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Legado do bolsonarismo: pela primeira vez, Brasil registrou queda na produção científica

O número de artigos científicos publicados no Brasil em 2022 diminuiu 7,4% em relação a 2021. Essa é a primeira vez que o país registra queda na produção científica. No mesmo período, a produção científica mundial aumentou 6,1%. As conclusões constam no relatório da Elsevier-Bori “2022: um ano de queda na produção científica para 23 países, inclusive o Brasil”, publicado na última segunda-feira (24/07).

Cabe comentar, ainda, que o relatório aponta o Brasil no topo da lista de países com maiores decréscimos na produção científica, equiparando-se apenas à Ucrânia. A diferença é que lá a população passa pelos horrores de um conflito militar. Enquanto aqui, durante o período apurado no relatório, nós enfrentávamos o autoritarismo de um governo negacionista que centrava fogo na produção de conhecimento científico no país.

Ao longo do governo Bolsonaro, a Universidade Pública, a principal produtora de Ciência no país, foi vítima da diminuição sistemática e criminosa de seus recursos financeiros, passando por toda sorte de cortes, bloqueios e contingenciamentos. Realidade esta que também era vivenciada pelos institutos federais de ensino, assim como pelas agências de fomento à pesquisa. A crise orçamentária chegou ao ponto dessas instituições terem dificuldade de arcar, até mesmo, com as despesas básicas de funcionamento. Assim, o risco de serem obrigadas a fechar as portas se tornou cotidiano.

E como se o subfinanciamento não fosse  suficiente, a Ciência no Brasil também  enfrentava o obscurantismo do bolsonarismo. Algo com o que, ainda hoje, precisamos lidar. Estudantes, docentes e pesquisadores foram alvo de uma verdadeira campanha de difamação, assim como os resultados das pesquisas científicas foram colocados em descrédito. E nem mesmo as provas concretas da importância da pesquisa científica, como no caso do enfrentamento à pandemia de Covid-19, foram capazes de convencer essas pessoas da necessidade de investimentos públicos no setor.

Diante desse cenário,  convivemos entre os anos de 2020 e 2022 com o fenômeno da “fuga de cérebros”. Ou seja, a migração de pesquisadores e egressos das universidades brasileiras  para outros países, em busca de condições mais adequadas para desenvolverem as suas pesquisas. Assim, recebemos com positividade a maneira como o atual governo federal tem tratado o setor, como no caso do reajuste das bolsas de pós-graduação e da graduação, a exemplo das bolsas de iniciação científica e extensão, o que contribui para a permanência dos estudantes na universidade. Da mesma forma, para os  docentes, o reajuste nas bolsas por produtividade é um estímulo a mais para o trabalho com a pesquisa, uma vez que estavam sem aumento há dez anos.

Apesar do otimismo, contudo, precisamos manter a crítica. O atual patamar das áreas de CT&I no país ainda está longe do ideal. Por tudo isso, devemos continuar levantando a bandeira da recomposição orçamentária da Universidade Pública, bem como das IFES e das agências de fomento. E não podemos perder de vista a necessidade de implementação de políticas públicas de valorização da ciência. Após anos de retrocesso, é preciso lutar para que a Ciência brasileira volte a crescer e tenha forças para ir ainda mais longe.