barbato, presidenta do APUBHUFMG+, pontuou que a categoria docente da universidade considera fundamental o retorno ao ensino presencial, todavia, para que isso seja viável, é preciso garantir a segurança sanitária para toda a comunidade acadêmica, assim como para a população que acessa as instalações da universidade. A presidenta do sindicato alertou para o atual cenário de recrudescimento da pandemia, em que há o aumento do número de pessoas contaminadas e de mortes. E mesmo nesse cenário, como ela explicou, continua o negacionismo e necropolítica do governo Bolsonaro, que insiste em espalhar desinformação e menosprezar as consequências da pandemia. “O número de mortes só não acompanha o número de infecções graças ao fato de que o povo brasileiro não escutou o governo Bolsonaro e, assim, teve a oportunidade e procurou se vacinar”, destacou a professora.

A presidenta do APUBHUFMG+ informou que, por decisão da assembleia da categoria, o sindicato encaminhou ofício à reitoria da universidade, em que pondera sobre a necessidade de retroceder à etapa anterior do plano de retorno presencial e de aprimorar as medidas de prevenção implementadas na instituição. No documento, o sindicato também cobra a publicação de uma normativa única sobre o retorno presencial na universidade, que não seja suscetível a interpretações divergentes, e a adoção da exigência do passaporte vacinal.

A estudante Késia Cristina, representado a UNE, chamou a atenção para os cortes do orçamento público destinado à educação, principalmente nas instituições federais de ensino. Késia Cristina definiu que o retorno presencial precisa ser aliado à garantia de segurança sanitária, através da implementação de mecanismos de prevenção e do fornecimento equipamentos de proteção individual. Contudo, ela fez uma ponderação sobre a dificuldade para que estas medidas sejam garantidas, uma vez que as universidades públicas, que já passam pela redução em seus orçamentos, ainda precisarão arcar com os custos do retorno presencial. A estudante disse ainda que é preciso “construir uma volta às aulas responsável que atenda aos estudantes, aos professores, aos técnico-administrativos e aos funcionários”.

Prosseguindo com a discussão, Adelson Moreira, presidente do SINDCEFET-MG, destacou a “importância das entidades representativas dos estudantes e dos trabalhadores da educação estarem construindo e atuando juntos em uma pauta comum, como esta do retorno presencial”. Essa atuação é fundamental, na opinião dele, para pressionar a administração municipal pela exigência do passaporte vacinal em espaços com maior potencial de contágio, como é o caso de escolas e universidades. Nesse sentido, Adelson Moreira pontuou a necessidade de articulação entre entidades e a mobilização das bases, guiados pelos estudos científicos.

A coordenadora-geral do SINDIFES, Cristina del Papa, abordou a greve sanitária por condições seguras de trabalho, deflagrada pela categoria dos técnico-administrativos da UFMG. Ela explicou que o retorno às atividades presenciais é considerado de suma importância pela categoria, contudo a deflagração da greve foi necessária, devido à falta de condições adequadas na estrutura física da universidade e aos altos índices de contaminação pela variante Ômicron, assim como o surto de Influenza. A TAE comentou ainda que a categoria continua desempenhando as funções, porém de modo remoto. “É importante sim voltar às aulas presenciais, mas é muito importante nós termos segurança no trabalho, para recebermos os discentes que vão retornar”, definiu a coordenadora-geral do SINDIFES.

Contexto atual da pandemia: riscos e recomendações

Em sua exposição, Lucas Ferrante retomou o artigo publicado na Nature Medicine, que assinou junto a outros pesquisadores, em 7 de agosto de 2020, para demonstrar as consequências do retorno presencial às salas de aula, que foi retomado de maneira precipitada no estado do Amazonas, sem a adoção das devidas medidas sanitárias. “Esse estudo é muito importante porque demonstra que retorno presencial aumenta a mobilidade urbana, principalmente no transporte público, e consequentemente aumenta a transmissão comunitária, gerando novas ondas e até o surgimento de uma nova variante”, explicou o pesquisador do INPA.

O biólogo descreveu, em sua apresentação, que: “de acordo com o modelo SEIR, multicepas (Delta + ômicron), mesmo sem o retorno escolar em fevereiro, ainda devem ocorrer em Belo Horizonte com mais de 1260 internações e 141 óbitos por COVID-19 até o fim de fevereiro, dos quais pelo menos 13 óbitos são projetados para a faixa etária de menores de 18 anos”. “É uma situação grave que se projeta para Minas Gerais, de forma geral. Nós não aconselhamos o retorno escolar no meio dessa onda”, explicou Lucas Ferrante. E completou dizendo que o risco não se limita aos espaços escolares e universitários, mas para toda a sociedade, tendo em vista a possibilidade de aumento da transmissão comunitária.

O pesquisador atestou a necessidade de adoção do passaporte vacinal, para aumentar a segurança sanitária no retorno presencial. Além disso, ele recomenda que o retorno seja de modo escalonado, mantendo-se o ensino remoto no mês de fevereiro. Caso essas medidas não sejam seguidas, o pesquisador teme pela possibilidade de aumento expressivo de hospitalizações, óbitos e sequelas, em decorrência do vírus. Ao mesmo tempo, ele acredita no risco do “surgimento de uma nova variante, com a possibilidade de ser resistente às vacinas, devido ao aumento da circulação viral”. O biólogo também alertou que a volta mal executada pode acarretar na perda da eficácia das medidas adotadas até então.