Medicina abre cadastro para testes da vacina da Johnson & Johnson contra a covid-19
Fonte: Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG.
Expectativa é reunir cerca de dois mil voluntários com prioridade para pessoas mais expostas ao coronavírus
Centro Colaborador da Rede Internacional CoVPN, a Faculdade de Medicina abriu um pré-cadastro para pessoas interessadas em participar como voluntárias dos testes da Ad26.COV2.S, vacina candidata contra a covid-19 desenvolvida pela norte-americana Johnson & Johnson. A rede recrutará de 30 a 60 mil participantes na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, África do Sul e EUA. A Faculdade de Medicina será responsável pela condução dos ensaios com até duas mil pessoas. Até ontem, mais de 19 mil moradores de Belo Horizonte já haviam se candidatado.
“A fase 3 desse estudo busca avaliar a eficácia do produto vacinal na prevenção ou atenuação das manifestações clínicas da infecção pelo Sars-CoV-2. Ou seja, essa candidata já passou por outras fases que avaliaram segurança e imunogenicidade – capacidade de gerar respostas – em voluntários sadios. Esta é, portanto, a última etapa antes do registro nas agências reguladoras nacionais e internacionais para uso pela população geral”, afirmou o professor Jorge Andrade Pinto, coordenador do estudo, em entrevista coletiva concedida na tarde desta quarta-feira, dia 7, na Faculdade de Medicina.
Segundo ele, uma única dose é suficiente para imunizar. “É uma vacina muito promissora, que utiliza como vetor um adenovírus humano, sem capacidade de replicação, no qual é inserido o material genético do Sars-CoV-2”, explica o professor, acrescentando que um dos objetivos é prevenir a manifestação da forma moderada ou grave da covid-19, a fim de diminuir o risco de morte. “Se essa candidata a vacina conseguir atenuar a gravidade da infeção pelo coronavírus, será um grande efeito”, avalia Jorge Pinto.
Participação diversificada
Pode se candidatar qualquer pessoa acima de 18 anos, sem limite superior de idade. Haverá divisão por grupos, de acordo com as etapas da pesquisa. Inicialmente, a vacina será testada em pessoas sem patologias prévias, em grupos com menos ou mais de 60 anos. Constatada a segurança do imunizante, uma segunda etapa de testagem alcançará pessoas da mesma faixa etária (grupo de 18 a 60 anos e o grupo acima de 60), mas com alguma comorbidade (obesidade, problemas cardíacos, hipertensão arterial, entre outras).
Um diferencial desse estudo, segundo o coordenador, é que na seleção não há critério excludente de ocupação, como ser profissional da saúde. “A prioridade é alcançar pessoas que corram mais risco de serem infectadas. É importante também que a seleção reflita a diversidade populacional, com representatividade etária, social (priorizando pessoas que usam transporte coletivo, moradores de comunidades, trabalhadores de nível médio ou que atuam na limpeza, por exemplo), étnica e de gênero”, informa Jorge Andrade. O maior grupo (30%) de participantes será formado por idosos.
O estudo também prevê a constituição de um grupo comparador, que receberá placebo. Assim, os participantes serão divididos por sorteio entre aqueles que receberão placebo e os que tomarão a vacina. “Trata-se de um estudo ‘duplo cego’, em que nem os pacientes nem os investigadores sabem o que tomaram. Todos serão acompanhados durante 24 meses para avaliarmos se houve diferença entre os grupos na frequência da infecção e na gravidade das manifestações clínicas, caso sejam infectados, além de verificarmos se houve reações adversas. Após a confirmação da eficácia, os voluntários da pesquisa que receberam o placebo serão priorizados na distribuição da vacina efetiva”, afirma Jorge Pinto.
Corrida
A corrida por uma vacina capaz de combater a pandemia está cada vez mais acirrada, e a ansiedade por essa reposta é grande. Mas o professor Jorge Pinto alerta que “a saúde pública é prioridade e não se deve deixar de cuidar da segurança”. De acordo com ele, a duração desse estudo, prevista para dois anos, segue a recomendação para ensaios de fase 3 de vacinas. Caso comprovada a eficácia e segurança durante as etapas, ela pode começar a ser distribuída de forma emergencial antes desse período.
“Um estudo de eficácia de vacina, do descobrimento e desenvolvimento à incorporação dela no calendário vacinal, leva, em média, dez anos. As iniciativas pela vacina de covid-19 estão acelerando muito esse tempo de desenvolvimento, o que é vantajoso do ponto de vista científico e tem grande impacto na saúde mundial”, comenta Jorge Andrade. “Por outro lado, não se pode descuidar da segurança. A vacina é desenvolvida para prevenir a população saudável de uma doença, então esse produto não pode, em hipótese alguma, causar danos. Ele também deve ser seguro para a população acima dos 65 anos, crianças e gestantes”, contrapõe.
De acordo com o professor, uma vacina liberada de maneira prematura pode causar uma situação reversa, gerando desconfiança na população em relação a vacinas contra a covid-19 e conta outras doenças, fortalecendo movimentos antivacinas.
“Talvez cheguemos à conclusão de que necessitamos de mais de uma vacina contra a covid-19, que elas precisam ser combinadas, como acontece com a de poliomielite, por exemplo, em que há a gotinha com o vírus atenuado e aquela de aplicação intramuscular com o vírus inativado”, projeta o coordenador do estudo.
Como se candidatar
As pessoas acima de 18 anos devem responder ao questionário on-line, que servirá como pré-triagem. No mesmo formulário, elas também devem indicar se possuem disponibilidade de comparecer ao Hospital das Clínicas da UFMG, onde será feita a aplicação da vacina, caso selecionadas.
Para qualquer informação adicional, deve-se entrar em contato com a equipe da pesquisa pelos telefones (31) 3409-9822, 3409-9111 e 98205-5076 (whatsapp) ou pelo e-mail COV3001.UFMG@gmail.com.