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Novo ensino médio e o fracasso da educação básica no país

Nos últimos dias, com o retorno às aulas, houve uma intensificação das críticas ao Novo Ensino Médio (NEM). As redes sociais estão repletas de questionamentos e denúncias de alunos, pais e professores.  Em vigor há apenas dois anos, o Novo Ensino Médio instituído pela Lei 13.415/17 tem sido alvo de polêmica desde a sua concepção, uma vez que é fruto de uma medida provisória gestada, implementada e transformada em lei, sem a devida e necessária discussão com a comunidade da educação. “A mudança tem como objetivos garantir a oferta de educação de qualidade a todos os jovens brasileiros e de aproximar as escolas à realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade”, explica o MEC em sua página na internet.

A reforma no novo itinerário formativo do NEM tem como justificativa ser “mais atrativa aos estudantes” e aumentar, na prática, uma formação   profissionalizante dentro do Ensino Médio. Dessa maneira contraditoriamente a organização curricular do Ensino Médio  não contem mais disciplinas como artes, química, física, sociologia, entre outras, de grande importância para a formação estética, humana, social e aplicada dos estudantes no percurso de sua escolarização. Esse prejuízo já vem à tona quando estudantes e educadores relatam que estão tendo dificuldades para adaptar o novo currículo na realidade escolar. O tal aumento que a reforma prega se dará nas desigualdades entre os estudantes de escolas públicas e privadas, expandindo as barreiras no acesso ao ensino superior aos estudantes mais pobres.

“Sob o pretexto de dar “flexibilidade” aos estudantes, o “Novo Ensino Médio” esvazia a formação básica de quem é submetido a ele. História do Brasil, por exemplo, não existe mais. De maneira geral, disciplinas voltadas à formação do senso crítico e da cidadania ativa foram extirpadas. Em seu lugar entram conteúdos relacionados a “empreendedorismo” e “marketing”. A reforma se exibe como perfeitamente alinhada ao espírito do neoliberalismo”, destaca o professor da UnB, Luis Felipe Miguel, em artigo publicado no site A Terra é Redonda: “Na prática, a educação é segregada, oferecendo aos filhos da classe trabalhadora uma formação “adequada” às posições subalternas que eles estão destinados a exercer – e reservando aos herdeiros das elites horizontes mais alargados.”

Após a posse do atual governo Lula, o burburinho a respeito da revogação da reforma do NEM cresceu. Os governos federais, estaduais e municipais dizem não prever a revogação da lei, mas dão indícios de que irão analisar as possibilidades para mudanças no Novo Ensino Médio. Muitos dos que defendem a nova reforma, acreditam que em determinado momento ela irá cumprir tudo que está propondo, mas a grande questão é que o Novo Ensino Médio só contém o semblante “novo”, pois é muito mais danoso para a educação pública no país do que o antigo modelo. Na prática, o que se tem visto é a concretização em um curto prazo do golpe de misericórdia na educação do país e a consolidação do plano de “emburrecer” a população transformando-a em uma massa acrítica fácil de moldar e manipular a fim de servir aos interesses do mercado e, porque não dos partidos de extrema direita.  É o escancarar das portas para a privatização da educação pública do país.

Para Zanatta e outros (2019, p 1717), ao se olhar para a história da educação no Brasil, fica claro que as diretrizes educacionais para as escolas públicas são marcadas fortemente pelos arroubos de natureza econômica e política, uma vez que têm sido organizadas em função dos interesses das elites, dos dirigentes políticos e organismos internacionais. Estes últimos, ao oferecerem financiamentos cobram por resultados e, certamente, “trata-se de um meio de obter influência e poder de decisão”.

A revogação da reforma não é voltar ao passado, mas repensar o presente para caminharmos para um futuro com compromisso com a democracia, com os direitos sociais e com o acesso à educação pública, gratuita e de qualidade para todos os estudantes do país. O NEM nos faz pensar: o quanto o governo Lula estará comprometido de fato com a formação dos jovens, futuros trabalhadores, lhes permitindo uma educação criativa, alegre e crítica para que possam ser verdadeiros cidadãos ao ingressarem no mercado de trabalho?

 

Fonte: O novo ensino médio – A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br)

http://portal.mec.gov.br/publicacoes-para-professores/30000-uncategorised/40361-novo-ensino-medio-duvidas

ZANATTA, Shalimar C.; BRANCO, Emerson Pereira; BRANCO, Alessandra B. de Godoi; NEVES, Marcos C. Danhoni. Uma análise sobre a reforma do ensino médio e a implantação da base nacional comum curricular no contexto das políticas neoliberais. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.17, n.4, p. 1711-1738 out./dez. 2019 e-ISSN: 1809-3876 Programa de Pós-graduação Educação: Currículo – PUC/SP http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum