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O aumento de gastos do Governo Bolsonaro com propagandas na TV, em pleno ano eleitoral

Governo tem privilegiado propagandas institucionais e quase dobrou o gasto com a TV Globo, até então tomada como “inimiga”.

“Globo Lixo” dizia o cartaz erguido por Jair Bolsonaro (na época, sem partido), em fevereiro do ano passado, durante a inauguração do Centro Nacional de Atletismo, em Cascavel/PR. A atitude se somava às constantes críticas e provocações direcionadas pelo presidente à emissora. Além disso, recentemente, circula na imprensa a informação de que o governo Bolsonaro estaria disposto a tentar impedir a renovação da concessão pública da TV Globo. Embora com poucas chances de sucesso, a estratégia presidencial incluiria a elaboração de um relatório, a ser enviado ao Congresso, recomendando que o contrato seja interrompido.

O governo federal também pouco acionou a emissora para a veiculação de materiais publicitários ao longo de seu mandato. Nos primeiros anos de gestão, o governo privilegiou a veiculação de informações através da Record e do SBT, emissoras cujos gestores demonstram apoio ao atual presidente. As coisas, no entanto, vêm mudando nos primeiros meses de 2022. Enquanto o governo Bolsonaro pagou R$ 6,5 milhões para a TV Globo, para a veiculação de publicidade, de 1º de janeiro a 21 de junho de 2021, no mesmo período deste ano, os gastos para os mesmos fins com a emissora subiram para R$ 11,4 milhões, uma alta de 43%. O levantamento foi feito pelo portal UOL, com base em dados da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (SECOM).

O levantamento também mostrou que não foi somente a escolha pela emissora que mudou. Se antes o governo privilegiava peças publicitárias de utilidade pública, agora o foco tem sido nas campanhas institucionais – ou seja, propagandas das ações realizadas pela gestão que está no poder. No ano passado, o governo utilizou a TV Globo para veicular 46 propagandas de utilidade pública e 10 institucionais. Já em 2022, as propagandas institucionais pularam para 72, enquanto as de utilidade pública foram apenas duas.

A TV Globo, no entanto, não foi a única a receber mais recursos públicos do governo Bolsonaro. No primeiro semestre, os gastos com as quatro maiores emissoras de televisão do país somaram R$ 33 milhões. Desde de 2009, o governo federal não gastava tanto com propagandas na TV. Na época, foram R$ 30,4 milhões. Essa foi uma mudança considerável da postura do atual governo, que costumava abrir mão de meios oficiais de comunicação do Estado para se pronunciar por meio de postagens e lives nas redes sociais.

O Brasil está em ano de eleições presidenciais, e as pesquisas indicam poucas chances de reeleição para o atual presidente. Nesse cenário, ficam evidentes as reais intenções com o aumento de gastos com a visibilidade do governo em veículos de grande alcance junto à população. Na verdade, essa situação chama atenção para uma prática que tem se tornado recorrente no governo Bolsonaro: o uso de recursos públicos para fins políticos. O mesmo pode ser observado no redirecionamento de verbas da Educação para o agronegócio e nas suspeitas de corrupção no MEC, todas essas práticas, direta ou indiretamente vinculadas às tentativas de implementar medidas eleitoreiras.

Por outro lado, é preciso lembrar que, a despeito de quaisquer conflitos superficiais, a Rede Globo, a maior representante da mídia comercial do país, continua aliada ao projeto socioeconômico do neoliberalismo. Assim, devemos continuar atentos e atuantes diante de grupos que utilizam de suas posições em benefício próprio, seja no governo ou na mídia, deixando de lado as verdadeiras necessidades da população.