MST vai reconstruir escola destruída em ação da Polícia Militar durante a pandemia
O Quilombo Campo Grande, localizado no Sul de Minas Gerais, na cidade de Campo do Meio, está vivendo um momento histórico extremamente importante e simbólico. Em agosto de 2020, durante a pandemia de covid-19, uma ação de reintegração de posse realizada pela Polícia Militar (PM) do estado, que durou mais de 56 horas, culminou na demolição da escola Eduardo Galeano, ficando para a história como um ato violento e antidemocrático do governo Zema, sendo contraposto pela resistência dos quilombolas e o despejo mais longo do século XXI no Brasil.
Em 1996, a Usina de Açúcar Ariadnópolis, localizada no município de Campo do Meio, faliu sem pagar os direitos trabalhistas aos seus funcionários e funcionárias. Sem trabalho e remuneração, os trabalhadores ocuparam, desde então, as terras da fazenda tornando-as produtivas em outros segmentos da agricultura. Em 2019, o governo Romeu Zema retomou as ações de reintegração de posse e o despejo de mais de 450 famílias do Quilombo Campo Grande. Em 12 de agosto de 2020, as famílias moradoras do quilombo Campo Grande viveram a ação violenta da polícia militar, com a derrubada da Escola Eduardo Galeado, que acolhia crianças, adolescentes, jovens e adultos do quilombo, assim como viram ser incendiados os diversos cultivos agrícolas plantados dentro das técnicas da agroecologia e sem uso de agrotóxicos.
Em 2 de setembro de 2020, o APUBH articulou, juntamente com um coletivo de sindicatos, entidades, escolas e movimentos sociais da educação de Minas Gerais, uma campanha de solidariedade de classe para arrecadação de recursos na reconstrução da Escola Popular Eduardo Galeano, divulgando na ocasião, por meio de plataforma de financiamento coletivo, este movimento. A mobilização de solidariedade de classe surtiu um resultado afirmativo dentro e fora da universidade.
No dia 20 de novembro deste ano, o quilombo Campo Grande celebrou em ato político-cultural a reconstrução da Escola Popular Eduardo Galeano. As famílias de sem-terra que ocupam a área do quilombo há mais de 20 anos, veem como uma ação de extrema importância a retomada da reconstrução da escola. Michelle Neves Capuchinho, membra da Direção Estadual do setor de formação da escola Eduardo Galeano, em entrevista ao portal Brasil de Fato, ressaltou: “O despejo de 2020 tentou destruir um sonho, mas a gente era semente e ela rebrotou e está rebrotando. Hoje é um dia onde a gente vai comemorar isso, celebrar, essa grande conquista e vitória. Uma vitória da classe trabalhadora de retomar um processo de esperançar. De assumir a condição de uma educação emancipadora”.
O ato reuniu cerca de 400 pessoas. Contou com um cortejo cultural-místico da irmandade do Rosário de Campo do Meio que levou batuques por toda a área onde a escola vem sendo reconstruída. À tarde, o ato político teve início com a participação de assentados e apoiadores que defendem a reforma agrária, a regularização dos acampamentos e um projeto de educação popular e agroecológica.
Ricarda Maria Gonçalves da Costa, assentada e educadora, lembra que “foi muito difícil acompanhar quando destruíram a escola, doeu muito, as lágrimas caiam do olho. Mas confiávamos que aquilo ia passar e o futuro ia ser melhor. O MST tem fé, estamos indo e chegaremos lá com certeza.”, disse a educadora ao jornal BdF.