O inelegível falou demais no ato da extrema direita na Av. Paulista
O político inelegível Jair Bolsonaro é conhecido por sua verborragia. Algo que ficou evidente em sua fatídica passagem pelo governo federal, quando destilava insultos a opositores e minorias. E as mesmas falas agressivas marcaram as várias ameaças e ataques contra as instituições democráticas. O ex-presidente, contudo, não apresentou essa mesma “valentia”, na semana passada, quando compareceu à Polícia Federal (PF) para um depoimento no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. Ao ser questionado pelos agentes da PF, o inelegível preferiu ficar calado. Cabe lembrar, inclusive, que ele tentou adiar esse depoimento duas vezes, mas ambos os pedidos foram negados.
Porém, no domingo passado (25/02), aquele Bolsonaro falastrão voltou a aparecer em público. Desta vez, em um ato da extrema direita na Avenida Paulista, em São Paulo/SP. Em discurso para apoiadores, o político tentou se defender das acusações de envolvimento nos planos golpistas. E como tem se tornado uma prática recorrente, ele tentou distorcer os acontecimentos para se esquivar dos fatos. Antes, Bolsonaro dizia não ter participado da trama antidemocrática. Já no último domingo, o político mudou de versão, ao dizer que aquela não teria sido, realmente, uma tentativa de golpe.
E Bolsonaro chegou, até mesmo, a pedir anistia para os condenados pelos atentados terroristas em 8 de janeiro do ano passado. Veja bem, ele não negou os crimes, mas pediu que estes fossem perdoados. Em suas palavras: “passar uma borracha no passado”. Algo, no mínimo, irônico. Afinal, ele espera que o atual chefe de Estado anistie as condenações por tramar e tentar impedir a sua posse e, principalmente, a continuidade e o fortalecimento do Estado Democrático e Social de Direito.
Só que, desta vez, o político de extrema direita pode ter falado demais – até para os seus próprios padrões. Isso porque, ao tentar se esquivar das suspeitas, Bolsonaro teria escancarado a sua participação nos planejamentos golpistas. Como tem sido anunciado pela imprensa nos últimos dias, a PF pretende incluir a íntegra do discurso do ex-presidente na investigação sobre a tentativa de golpe. No entendimento dos investigadores, Bolsonaro teria admitido, no discurso, ter conhecimento da chamada “minuta do golpe”. Para a Polícia Federal, há indícios de “admissão de culpa” nas falas do ex-presidente. Ou seja, o inelegível pode ter dado um tiro no pé.
Não podemos subestimar, no entanto, a influência que a extrema direita ainda possui no país. Basta lembrar da própria trajetória do bolsonarismo no país, assim como na escalada dos ataques as instituições democráticas. Diante desse cenário, as forças democráticas não podem subestimar esse discurso como ameaças sem consequências. Assim, para que a defesa do Estado Democrático e Social de Direito não se reduza a um discurso vazio, as medidas cabíveis devem ser tomadas. Devemos pressionar o Poder Público para que as pessoas envolvidas nessa tentativa de golpe continuem sendo identificadas e julgadas. O Brasil merece respostas sobre os atentados terroristas contra a Democracia. Sem anistia!